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C. Ciências Biológicas - 3. Bioquímica - 6. Bioquímica
EFEITOS DO AGROTÓXICO ROUNDUP NO Paramecium multimicronucleatum (PROTOZOÁRO CILIADO)
Clarice Borges Matos 1, 3
Fernanda Horta Pereira 1, 3
Fernando Jakitsch Medina 1, 3
Anna Bolívar Victor Costa 1, 3
Paula Suzanna Prado 1, 3
Carlos Renato Machado 1, 2
(1. Instituto de Ciências Biológicas (ICB)/ UFMG; 2. Orientador: Carlos Renato Machado-Departamento de Bioquímica e Imunologia/ICB ; 3. Laboratório de Práticas de Bioquímica/ICB)
INTRODUÇÃO:
O Roundup é um herbicida de largo uso mundial; há inclusive uma soja transgênica que resiste aos seus efeitos nocivos. O princípio ativo do Roundup é o Glifosato, substância derivada do aminoácido Glicina, o que sugere a existência de competição entre ambas as substâncias por mesmo sítio ativo. É sabido que um dos genes modificados na soja transgênica, o CP4 EPSPS, codifica uma enzima (EPSPS) que catalisa reações da síntese de 3 aminoácidos aromáticos: Triptofano, Tirosina e Fenilalanina. Assim, estes aminoácidos teriam importância no metabolismo de vegetais, bem como no de microrganismos (Lehninger, 2002). Assumindo-se que a Glicina tenha papel relevante na síntese dos 3 aminoácidos, a competição com o glifosato seria muito prejudicial, pois inibiria a via. O que aconteceria então com outros organismos em contato com o Roundup ? Há outros seres ameaçados pelo herbicida? Esta é a idéia central deste projeto. O organismo escolhido foi um protozoário ciliado da espécie Paramecium multimicronucleatum (paramécio), devido a seu cultivo fácil, seu tamanho relativamente grande, que agiliza a execução da metodologia e permite um maior controle de seu desenvolvimento, e, principalmente, à rapidez com que responde a estímulos químicos. Os testes feitos visam verificar qual é a concentração de Roundup que mata 50% dos paramécios em teste (DL 50, 0,25h), o efeito da introdução de glicina, dos três aminoácidos juntos, em diferentes concentrações, em soluções com o agrotóxico.
METODOLOGIA:
As culturas de paramécio são preparadas em tubos de ensaios cheios com água filtrada e 3 ou 4 grãos de arroz com casca. A decomposição do arroz propiciará o aumento das bactérias ali presentes, que servirão de alimento para os paramécios. Depois de 2 dias adiciona-se a cada tubo 7-10 paramécios, aguarda-se uma semana para que se repliquem e a cultura estará pronta para uso. Em todos os experimentos a solução-amostra tem o total de 12 mL, e a contagem se dá após 15 minutos. No experimento 1, o controle é feito de 3 mL de uma das culturas de paramécio e 9 mL de água filtrada. O teste tem solução com 3 mL de cultura, x mL de Roundup e (9-x) mL de água filtrada. No experimento 2, o controle tem 3 mL de cultura, y mL de glicina, (9-y) mL de água filtrada, e o teste leva 3 mL de cultura, x de Roundup , y de glicina e (9-x-y) de água filtrada. O experimento 3 segue o padrão do 2, apenas substitui-se a glicina pelos 3 aminoácidos em questão. Os valores de x e y dependerão das concentrações utilizadas no preparo de cada experimento. O método de contagem é o que foi utilizado por B. J. Finlay, Johanna Laybourn e I. Strachan em "A Tecnique for the Enumeration of Benthic Ciliated Protozoa": pinga-se gotas de 5 microlitros da amostra em lâminas, que serão observadas na lupa, até que se encontre 150 paramécios. Contando-se o número de gotas em que os 150 foram encontrados, é possível estimar quantos paramécios há na amostra. Neste trabalho, todas as contagens foram feitas em duplicata.
RESULTADOS:
Após tentativas com várias concentrações, foi observado que a DL 50, 0,25h é cerca de 10mg/L de Roundup , que foi a concentração utilizada nos testes, embora também tenha-se testado a 12mg/L. A adição de Glicina 10 e 100 vezes mais concentrada que o Roundup diminuiu significativamente a mortalidade dos paramécios, e o fez de uma forma crescente. Na concentração de 10x, a mortalidade caiu de 48 (só com o agrotóxico) para 47,6%, e na de 100x caiu para 33,5%. O mesmo ocorreu quando se adicionou os aminoácidos Triptofano,Tirosina e Fenilalanina, só que de maneira ainda mais acentuada. Estando 10 vezes mais concentrados que o Roundup , os aminoácidos proporcionaram queda na mortalidade de 48 para 12,5%, e estando mais de 10 vezes mais concentrados, a mortalidade foi para 11%. É importante destacar o experimento feito sob a concentração de 30mg/L de Roundup , onde 100% dos protozoários morreram independente da adição dos aminoácidos.
CONCLUSÕES:
De fato Glicina e Glifosato são competidores por sítios ativos iguais, já que a mortalidade dos paramécios é reduzida quanto mais Glicina se adiciona. Como a adição dos 3 aminoácidos diminuiu muito a mortalidade, conclui-se que pelo menos um dos 3 é de fundamental importância e tem sua síntese interrompida pela ação do agrotóxico. Os paramécios poderiam então absorver substâncias do ambiente pela membrana celular. Talvez por já absorverem o aminoácido pronto tenha havido tanta diferença na queda de mortalidade entre experimentos 2 e 3. Viu-se que o agrotóxico age no paramécio como age nas plantas, afetando vias de biossíntese de aminoácidos. A morte de 100% dos paramécios sob 30mg/L de Roundup sugere que: a concentração foi tão alta que os aminoácidos adicionados não puderam agir, ou o herbicida tem ação sobre outras vias não consideradas neste trabalho. De qualquer modo, a mortalidade de 100%, bem como a própria DL50 é alarmante, já que a concentração de Roundup permitida pela Portaria no 888 de 06/11/1998 da Secretaria Nacional de Vigilância Sanitária é de 100mg/L. Mais experimentos poderiam fornecer dados mais precisos, mas é claro que esse limite está muito acima do que a resistência dos paramécios, o que por si é preocupante porque vários organismos aquáticos se alimentam dele, podendo haver um desequilíbrio ecológico. E, se o agrotóxico afeta o paramécio pode também afetar diretamente outros organismos aquáticos e do solo (é pelo solo que o Roundup chega às águas).
 
Palavras-chave: Paramécio; Roundup ; Aminoácidos.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006