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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 6. Educação Especial
CONCOMITÂNCIA ENTRE DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM E PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO: ANÁLISE DESCRITIVA DA OCORRÊNCIA DE PROBLEMAS DE COMPORTAMENTO, EM CRIANÇAS, SEGUNDO AVALIAÇÃO DO PROFESSOR.
Simone de Oliveira Barreto  1
Zilda Aparecida Pereira Del Prette 1
Almir Del Prette 1
Thiago Magalhães 1
(1. Programa Pós-Graduação em Educação Especial. Universidade Federal de São Carlos.)
INTRODUÇÃO:

Crianças com dificuldade de aprendizagem são caracterizadas por apresentar necessidades educativas especiais, destacando-se a alta incidência de problemas de comportamento, baixo status social, relações interpessoais pobres, solidão, agressividade, imaturidade e poucos comportamentos orientados para a tarefa. Com relação aos problemas de comportamento, a psicopatologia infantil caracteriza-os em Externalizantes (agressividade física e/ ou verbal, comportamentos opositores ou desafiantes e condutas anti-sociais) e Internalizantes (pouca interação social, ansiedade, fobia social, alienação e retraimento). Em um contexto de educação inclusiva, a identificação das principais formas de ocorrência de problemas de comportamentos, nessa população, é de extrema importância para o desenvolvimento de instrumentos e procedimentos de ensino diferenciados que propiciem melhor adaptação, desses alunos, ao ensino regular. Nesse sentido, o professor tem sido apontado como um avaliador confiável do repertório comportamental e social de seus alunos. O presente estudo teve como objetivo analisar, descritivamente, a ocorrência de problemas de comportamento externalizantes e internalizantes em crianças indicadas, por seus professores, por apresentarem, concomitantemente, dificuldades de aprendizagem e problemas de comportamento.

 

METODOLOGIA:

Dez professores avaliaram o repertório comportamental de 45 crianças, com idade entre 9 e 14 anos (média=10,51; d.p.=1,14) indicadas, por seus professores, por apresentarem, concomitantemente, dificuldade de aprendizagem e problemas de comportamento. Os participantes eram provenientes da terceira e quarta série do Ensino Fundamental de cinco escolas públicas de uma cidade do interior Paulista. Dentre as crianças participantes, 12 eram de terceira série do ensino fundamental (26,6%) e 33 eram alunos da quarta série do ensino fundamental (73,3%); 15 crianças eram do sexo feminino (30%) e 30 eram do sexo masculino (70%); 35 crianças foram classificadas como pertencentes à classe socioeconômica C (77,8%) e 10 foram classificadas como pertencentes à classe D (22,2%). Os professores responderam ao Sistema de Avaliação de Habilidades Sociais (SSRS, Gresham & Elliott, 1990), validado para a amostra brasileira por Bandeira, Del Prette, Del Prette e Magalhães (s.d.), que permite mapear três áreas do repertório comportamental da criança: habilidades sociais, problemas de comportamento (externalizantes e internalizantes) e competência acadêmica. O questionário Critério Brasil (IBOPE, 1997) foi utilizado para avaliar o nível socioeconômico dos participantes.

 

RESULTADOS:

Segundo a avaliação dos professores, a freqüência média de ocorrência de problemas de comportamentos nas crianças foi de 15,11 (d.p.=8,80). A freqüência média de ocorrência de comportamentos externalizantes foi de 11,06 (d.p.=7,73) e a de comportamentos internalizantes foi de 4,75 (d.p.=3,19). Com relação ao sexo, os meninos apresentaram freqüência média de ocorrência de problemas de comportamento significativamente maior que as meninas, tanto na escala global (t=3,43; p=0,00), como nas subescalas de comportamentos externalizantes (t=2,97; p=0,00) e internalizantes (t=2,55; p=0,01). Uma porcentagem significativamente maior de meninos apresentou mais freqüentemente os comportamentos: Briga com os outros (X²=6,64; p=0,03); Tem baixa auto-estima (X²=6,07; p=0,04); Interrompe a conversa dos outros (X²=8,78; p=0,01); Perturba as atividades em andamento (X²=8,78; p=0,01); Discute com os outros (X²=10,29; p=0,00); Fica com raiva facilmente (X²=6,30; p=0,04); É irrequieto (X²=8,00; p=0,01). As meninas não apresentaram maior freqüência de problemas de comportamentos que os meninos, em nenhum dos itens da escala. Entre as séries (3ª e 4ª) e o nível socioeconômico (C e D), não foram encontradas diferenças significativas na escala global e nas subescalas de problemas de comportamento. Não foram observadas correlações significativas entre: a) escala global e subescalas de problemas de comportamento e b) idade das crianças e número de reprovações anteriores.

 

CONCLUSÕES:

Os dados corroboraram a tendência das crianças apresentarem maior freqüência de problemas de comportamento externalizantes que internalizantes. Esses resultados vão de encontro com a literatura da área indicando maior atenção de pais e professores aos comportamentos externalizantes que são emitidos, diretamente, em relação a outras pessoas e, dessa forma, perturbam e alteram o meio onde são produzidos. Logo, desencadeiam maior atenção e cuidado como tentativas de conter tais ações.  Os resultados confirmaram dados, já apontados por pesquisas, nos quais meninos apresentaram maior freqüência de problemas de comportamento externalizantes que meninas. Tais informações refletem uma maior dificuldade dos meninos em estabelecer relações interpessoais apropriadas com seus pares e professores, indicando possíveis falhas na emissão dos seguintes comportamentos: seguir regras ou instruções orais, prestar atenção, ignorar interrupções dos colegas, acalmar-se diante de uma situação-problema, pensar antes de tomar decisões, controlar a ansiedade, controlar o humor e tolerar frustrações. Discute-se que um maior detalhamento sobre a incidência de problemas internalizantes ou externalizantes, associados às dificuldades de aprendizagem, pode ser um fator importante para implementar estratégias pedagógicas com essas crianças, favorecendo o desempenho acadêmico e a adaptação da criança ao ambiente escolar. 

 

Instituição de fomento:  Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado São Paulo/ FAPESP
 
Palavras-chave: Criança; Dificuldade de aprendizagem; Problemas de comportamento.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006