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C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 1. Ecologia Aplicada

Estudo de Percepção Ambiental sobre o Parque Estadual das Araucárias, São Domingos-SC

Ezequiel Antonio de Moura 1
Natália Hanazaki 2
(1. Acadêmico de Ciências Biológicas. Universidade Federal de Santa Catarina; 2. Profª Depto. de Ecologia e Zoologia/ECZ. Universidade Federal de Santa Catarina)
INTRODUÇÃO:

Muitas estratégias de conservação da biodiversidade vem sendo adotadas mundialmente, dentre elas destaca-se a criação de Unidades de Conservação (UCs). Porém, mesmo com as diretrizes propostas pelo Sistema Nacional de Unidades de Conservação (SNUC) essas áreas protegidas vem sendo criadas de forma unilateral gerando uma série de conflitos. Diante deste cenário, os esforços conservacionistas devem considerar também a forma pela qual as populações humanas em seu interior e no entorno percebem e se relacionam com os recursos naturais.

Em virtude da maioria das UCs serem criadas alheias às populações locais, realizou-se um estudo de percepção ambiental sobre o Parque Estadual das Araucárias (PEA), no município de São Domingos-SC, a fim de compreender qual o significado do parque no cotidiano das pessoas. Almejou-se identificar o conhecimento que as pessoas possuem sobre o PEA, suas afinidades e expectativas em relação à UC, e os possíveis conflitos sócio-ambientais na relação dos moradores do entorno do PEA. A busca por informações relativas ao conhecimento das comunidades locais a respeito do PEA justificou-se na necessidade de compreender a dinâmica de interferência entre as populações humanas e o PEA. A partir disso, este estudo pode subsidiar a elaboração de estratégias de compatilização de ambos interesses: conservação da natureza e sobrevivência das comunidades locais. Ademais, buscaram-se subsídios para promover o envolvimento comunitário na missão de conservação do Parque.

METODOLOGIA:

Para execução deste trabalho foi realizada uma saída de campo de 15 dias consecutivos durante o mês de janeiro de 2006. Pretendeu-se, com este esforço amostral, obter um número significativo de entrevistados, tanto no entorno do PEA (zona rural) quanto na cidade de São Domingos (zona urbana). Para a seleção dos entrevistados na zona rural foi consultada a Base Cartográfica do Município de São Domingos, com o propósito de identificar as propriedades situadas no entorno do PEA. Também foi feito uso da proposta (ainda em processo de elaboração) de plano de manejo do PEA para buscar subsídios sobre a realidade sócio-econômica da população do entorno. Utilizou-se a metodologia de observação participante, onde o pesquisador permaneceu na área estudada durante o período das entrevistas, vivenciando diariamente a realidade local. Para efetuar as entrevistas na zona urbana, sorteou-se aleatoriamente, a partir do mapa da cidade, uma residência por quarteirão, onde foi entrevistado(a) ao menos um(a) morador(a) acima de 12 anos por residência, quando se encontrava alguém em casa. As entrevistas consistiram da aplicação de um protocolo com perguntas semi-estruturadas, previamente testado e ajustado através de entrevistas-piloto. Anteriormente à realização de cada entrevista, foram apresentados os objetivos do trabalho ao entrevistado e respeitada sua opção em participar ou não da entrevista. Ao final do trabalho de campo os dados foram transcritos, organizados em tabelas e analisados.

RESULTADOS:

No total foram entrevistadas 76 pessoas, 39 na cidade e 37 no campo, e houve seis recusas (quatro na cidade e duas no campo). Dos entrevistados na cidade, 16 (41%) disseram saber a localização do PEA. Desses, apenas 6 (15%) fizeram alguma visita, os demais conheceram a área antes de se tornar Parque ou passaram pela estrada de acesso.  Nenhum entrevistado na cidade participou de reuniões ou oficinas durante o processo de criação do PEA. 14 pessoas (35,8%) disseram desconhecer completamente o órgão responsável pela sua gestão, e os demais associaram-no principalmente à administração municipal. 36 entrevistados (92,3%) demonstraram interesse em visitar o PEA, mas não possuíam informações sobre a área.

No campo, apenas 4 (10,8%) entrevistados reagiram negativamente à criação do PEA. 13 entrevistados (35,1%) participaram de alguma atividade realizada durante o processo de criação do PEA (oficinas, reuniões, inauguração). Para 43,2% dos moradores do entorno não houve mudanças após a criação do PEA, e os demais reconheceram melhorias ambientais pela proibição da caça e da derrubada de árvores, ou identificaram mudanças negativas pelo fato do PEA ter sido abandonado após sua criação. Todos os entrevistados mostraram-se interessados em visitar o PEA se houver investimento em infra-estrutura, segurança, guias, dentre outras necessidades. Não foram identificados grandes conflitos, exceto receios quanto a possíveis limitações de atividades no entorno, ou interesses pessoais diferentes.

CONCLUSÕES:

A situação atual do PEA não difere muito das demais UCs precariamente geridas em virtude do modelo de administração e pela qualidade dos serviços dos órgãos ambientais. A população local não teve sua participação efetiva garantida durante o processo de criação do PEA, contrariando os objetivos do SNUC, de integração das UCs à vida econômica e social das comunidades vizinhas. Tanto no entorno quanto na cidade observou-se que o PEA não faz parte do cotidiano vivido pelas pessoas, conseqüência da forma unilateral pela qual a UC foi criada somada ao subseqüente abandono da área após sua criação.

Os moradores da cidade desconhecem a situação atual do PEA, o motivo de sua criação e o órgão responsável pela sua gestão, provavelmente por não terem sido envolvidos nos processos decisórios. Não existem incentivos para a população visitar o PEA, que o torna algo distante da realidade das pessoas.

No entorno, as oficinas realizadas não envolveram todos os atores sociais locais e tiveram, na percepção dos entrevistados, um caráter excessivamente técnico e atitudes pouco pedagógicas. Os conflitos identificados estão relacionados com a falta de confiança no órgão responsável pela administração do PEA ou por inseguranças pessoais. As afinidades e expectativas em relação ao PEA devem ser usadas como ferramentas para o envolvimento comunitário a fim de mobilizar e contar com a participação dos moradores na missão de conservação do parque, minimizando os conflitos existentes ou potenciais.
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Percepção Ambiental; Unidades de Conservação; Ecologia Humana.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006