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D. Ciências da Saúde - 1. Enfermagem - 7. Enfermagem
PRINCIPAIS RAZÕES QUE MOTIVAM OS CANDIDATOS DE NÍVEL TÉCNICO A UMA VAGA NA PROFISSÃO DE ENFERMAGEM

 

Dirce Stein Backes 1
Marli Stein backes 2
Hedi Heckler de Siqueira 3
Alacoque Lorenzini Erdmann 4
(1. UFSC; 2. UFPel; 3. FURG; 4. UFSC)
INTRODUÇÃO:

A escolha profissional, geralmente, traz consigo diversos conflitos porque a tomada de decisão envolve não apenas as aptidões, capacidades e aspirações do ser humano, mas, sobretudo, os aspectos emocionais por tratar-se de um projeto de vida. Além disso, as escolhas na maioria das vezes acontecem quando os jovens se encontram em grandes transformações físicas e psíquicas e são influenciados por pessoas próximas e\ou pelos meios de comunicação social. É de grande importância que a escolha profissional leve em consideração alguns critérios como: os atributos pessoais, a motivação, os valores predominantes, os aspectos psicológicos e o conceito que possui da profissão que deseja seguir. Esse conceito, sendo claro, é capaz de auxiliar na tomada de decisão e trazer maior motivação, interesse pessoal e um renovado desejo de seguir construindo o projeto de vida com base nas características dominantes dessa profissão. As características da enfermagem devem fazer parte da análise de quem deseja abraçar essa área de atuação, visto que uma escolha frustrada poderá levar a uma desestruturação emocional e até mesmo existencial. Assim, mostram-se relevantes reflexões acerca do cuidado que identifica o trabalho de enfermagem seja, enquanto processo interativo seja, enquanto processo técnico-científico. Nessa perspectiva, objetiva-se analisar as principais razões que motivam os candidatos, de nível técnico, a uma vaga na enfermagem, à luz das considerações da Teoria de Watson.

 

METODOLOGIA:

O estudo de natureza qualitativa e exploratório-descritova, foi realizado em um empreendimento de saúde, localizado na cidade de Pelotas RS, entre os meses de setembro/2004 e fevereiro/2005. Os candidatos a uma vaga de enfermagem para atuar na referida instituição receberam, inicialmente, o convite para fazer parte do estudo. Ao todo, 55 candidatos participaram das entrevistas, respondendo às seguintes questões norteadoras: 1) O que motivou a sua escolha profissional? 2) O que você entende por cuidado, hoje? Os dados coletados foram tratados, observando os seguintes passos: organização dos dados coletados; leitura e releitura do material, com retomada à questão problema e os objetivos do estudo e contato exaustivo com o referencial teórico. A metodologia de trabalho propriamente dita, foi balizada pela análise e compreensão dos fatores de cuidado idealizados por Watson, que desenvolveu a teoria do cuidado humano, baseada na filosofia e na ciência do cuidado de enfermagem. Para atender os critérios éticos, foram seguidas as recomendações da Resolução No. 196/96, do Conselho Nacional de Saúde, que leva em conta os princípios éticos básicos que devem orientar qualquer estudo que envolva seres humanos, bem como a solicitação de autorização ao Comitê de Ética em Pesquisa da Santa Casa de Misericórdia de Pelotas, a fim de validar a proposta de trabalho e poder divulgar as informações.

 

RESULTADOS:

Ao questionarmos os candidatos a uma vaga de enfermagem sobre “o que motivou a sua escolha profissional” e “o que entendem por cuidado”, obtivemos as mais variadas respostas. Enquanto alguns mencionam a influência de algum familiar trabalhando na área, outros expressaram uma forte tendência de “ajudar o outro” e/ou se identificaram com a profissão ao acompanharem algum familiar no processo de internação hospitalar. Ao cuidar do outro, o profissional é motivado por uma força intrínseca, capaz de satisfazer o seu ego mais profundo de ir à busca do outro, como refere à fala: “Eu me sinto extremamente satisfeita em poder cuidar e auxiliar o outro em sua doença. Parece que me realizo e cresço mais como pessoa”. Assim, o cuidado supera a atitude reducionista da prática dos profissionais. Percebe-se, portanto, uma crescente preocupação com a dimensão do cuidado relacionado à essência humana – “O cuidado, ao contrário do que muitos pensam, não se traduz num ato de fazer ou que demande muito tempo para exercê-lo. O cuidado requer que se faça tudo bem feito, ou seja, com especial atenção a tudo aquilo que fazemos como: bater à porta ao entrar no quarto do paciente; chamar o paciente pelo nome; informar os procedimentos a serem realizados”. Ou ainda, “essas atitudes eu pude observar durante a internação de um familiar no hospital. A gente ficava atenta a tudo o tempo todo. Parece que a gente fica mais sensível a tudo o que acontece”.

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CONCLUSÕES:

O estudo coloca em evidência a importância do “cuidado” enquanto conhecimento específico e enquanto instrumento de “ajuda ao outro”, apresentado dentre as razões que motivam os candidatos de nível técnico, a uma vaga nos serviços de enfermagem e, o ambiente de cuidado, como elemento facilitador na consolidação deste ideal. O cuidado enquanto essência da vida perpassa desde os pequenos atos do pensar, do ser, do fazer e, até a configuração de um processo de cuidar que envolve tanto o ser cuidado, quanto o cuidador. Não importam, nesse momento, os significados\conotações atribuídos ao cuidado, mas, a ênfase dada, pelos candidatos, enquanto elemento motivador para o critério da escolha profissional e para a realização da profissão. Importa sim, que o cuidado, na sua forma mais original, prima pela essência do ser humano enquanto um ser único, indivisível, autônomo e com liberdade de escolha, isto é, na compreensão do ser humano enquanto um ser integral. Os candidatos, ao expressarem as suas idéias a respeito do cuidado, demonstraram que a escolha da sua profissão está alicerçada em critérios que enfatizam não apenas os conceitos de sua área profissional, mas também nos atributos pessoais, nos aspectos psicológicos e, especialmente, na motivação. Em suma, o “cuidado” mesmo ameaçado pelas exigências burocráticas e tecnológicas, permanece na origem da profissão de enfermagem, o que deve ser considerado um fator altamente positivo e animador para os profissionais.

 

 
Palavras-chave: Enfermagem; Cuidado; Motivação.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006