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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 7. Psicologia do Ensino e da Aprendizagem

A INDISCIPLINA ESCOLAR NA CONCEPÇÃO DOS DOCENTES: SUBSÍDIOS PARA A MELHORIA DA RELAÇÃO ESCOLA-PROFESSOR-ALUNO

Regiane Sbroion de Carvalho 1
Cárita Portilho de Lima 1
Cirlei Evangelista Silva Souza 1, 2
(1. Instituto de Psicologia da UFU; 2. Universidade Presidente Antônio Carlos-UNIPAC)
INTRODUÇÃO:

 

A educação é um fenômeno multifacetado composto por um conjunto complexo de perspectivas e enfoques, pois se trata de uma prática de intervenção na realidade social. Por isso, a prática pedagógica é influenciada por múltiplas dimensões: social, política, filosófica, ética, história e, dentre elas, psicológica.

Os estudos psicológicos procuram compreender muitos aspectos do cotidiano escolar, como o sucesso e o fracasso; problemas de aprendizagem; preconceito, drogas, sexualidade, transtornos emocionais e, ainda, a indisciplina, aspecto da realidade educacional escolhido para as discussões deste trabalho.

A questão da indisciplina deixou de ser um evento particular no cotidiano das escolas, para se tornar um dos grandes problemas escolares da atualidade, por ser considerado um obstáculo para um bom processo de aprendizagem.

Neste sentido, analisaremos este fenômeno a partir do olhar do professor, por acreditarmos que eles vivenciam cotidianamente as contradições de um sistema educacional que possui tantas dificuldades, buscando, na prática pedagógica diária, saídas para escolarizar seus alunos, tornando-se, então, agentes capazes de promover as transformações necessárias.

            Assim, nosso objetivo foi verificar quais são as concepções de professores sobre a indisciplina escolar, e partir das mesmas, propor alternativas para a melhoria da qualidade das relações estabelecidas entre os sujeitos envolvidos no ambiente escolar, que interferem no processo de aprendizagem do aluno.

METODOLOGIA:

A instituição escolhida para a realização da pesquisa foi uma escola estadual localizada em uma região periférica da cidade de Uberlândia/MG, que em contato anterior já havia apresentado à equipe de Psicologia suas dificuldades para lidar com a questão da indisciplina na escola.

Desta participaram seis professoras, que têm, em média, 51 anos de idade e atendem a crianças da faixa etária de seis a treze anos, que freqüentam as séries iniciais do ensino fundamental na referida escola. Com estas, foi realizada uma entrevista semi-estruturada em que foram levantados dados a respeito da identificação das docentes, percurso de formação das mesmas, além de questões relacionadas ao tema indisciplina escolar como: quais são as concepções dos educadores acerca da indisciplina? quais são os fatores que interferem na indisciplina escolar? quais são as medidas adotadas pelo professor para a resolução da questão? como a escola lida com a indisciplina escolar? como o professor acha que pode colaborar para o enfrentamento do problema? como o psicólogo escolar poderia atuar para o enfrentamento da indisciplina escolar?

As professoras foram entrevistadas individualmente em uma sala reservada da própria instituição educacional, por aproximadamente cinqüenta minutos, sendo que as entrevistas foram gravadas e depois transcritas para a análise dos dados. Por fim, foi elaborado e implementado um projeto de intervenção na escola, com vistas a colaborar no enfretamento da questão da indisciplina.

 

 

RESULTADOS:

Os dados colhidos na entrevista nos mostram que as professoras, em sua maioria, acreditam ser a indisciplina um mau comportamento, ressaltando que este fator tem relação direta com a família e o professor.

Sobre os fatores que interferem na mesma, todas as participantes consideraram ser a família o principal, explicando que a desestruturação desta pode colaborar para que a criança tenha dificuldades em ter limites, já que lhe faltam modelos a seguir ou orientação por parte dos adultos.

            Quanto às medidas adotadas pelo professor para a resolução da questão, elas alegaram que a atitude a ser tomada dependerá da criança, mas citaram os castigos, a conversa, os acordos entre professor e aluno como possíveis formas de atuação. Já em relação à escola, elas foram unânimes ao afirmar que inicialmente a família é chamada para discutir a situação da criança e, somente, em último caso faz-se a opção pela suspensão ou expulsão da mesma.

            Foram citadas pelas professoras várias sugestões sobre como o professor pode colaborar para o enfrentamento do problema, como melhoria das aulas tornando-as mais motivadoras, a parceria entre professora, família e equipe de direção da escola, conversa amigável com a criança na tentativa de se conhecer a origem do problema.

            As docentes acreditam que o psicólogo poderia colaborar para o enfrentamento da indisciplina, oferecendo um atendimento direto às crianças com problemas disciplinares, bem como desenvolver trabalhos com a família das mesmas.

CONCLUSÕES:

Nossa pesquisa nos esclarece que sob a ótica do professor, invariavelmente, os principais fatores para o aparecimento da indisciplina, localizam-se na criança e/ou na família, sendo esta última o fator determinante para que tal fenômeno apareça.

Sabemos que esta concepção não está totalmente correta, visto que sabemos ser a indisciplina um problema de cunho psicológico/moral, não sendo possível creditá-lo somente ao aluno e à sua família. Por outro lado, não devemos responsabilizar a estrutura escolar e nem tampouco as ações empreendidas pelo professor, considerando-a um problema didático-pedagógico.

 A indisciplina deve ser tomada como um fenômeno que envolve a tríade professor, aluno e escola, sendo então necessária ser repensada a relação professor-aluno, considerando-a como o núcleo do trabalho pedagógico.

Acreditamos que se atuarmos na melhoria da qualidade desta, estaremos colaborando para o estabelecimento de novas estratégias para o convívio, bem como para a instauração de uma conduta mais democrática por parte de professores e alunos.

Sugerimos que seja realizado um planejamento conjunto com a comunidade escolar das ações a serem implementadas nesta, que visem fortalecer o respeito mútuo, valorizar a diversidade de interesses pessoais dentro das escolas, tendo esta que favorecer a formação de seres capazes de atuar com liberdade, justiça, respeito a si mesmo e à sociedade.

 
Palavras-chave: Indisciplina escolar; Relação professor-aluno; Psicologia escolar.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006