Os últimos 30 anos da história têm presenciado mudanças significativas e muito rápidas na estrutura social, refletindo-se na educação e no trabalho, que estão vivendo um momento de extrema flexibilidade e pouca estabilidade, sendo a transição o conceito que melhor define a atual conjuntura social cada vez mais ambivalente e sem clareza. Diante disso, os mundos do trabalho e da educação, que viviam uma cisão profunda, necessitam se aproximar e tentar configurar uma relação indissociável para auxiliar os indivíduos na construção de seus projetos de vida e auxiliar a própria sociedade a reescrever seu projeto estrutural, sendo essa a grande tarefa da universidade atualmente. Estaria a universidade realizando tal tarefa? Nos parece que não plenamente, sendo, então, necessário o planejamento de ações que ajudem na preparação do aluno e facilitem a construção de sua carreira. A Orientação Educacional/Profissional é uma prática recorrente durante todo o processo educativo na Europa e Estados Unidos, mas, no Brasil, com raras exceções, ela está restrita aos ensinos médio e fundamental, deixando o aluno universitário sem o acompanhamento necessário durante sua formação, podendo lhe acarretar várias dificuldades. Diante disso, o objetivo da pesquisa foi levantar as demandas de alunos do ensino superior para verificar se um centro de carreira, tutoria e desenvolvimento pessoal seria relevante e poderia auxiliá-los, além de levantar possíveis estratégias de intervenção para esse centro.

Dentro de um projeto-piloto de orientação profissional e psicopedagógica oferecido em 2 universidades particulares da cidade de São Paulo levantou-se a contribuição de 275 participantes através de grupos focais operativos, sendo o eixo temático a utilidade e as possíveis demandas para um centro de carreira, tutoria e desenvolvimento pessoal no interior das universidades. Os participantes eram convidados a tomar parte nos grupos focais, nos quais debatiam sobre seu cotidiano universitário e as problemáticas que nele surgiam, indicando em quais aspectos de sua trajetória universitária sentiam que necessitavam de um auxílio externo. Foram realizados 14 grupos num período de 24 meses, sendo que, cada um, tinha em torno de 2 horas de duração e contavam com um coordenador e um observador não-participante, que fazia o registro das discussões. Os dados levantados nos grupos eram divididos em categorias diferenciadas de demandas, que possibilitaram perceber quais eram as principais dimensões problemáticas da vida universitária e fornecer subsídios para propostas de intervenção que viessem de encontro à demanda dos alunos.

No tocante à relevância de um centro de carreira, tutoria e desenvolvimento pessoal no interior das universidades, 92% (253 participantes) indicaram que seria muito importante e obrigação da universidade oferecer um espaço para que o aluno pudesse expressar e tentar resolver suas principais dificuldades do período de vida universitária. As quatro principais categorias de dimensões problemáticas da vida universitária levantadas foram: problemas de relacionamento (afetivo, familiar, profissional e entre os colegas de universidade, o que prejudicava o trabalho em grupo e a sintonia entre as turmas); excesso de atividades e falta de tempo (o que dificultava o planejamento da vida e a organização do tempo, levando a uma utilização não produtiva deste, causando, muitas vezes estresse, cansaço excessivo, conflitos imotivados, demissões, baixo rendimento escolar e evasão universitária); dúvidas quanto ao projeto de vida pessoal e profissional (tanto em termos de conteúdo, quanto de método para elaboração e realização desse projeto); e problemas psicopedagógicos (dificuldade de aprendizagem, de organização dos estudos, de conhecimento da estrutura e dinâmica universitária e de rendimento escolar).

O trabalho teve uma grande repercussão nos cursos no qual foi introduzido, tanto por parte do corpo docente, como por parte do corpo discente, que indicaram a importância da existência de um espaço institucionalizado para elaborar os momentos de crise gerados pelo cotidiano universitário e para auxiliar no desenvolvimento pessoal e profissional, através de uma orientação pessoal (acompanhamento do aluno ao longo do curso buscando uma melhor integração do sujeito consigo mesmo e com os demais), de uma orientação profissional e de carreira (auxílio nos momentos de escolha e de construção e realização de projetos profissionais); e de uma orientação educativa (ajuda nas questões psicopedagógicas e de dificuldade de aprendizagem), sendo, portanto, um centro de carreira, tutoria e desenvolvimento pessoal uma proposta relevante e urgente a ser elaborada e implantada nas universidades brasileiras.