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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana

AS PEDRAS NO CAMINHO: ANÁLISE DA ACESSIBILIDADE NA AVENIDA NORTE – RECIFE / PE

José Augusto Menezes de Santana 1
Pedro Ricardo da Cunha Nóbrega  1
Edvânia Tôrres Aguiar Gomes 2
(1. Alunos Bolsistas do PET-Geografia/UFPE; 2. Professora Doutora do Departamento de Ciências Geográficas, Orientadora / UFPE)
INTRODUÇÃO:

Localizada na porção norte da cidade do Recife, a Avenida Norte corta 15 (quinze) bairros com a mais diversa composição social, o que atribui à via uma condição de eixo paradoxal, pois de acordo com o trecho analisado é possível identificar estruturas, formas, funções e processos os mais distintos. Com uma extensão de 8,3 km, a avenida, inicia-se na Rua da Aurora, bairro de Santo Amaro, e se estende até a Avenida da Recuperação, no Córrego do Jenipapo. Originada na década de 1950, a Avenida Norte foi constituída a partir de um antigo traçado (Estrada de Ferro de Limoeiro) o que inevitavelmente gera algumas heranças em seu uso e em sua materialidade. São objetivos da pesquisa: Entender como se dá o processo de circulação dos indivíduos e sua relação com a distribuição espacial dos objetos no espaço urbano; Identificar as reais condições do acesso tanto das calçadas, como da avenida. Assim, é possível, ao se analisar as formas existentes, ter uma noção exata das funções que elas exercem e quais os seus nexos para a sociedade que a utiliza. Entrementes, essas formas nem sempre estão dispostas, no espaço urbano, de uma maneira que facilite o seu uso e o seu acesso. Na esteira dessas observações é possível identificar a análise da acessibilidade urbana como uma medida urgente para dar condições de acesso para todos os cidadãos.

METODOLOGIA:

Essa pesquisa está inserida numa pesquisa maior elaborada pelo Programa de Educação Tutorial em Geografia da Universidade Federal de Pernambuco acerca da acessibilidade urbana nos principais eixos de penetração da cidade do Recife. Os procedimentos metodológicos foram instituídos em três (3) etapas: (1) Trabalho de Gabinete: Pesquisa bibliográfica, para a o armazenamento de referências, conceitos e uma reflexão teórica; Levantamento histórico da Avenida Norte; Análise e co-relacionamento de dados oficiais e dados empíricos; Levantamento iconográfico (mapas, fotos, figuras), visto que esses elementos são de suma importância para a análise geográfica; (2) Trabalho de Campo: Observação da área em estudo com a finalidade de elaborar croquis e fotografias; Visitas orientadas em órgãos gestores com a intenção de obter dados oficiais, legislações, além de entrevistas com os devidos responsáveis; Confronto entre as normas estabelecidas pela NBR – 9050 e a realidade percebida in loco e (3) análise e discussão dos resultados.

RESULTADOS:
A Avenida Norte é designada como um eixo de penetração centro-norte da cidade do Recife o que evidencia a grande circulação de pessoas e materiais em todo o seu percurso. O grande número de habitações e de pessoas evoca uma necessidade de que os equipamentos urbanos estejam em harmonia com o espaço urbano para garantir o acesso da população a essa via. No entanto, a maioria dos equipamentos urbanos se encontra fora dos padrões estabelecidos pela ABNT / NBR – 9050. A maior parte das calçadas existente na avenida não apresenta capeamento, os pisos que estão cobertos em sua maioria não são regulares ou não evitam a trepidação. Esses pisos ora são elaborados com material cerâmico (que quando molhado diminui o atrito com o solado do pé e provoca acidentes), ora não apresentam preenchimento completo (ocasionando buracos nas calçadas o que dificultada a circulação livre de pessoas). O mobiliário urbano está disposto de maneira não sistemática. Em muitos casos ele invade o passeio público criando obstáculos para a circulação de pessoas. Em toda a Avenida Norte não foi encontrado nenhum telefone público com adequações pra pessoas portadoras de deficiência, e não raro estes estão localizados em áreas que dificultam o acesso a eles ou a calçada em que foram instalados. Em relação à arborização foi possível registrar conflitos em relação à rede elétrica e as árvores, e o sistema radicular das mesmas e a calçada.
CONCLUSÕES:
Ao final dessa etapa se pôde perceber que ainda existem muitas pedras no caminho da acessibilidade na Avenida Norte. A grande quantidade de pessoas que habitam e circulam não dispõe de um sistema de equipamentos urbanos voltados para a garantia do acesso. As calçadas estão em estagio avançado de degradação fazendo com que o pedestre dispute, em muitos trechos, o espaço das vias com os automóveis. Os conflitos diagnosticados entre a rede de energia elétrica e o espaço das calçadas e entre estes e o sistema radicular das arvores faz com que essa zona (as calçadas) se comporte como uma área de atenção especial. A resolução de problemas neste espaço, encontra entraves uma vez que a sua gestão não fica clara. O poder público e o privado (os moradores, proprietários de imóveis) não assumem a responsabilidade para solucionar os problemas. A solução ou até o encaminhamento de propostas que mitiguem a falta de acessibilidade são de fato polêmicas e de difícil aplicabilidade. A materialização das formas do presente é resultado da acumulação sucessiva do trabalho através do tempo. A redefinição de espaços, o resgate de áreas de calçada apropriada exige um esforço muito grande de forças. E, inevitavelmente gera conflitos que muitas vezes são difíceis de serem contornados. O movimento de resgate da acessibilidade deve brotar da sociedade e consorcia-se com o poder público para que assim as reivindicações percam o caráter fluido.
Instituição de fomento: MEC/SESu. PET-Geografia
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Geografia Urbana; Acessibilidade Urbana; Vias de Circulação.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006