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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 8. Psicologia do Trabalho e Organizacional
"À CÉU ABERTO”: FATORES DE RISCO DO TRABALHO DOS AGENTES COMUNITÁRIOS DE SAÚDE (ACS) EM CAMPINA GRANDE.
Kalyana Cristina Fernandes de Queiroz 1
Edil Ferreira da Silva 1
Keila Kaionara Medeiros de Oliveira 1
Natércia janine Dantas da Silveira 1
(1. UEPB – Universidade Estadual da Paraíba)
INTRODUÇÃO:

O programa de Saúde da Família se apresenta hoje como uma grande estratégia do Sistema Único de Saúde de assistência no nível da Atenção Básica. A equipe do PSF, geralmente, é composta por médicos, enfermeiros, auxiliares de enfermagem e agentes comunitários de saúde (ACS).

Esta pesquisa teve, portanto, como objetivo geral analisar a atividade dos ACS da cidade de Campina Grande-PB, e como objetivos específicos identificar os fatores de risco a que estão submetidos, procurando mapear sua configuração a nível especifico de cada equipe e globalmente em todo município, bem como levantar as estratégias defensivas que os ACS utilizam; elencar as possíveis doenças relacionadas ao seu trabalho e observar se este é causador ou não de sofrimento psíquico.

Estes riscos resultam diretamente da situação e ambiente que trabalham que é “a céu aberto”, estando assim sujeitos a diversos agentes causadores de risco, tais como os riscos: físicos, químicos, ergonômicos, psicológicos, biológicos e de acidentes.

Sendo assim, esta pesquisa trás como relevância o fato de poder a partir da compreensão da dinâmica do trabalho realizado pelos ACS, contribuir na adoção de medidas que resguardem sua saúde física e mental, além de poder fornecer subsídios aos órgãos responsáveis pela legislação de saúde e segurança no trabalho para a mudança da atual norma regulamentadora 21 sobre o trabalho a céu aberto, já que a mesma está defasada em relação à profissão de ACS que foi legalizada em 2002.

METODOLOGIA:

Este estudo é do tipo transversal, descritivo e analítico. Embasa-se a partir de uma perspectiva qualitativa, onde se procurou entender o mundo dos ACS em sua concretude, totalidade e complexidade.

Participaram do estudo 21 sujeitos locados em quatro PSF de Campina Grande, sendo eles as unidades da Conceição, Monte Castelo, Nova Brasília e Tambor. Na escolha recorremos ao contexto sócio-econômico das famílias e demográfico dos bairros.

Para atingirmos os objetivos propostos levantamos dados secundários sobre os fatores de riscos dos ACS no Centro de Referencia em Saúde do Trabalhador – CEREST/CG e dados da Secretaria Municipal de Saúde do Município. Na análise da atividade realizamos: observação global; entrevistas semi-estruturadas; observação sistemática da atividade dos ACS nas micro-áreas que os mesmos são responsáveis buscando compreender seu trabalho real. Na coleta de dados utilizamos gravador e bloco de notas.

Para o mapeamento dos fatores de risco da atividade dos ACS foi constituído um grupo de agentes que vivenciam as situações de trabalho de modo singular e compartilhadamente. O mapeamento foi construído a partir das informações dos ACS acerca de sua atividade, portanto se valorizou a experiência e subjetividade dos/as trabalhadores/as. Os dados foram organizados em relatórios e constituídos mapas de risco que foram validados consensualmente pelos sujeitos da pesquisa.

Os materiais das entrevistas e da observação global foram analisados a partir da análise temática.

RESULTADOS:

Segundo dados colhidos, os ACS estão submetidos diariamente a diversos fatores de riscos, como: riscos físicos: temperaturas altas e baixas, podendo causar manchas na pele e problemas respiratórios; riscos químicos: poeiras, fumaças, trazendo em conseqüência muitos problemas alérgicos; riscos biológicos, como vírus, bactérias, podendo provocar dengue, meningite viral; riscos psíquicos: monotonia e falta de lazer, produzindo cansaço e estresse; riscos de acidentes: arranjos físicos inadequados, assaltos e balas perdidas, podendo levar a fraturas e escoriações; e riscos ergonômicos: longas caminhadas e excesso de atividades, ocasionando dores musculares e fadigas.

Fazem parte da atividade dos ACS: subir escadarias, ladeiras; circular em ruas sem calçamentos, com esgotos a céu aberto; visitar áreas com alto risco de acidentes e assaltos e preencher diversas fichas. Casos como tentativas de assaltos; sinais e sintomas de resfriados, febres, dores nas costas e pernas devido a terem que levar de casa em casa todos os materiais que precisam em um dia de trabalho, como fichas de diabéticos, hipertensos, etc. e a entrega de exames nas casas das famílias foram bastante relatados.

Isto tudo faz parte do trabalho real do ACS que se torna desgastante, cansativo e estressante, mas também tem as suas compensações, como o reconhecimento da comunidade pelo seu trabalho e da gestão da unidade que lhe atribui tarefas consideradas mais intelectualizadas, como conduzir palestras para comunidade.

CONCLUSÕES:

Percebemos que o modo como a atividade dos ACS é realizada ocasiona a produção de diversos fatores de risco, podendo com isso trazer medo e sofrimento bem como comprometer a sua saúde e bem estar.

As diversas fichas que os ACS têm que preencher representa uma carga a mais e reflete uma objetivação da cobrança da produção realizada.

Embora as tarefas dos agentes em todos os PSF sigam o mesmo princípio que é garantir atenção, prevenção e orientação básica a família, cada agente em cada unidade vai imprimindo seu jeito específico de desenvolver as suas atividades. A intervenção do ACS na comunidade toma como base a configuração física, econômica e social de cada bairro. Por isto, a forma de intervir em cada casa muda de acordo com o bairro: naquele que tem tráfico de droga seu modo de agir é de uma forma, se é num bairro onde grande parte da população tem plano de saúde seu agir é de outra forma. Isto acarreta a construção de estratégias de defesas e variabilidades utilizadas pelos ACS.

Apesar da monotonia; dos riscos; das variabilidades; da sobrecarga de trabalho em certas situações; da falta de reconhecimento em alguns momentos pelos moradores; e pela contaminação do seu tempo livre, por terem que morar, literalmente, no local de trabalho, estes explicitam o prazer que sentem em sua atuação. Assim, o trabalho não é apenas causador de sofrimento, desprazer e estresse para estes/as trabalhadores/as, tão importantes para os bons resultados que o PSF vem tendo nos últimos anos.

Instituição de fomento: PIBIC/CNPQ/UEPB
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Agentes Comunitários de Saúde; Fatores de Risco; Prazer e Sofrimento no trabalho.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006