IMPRIMIR VOLTAR
A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 2. Química Ambiental

ANÁLISE DA OCORRÊNCIA DE METAIS PESADOS NA OSTRA JAPONESA E NO MEXILHÃO NA ENSEADA DO BRITO - SC - BRASIL

Rachel Faverzani Magnago 1
Henrique Raupp Falcão de Mello 1
(1. Curso de Engenharia Ambiental, Ponte do Imaruim, Palhoça / Unisul)
INTRODUÇÃO:

A malacocultura brasileira cultiva quatro espécies: mexilhão (Perna perna); ostra japonesa (Crassostrea gigas); ostra nativa (Crassostrea rhizophorae) e vieira (Nodipecten nodosus). Da produção nacional, Santa Catarina é responsável por 90% do cultivo de ostras e 93% de mexilhões. A Epagri acredita ser a produção pouco expressiva, face ao potencial da costa catarinense. As águas costeiras estão sujeitas à entrada de diversos contaminantes e rejeitos de todos os tipos (orgânicos e/ou inorgânicos). Destacam-se os metais pesados, componente natural da hidrosfera, mas que vêm tendo seus ciclos geoquímicos alterados devido às atividades antropogênicas. Os metais pesados estão dentre as várias substâncias que podem provocar problemas de intoxicação humana pela ingestão de alimentos contaminados. Cerca de mil produtores de moluscos apostam nesta atividade como prática de subsistência. O estudo de metais pesados em ostras e mexilhões justificam-se uma vez que nas áreas costeiras são encontradas os principais consumidores de proteínas de origem marinha. E estes moluscos bivalves tem a capacidade de concentrar em seus tecidos metais tóxicos (não essenciais), como por exemplo Cd, Ag, Hg, Pb, Cr, e metais essenciais, como Cu, Zn, Mn, Co. O estudo objetivou avaliar o nível de ocorrência dos metais pesados: Hg, Cd, Pb, Zn e As na ostra japonesa e no mexilhão da localidade da Enseada do Brito, Palhoça - SC - Brasil, com vistas na qualidade dos moluscos e na saúde dos consumidores.

METODOLOGIA:
Analisou-se duas amostras, uma de ostra e uma de mexilhão coletadas em dezembro de 2005. As amostras analisadas foram uma dúzia de ostras e uma dúzia de mexilhões de tamanho médio (entre 5 e 10 cm de comprimento), separadas de lotes destinados à venda, cultivados na região da Enseada do Brito. Após a coleta, as amostras foram acondicionadas em sacos plásticos, colocados em caixas de isopor com gelo e transportadas para o laboratório, estas chegaram com as valvas firmemente fechadas. No laboratório as amostras foram lavadas com água corrente e abertas utilizando uma pequena faca plástica. Os tecidos moles dos moluscos foram cuidadosamente separados da concha, utilizando-se uma espátula plástica, processados em multiprocessador e imediatamente analisadas. Os metais Hg, As e Pb foram determinados por espectrometria de absorção atômica com forno de grafite e os metais Cd e Zn espectrometria de absorção atômica com chama. Os valores encontrados foram comparados com os limites máximos estabelecidos para peixes e produtos de pesca estabelecidos pelo Ministério da Saúde (Decreto 55871/65 e Portaria No 685/98).
RESULTADOS:
Os valores quantificação para as amostras de ostra dos metais Cd, Pb, Zn e As foram, respectivamente, 0,94, 0,42, 121,60 e 6,22 mg/Kg. Para as amostras de mexilhão, os valores quantificados dos metais Cd, Pb, Zn e As foram, respectivamente, 4,23, 1,21, 93,16 e 7,21 mg/Kg. Os valores limites estabelecidos pelo Ministério da Saúde para os metais Hg, Cd, Pb, Zn e As são, respectivamente 0,50, 1,0, 2,0, 50,0 e 1,0 mg/Kg. Não foi detectado Hg tanto na amostra de ostra como na de mexilhão. Os valores de ocorrência de Pb nas amostras de ostra e mexilhão encontram-se abaixo dos limites máximos preconizados pela legislação brasileira (Portaria No 685/98), respectivamente 0,42 e 1,21 mg/Kg, sendo o padrão estabelecido de 2,0 mg/Kg. Os valores quantificados para o As foi de 6,22 mg/Kg para as ostras e de 7,21 mg/Kg para os mexilhões, estes valores encontram-se acima do limite estabelecido pela legislação brasileira, que é de 1,0 mg/Kg. O valor de ocorrência de Cd encontrado nas ostras foi de 0,94 mg/Kg, estando satisfatório e de acordo com Portaria No 685/98. Enquanto que o valor encontrado nos mexilhões foi de 4,23 mg/Kg, estando acima do limite estabelecido de 1,0 mg/Kg. Para o Zn, tanto para ostras como mexilhão, os valores encontram-se acima do limite estabelecido (Decreto 55871/65), que é de 50,0 mg/Kg, para qualquer tipo de alimento, exceto bebidas alcoólicas e sucos. Os valores encontrados de Zn nas ostras foi de 121,60 mg/Kg e para mexilhões foi de 93,16 mg/Kg.
CONCLUSÕES:
Os metais Pb e Hg são tóxicos para seres humanos, e o nível de ocorrência destes esta dentro dos padrões legais, tanto para as ostras como para os mexilhões. Os índices dos metais As e Zn estão acima dos padrões. Na Austrália o limite máximo permitido de Zn para ostras é de 1000 mg/Kg, devido sua importância para o desenvolvimento humano. As ostras e os mexilhões são fontes de Zn, e de acordo com os resultados encontrados, a ingestão de cerca de 160 mg destes moluscos supre a ingestão diária recomendada pelo Ministério da Saúde (1998). O nível de Cd encontrado nas ostras esta abaixo do padrão, enquanto que o valor encontrado para mexilhões esta acima do recomendado pelo Ministério da Saúde. Após a observação da realidade na qual a comunidade da Enseada do Brito encontra-se inserida constatou-se a ausência Estação de Tratamento de Esgoto. Outro agravante é devido sua localização geográfica, que se encontra na baia sul da Ilha de Santa Catarina. Nessa bacia é despejado diariamente efluentes das cidades de São Jose, Palhoça, entre outras. A Bacia Hidrográfica de Cubatão do Sul tem suas vertentes para a Baia Sul, sendo que seus rios passam por zonas agrícolas, de mineração e industriais. Frente a este diagnóstico e dos resultados encontrados para os metais estudados, deve-se ter cuidado com as regiões de cultivo de moluscos. É notório que a contaminação das águas de cultivo pelo despejo de esgoto urbano e industrial pode comprometer a malacocultura e a saúde dos consumidores.
Instituição de fomento: UNISUL
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: metal-pesado; ostras; mexilhão.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006