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E. Ciências Agrárias - 7. Ciência e Tecnologia de Alimentos - 2. Engenharia de Alimentos

AVALIAÇÃO DO CONTEÚDO FENÓLICO DE EXTRATOS DO SUBPRODUTO DO PROCESSAMENTO DE SUCO CONCENTRADO DE MAÇÃ (Mallus comunis).

Daniel Schiochet Nasato 1
Érika Taciana Santana Ribeiro 1
Roseanne Fett 2
Sandra Regina Salvador Ferreira 1
(1. Dep. de Eng. Química e Eng. de Alimentos, Latesc, Florianópolis-SC, UFSC.; 2. Dep. de Ciências dos Alimentos, QBial, Centro de Ciências Agrárias, UFSC.)
INTRODUÇÃO:

            A cultura da maçã é uma atividade econômica consolidada na Região Sul do Brasil, contribuindo com cerca de 1,5 % da produção mundial. No final da década de 80 e início de 90 começou a surgir o interesse das indústrias em aproveitar a crescente demanda mundial por sucos concentrados de maçã. O resíduo da extração do suco (bagaço) apresenta-se como o principal subproduto gerado na agroindústria da maçã. No Brasil, este bagaço é dispensado no solo como adubo orgânico ou utilizado na alimentação animal. Dentre os antioxidantes naturais presentes no reino vegetal, os fitoquímicos, os compostos fenólicos se destacam pela sua capacidade em seqüestrar radicais livres e inibir reações de oxidação, sendo capazes de prevenir os processos oxidativos tanto em alimentos quanto em organismos vivos. Esses constituintes são encontrados em ervas, especiarias, frutas e hortaliças. Os antioxidantes sintéticos, largamente utilizados pela indústria de alimentos, podem vir a causar danos ao organismo, tornando necessária sua substituição por substâncias naturais. Nesta busca por substituintes naturais para antioxidantes sintéticos, investigamos neste trabalho a presença dos compostos fenólicos no bagaço oriundo do processo de fabricação de suco de maçã concentrado, por meio de extratos obtidos por técnica de extração à baixa pressão, utilizando solventes polares e apolares na tentativa de selecionar os extratos potenciais para exploração de compostos biologicamente ativos.

METODOLOGIA:

            O bagaço úmido de maçã fornecido pela indústria Fischer (Fraiburgo - SC), foi coletado após a etapa de prensagem. O bagaço foi mantido à -18º C até a etapa de secagem. O conteúdo de umidade da amostra foi determinado em estufa à 105ºC. A secagem foi conduzida em estufa com circulação de ar à (40 ± 2)ºC por 36 horas. O bagaço seco foi moído em liquidificador doméstico e o tamanho das partículas determinado com uma série de peneiras sob agitação mecânica e selecionada a fração -20/+48 mesh. Os solventes, hexano, metanol, acetona, etanol e água, foram selecionados por suas diferentes polaridades para serem empregados na extração dos compostos solúveis presentes no bagaço da maçã. A metodologia empregada para a extração foi do tipo Soxhlet, com extração por 6 horas, utilizando 5g de amostra e 150ml de solvente. Os extratos, obtidos em triplicata, foram analisados quantitativamente quanto ao seu conteúdo fenólico, de acordo com o método do Folin-Ciocalteu, reagente adquirido da Fluka, usando o ácido gálico como padrão e os resultados expressos em equivalente ácido gálico GAE. Os resultados obtidos foram submetidos à análise de variância e as médias comparadas pelo teste de Tukey ao nível de 5% de significância. Os solventes orgânicos utilizados apresentaram grau de pureza de 99%. Os outros reagentes estavam disponíveis comercialmente e possuíam graus analíticos de pureza, sendo utilizados sem purificação prévia.

RESULTADOS:

            O bagaço úmido de maçã apresentou umidade inicial de 86%, sendo esta reduzida a 11,46% ± 0,01, em base úmida, após 36 horas de secagem. Foram usadas partículas com tamanho compreendido entre 20 e 48 mesh. Os rendimentos dos extratos, expressos em %, apresentaram os seguintes resultados médios: extrato etanólico obteve o maior rendimento (38,48 ± 1,50), seguido do extrato aquoso (30,31 ± 2,04), extrato metanólico (28,74 ± 0,50), extrato hexanólico (9,29 ± 2,95) e extrato de acetona (9,22 ± 0,04), respondendo pelo menor rendimento. Pôde-se observar uma maior afinidade da amostra pelos solventes de maior polaridade.

            O conteúdo de fenólicos totais determinado pelo método Folin-Ciocalteu, expressos em mg/g em GAE, variou entre (13,66 ± 1,50) para extrato metanólico, (9,96 ± 0,59) para extrato etanólico, (7,08 ± 0,48) para extrato de hexano, (6,63 ± 0,80) para extrato de acetona e (5,20 ± 1,49) para extrato aquoso.   

            De acordo com a análise estatística, pode-se observar um maior conteúdo de polifénois no extrato metanólico, que diferiu estatisticamente dos demais extratos avaliados. Os extratos de hexano, aquoso e de acetona mostraram-se similares na avaliação do conteúdo fenólico, enquanto que o extrato etanólico diferiu dos extratos aquoso e de acetona.
CONCLUSÕES:

            Os resultados mostram um maior rendimento de extração para os solventes polares, provavelmente devido a natureza polar dos compostos presentes no bagaço da maçã. Consequentemente foi observada a maior concentração de compostos fenólicos (maior GAE) nos extratos obtidos com solventes polares, como o metanol. A escolha do solvente, no entanto, deve levar em consideração também a sua toxicidade. Considerando o maior rendimento na extração e a menor toxicidade do etanol em relação ao metanol, pode-se sugerir a escolha do mesmo como melhor solvente para as extrações, mesmo tendo o extrato metanólico apresentado um conteúdo fenólico 27,09% maior que o etanólico.

            Os valores obtidos sugerem uma correlação positiva entre o conteúdo fenólico com as substâncias bioativas procuradas. No entanto uma investigação mais específica, no sentido de quantificar a atividade antioxidante destes extratos, faz-se necessária.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Polifenóis; Resíduo; Soxhlet.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006