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F. Ciências Sociais Aplicadas - 6. Planejamento Urbano e Regional - 4. Planejamento Urbano e Regional

LEGISLAÇÃO URBANISTÍCA E OCUPAÇÃO EM ÁREAS DE ENCOSTAS: O CASO DO MACIÇO CENTRAL DE FLORIANÓPOLIS.

Margareth Afeche Pimenta  1
Maria Lucia Hermann  2
Fernanda Maria Lonardoni  3
Beatriz Francalacci  4
Joana Karla da Rosa  5
Nora Alejandra Patrícia Rebollar  6
(1. Profª Drª Depto Arquitetura e Urbanismo / Universidade Federal de Santa Catarina; 2. Profª Drª Depto Geociências / Universidade Federal de Santa Catarina; 3. Mestranda do programa PGAU - cidade / Universidade Federal de Santa Catarina; 4. Mestranda do programa PGAU - cidade / Universidade Federal de Santa Catarina; 5. Mestranda do programa PGAU - cidade / Universidade Federal de Santa Catarina; 6. Doutoranda do PPGEC / Universidade Federal de Santa Catarina)
INTRODUÇÃO:

A ocupação de áreas de risco geoambiental em Florianópolis atinge proporções alarmantes. A falta de alternativas habitacionais coloca como solução à população de baixa renda apenas a invasão/ocupação de áreas inadequadas para habitação, entre as quais, destacam-se as encostas de morros.   

Estes assentamentos se desenvolvem alheios às legislações urbanas. Ao contrário, ratificam o distanciamento entre o que propõe a lei e os resultados reais no espaço. Por outro lado, a proposta de legalização destas áreas informais através da implantação das ZEIS – Zonas Especiais de Interesse Social - aponta para a fragilidade ambiental destes sítios e a precariedade construtiva dos assentamentos, e coloca em discussão os critérios e condições para esta importante deliberação. 

Em Florianópolis, o Maciço Central do Morro da Cruz é ocupado essencialmente por população de baixa renda, que se implantou ilegalmente em Áreas de Preservação Permanente - APP. A comunidade do Alto da Caieira, objeto de estudo deste trabalho, localiza-se na porção superior do Maciço Central, sobre área de APP e com declividade superior a 45 %. 

Este trabalho pretende contribuir para identificar e diagnosticar as principais áreas de risco geoambiental desta comunidade e colaborar nas discussões do processo de implementação das ZEIS, como também de seus critérios. Além disso, faz crítica às questões que apontam para supressão dos interesses coletivos ou colocam em risco o meio ambiente e a população que habita estas áreas.
METODOLOGIA:

O trabalho foi elaborado a partir de uma análise de fontes secundárias e de uma avaliação da situação de riscos geoambientais existentes no Alto da Caieira.  

A análise bibliográfica desenvolve-se a partir de estudos já existentes sobre a temática, mapeamentos e análise de acervo aerofotogramétrico de órgãos municipais. O estudo realiza uma abordagem do processo histórico de ocupação do local, uma caracterização atual e um aprofundamento da legislação, como Plano Diretor e Zoneamento Municipal, enfocando principalmente as áreas de APP. Além disso, são analisados o mapa de localização e delimitação das ZEIS, assim como seu projeto de Lei, mapas de declividade e de riscos de ocupação da região.  

Os trabalhos de campo propiciaram um comparativo entre o que está proposto na legislação e o que acontece na prática. Estão baseados em informações coletadas através de visitas, entrevistas com moradores, levantamentos fotográficos e apontamento dos riscos construtivos e ambientais gerados a partir da ocupação urbana. Esta parte do trabalho pretende estabelecer as tipologias construtivas que vêm sendo desenvolvidas e os mecanismos através dos quais se dá a apropriação do espaço pela população, além da atuação do Estado perante a realidade vigente.
RESULTADOS:

O cruzamento das informações de fontes secundárias e análise das observações obtidas em campo resultou numa caracterização da área e das edificações com relação a: 

Tipologias construtivas: com identificação dos principais tipos de edificação existentes no local, material utilizado, técnica construtiva, forma de implantação no lote e relação com entorno imediato. 

Implantação do assentamento e edificações: expansão da ocupação em relação à declividade e curvas de nível, arruamento, níveis de desmatamento, movimentações de terra – cortes e aterros – relação entre edificação, lote e rua. 

Legislação: identificação e mapeamento das áreas que estão em desacordo com a legislação ambiental e urbana, destacando as que apresentam declividade acentuada ou situam-se acima das cotas permitidas.   

Sobre o Plano Diretor e a proposta de implantação das ZEIS, este estudo elaborou um quadro de considerações acerca de seus conteúdos, identificando suas incoerências e inviabilidades de acordo com a realidade constatada em campo. Isto permitiu uma avaliação da incapacidade de adequação da legislação com a ocupação e uso do solo.  

Por fim, foi elaborado um mapeamento das edificações suscetíveis a risco geoambiental cruzando as informações anteriores, identificando as principais áreas de risco na comunidade do Alto da Caieira, assim como as áreas que devem ser especialmente avaliadas e preservadas pela Legislação.
CONCLUSÕES:

As análises em campo mostraram que os parâmetros de segurança e qualidade construtivos no Alto da Caieira são precários.  Intervenções como cortes nos terrenos, desmatamento e movimentações de terra promovem, por um lado, a destruição do sítio e dos recursos naturais, e por outro, submetem aos riscos de deslizamento e desabamentos grande maioria das edificações.  

O poder público municipal se mostra omisso à realidade de risco que existe neste assentamento. As poucas obras de infra-estrutura na comunidade, como a abertura de ruas, mostraram que as intervenções da prefeitura, da mesma forma que a ocupação local, se dão de forma aleatória a planos e projetos. O que se observou em campo foi que as obras de arruamento realizadas terminam por agravar a situações de risco no Alto da Caieira.  

Por fim, ao consultar a legislação percebe-se que a maioria das edificações do Alto da Caieira está em pleno desacordo com o que se propõe para aquela área. As contradições não se devem, apenas, pelo fato de que as ocupações do local não estão de acordo com o que propõe a Lei, mas, sobretudo, porque o conteúdo de legislações que ainda estão em processo de aprovação, como é o caso das ZEIS, não oferece perspectivas sólidas e que possam garantir a qualidade de vida da população do alto da Caieira, sem que isto implique na supressão das áreas verdes remanescentes.
 
Palavras-chave: Ocupação de encostas; Legislação Urbanística; Maciço Central de Florianópolis.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006