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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 11. Ensino-Aprendizagem

CONCEPÇÕES DE METODOLOGIA DE PROJETO NO ENSINO AGRÍCOLA E A PERSPECTIVA TRANSDISCIPLINAR

Elizabeth Armini Pauli Martins  1
Ana Cristina Souza dos Santos 2
Akiko Santos 3
(1. Escola Agrotécnica Federal de Colatina - ES; 2. DTPE, IE, Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro/ UFRRJ; 3. Programa de Pós Graduação em Educação Agrícola/UFRRJ)
INTRODUÇÃO:
O método de projetos, aqui referido, visa a ressignificação do espaço escolar, transformando-o em espaço vivo de interações, aberto ao real e as suas múltiplas dimensões. Os projetos de trabalho devem ser inseridos em situações problema, onde os alunos participam de um rico processo de investigação coletiva, utilizando variadas informações e se deparando com diversos pontos de vista, numa postura transdisciplinar. No entanto, temos percebido que a concepção dos professores das escolas agrotécnicas sobre o “método de projetos” ainda está sustentada no modelo de escola-fazenda, cuja meta é a produção agropecuária. A herança deste modelo distinguiu as escolas agrotécnicas das demais instituições de ensino profissionalizante e constituiu seu problema específico: conjugar educação e trabalho. Dentro de uma visão produtivista, o ensino, baseado no desenvolvimento de projetos, constituiu-se como a principal metodologia adotada no modelo escola-fazenda. Esta concepção está vinculada ao modelo escolar institucionalmente reconhecido, com tempos rígidos, distribuídos em disciplinas isoladas, que segundo Kuenzer (1998) e Hernandez (1998) não dão conta da complexidade que caracteriza a sociedade contemporânea. Investigar estas concepções e confrontá-las com as atuais orientações curriculares manifestadas nos documentos oficiais, constituem o principal objetivo deste trabalho.
METODOLOGIA:

Em uma primeira etapa foram realizadas 15 entrevistas com professores das escolas agrotécnicas: EAF-Colatina, EAF-Rio Pomba, EAF-Santa Tereza, EAF-Alegre, Colégio Técnico da UFRRJ e o Colégio Agrícola Nilo Peçanha - RJ, onde buscou-se identificar as concepções e as práticas que sustentam a metodologia de projetos. Estes resultados foram analisados e estruturados para apresentação em um seminário interno na EAF-Colatina.

Neste seminário foram apresentadas: (1) evolução da educação profissional agrícola e a crítica de sua funcionalidade; (2) concepções e práticas dos professores sobre a metodologia de projetos; (3) conceitos de interdisciplinaridade e transdisciplinaridade comungados pela comunidade científica e descritos nos documentos oficiais (Parâmetros Curriculares Nacionais, Parecer CNB/CEB n. 16/99, entre outros) e (4) princípios que devem balizar a metodologia de projetos numa perspectiva interdisciplinar/transdisciplinar. Após apresentação da palestra foi aberto um debate e as falas dos professores foram gravadas e transcritas para análise. Participaram, neste seminário, 35 professores das diferentes áreas de ensino da EAF-Colatina.  

RESULTADOS:

Neste trabalho serão apresentados apenas os resultados referentes às discussões sobre as concepções dos professores quanto a Metodologia de Projetos e as noções de inter e transdisciplinaridade.

     Todos os professores revelaram que conheciam a metodologia de projetos, a maioria já tinha trabalhado com ela em suas atividades de ensino. Dois professores revelaram a utilização da metodologia com as incubadoras de empresas, ressaltando que quando um aluno trabalha em um projeto ele pode ganhar dinheiro através do mesmo, além de passar a conhecer todas as fases do processo: produção, gestão, marketing e venda. Um outro professor revelou muita dificuldade em trabalhar com a metodologia de projetos, devido à demanda de tempo e a atual estrutura curricular em módulos. Os professores manifestaram concepções de inter e transdisciplinaridade bastante diferenciadas. Um professor relatou que o que vinha fazendo em sala de aula era multidisciplinaridade, usando todas as disciplinas dentro de uma aula e que a interdisciplinaridade envolve a saída da sala de aula, buscando os conhecimentos em outras áreas. Um outro disse acreditar que a interdisciplinaridade envolvia pelo menos duas ou três disciplinas e a transdisciplinaridade todas as outras disciplinas, construindo relações. Um professor relatou que a estrutura em módulos beneficiava mais a interdisciplinaridade do que a estrutura disciplinar, pois agrupava um conjunto de conhecimentos que tem relações mais estreitas.  
CONCLUSÕES:

Os resultados revelam a manutenção de uma concepção muito pragmática da metodologia de projetos, ainda baseada na produção. Os professores que afirmavam utilizar a metodologia de projetos em suas aulas, se referiam aos projetos técnicos elaborados pelos alunos, individualmente, para a obtenção de aprovação ao final do módulo. Mas, em um dos relatos foi discutido a necessidade de se ter um referencial teórico para sustentar esta metodologia. As noções de inter e transdisciplinaridade são, na sua maioria, baseadas no senso comum. No entanto, os diálogos desenvolvidos durante o seminário revelou a necessidade de atribuir-lhes perspectivas políticas, estéticas afetivas e tecnológicas, para que o saber venha  inserido em valores humanos. Os resultados desta pesquisa também consolidam a afirmação de que há uma enorme distância entre os textos legais elaborados em gabinete e as condições concretas nas quais se efetivam as práticas pedagógicas. Nas falas dos professores identificaram-se diferentes concepções sobre metodologia de projeto, aprendizagem, inter e trans, revelando que estes conceitos não são simples nem homogêneos. O seminário realizado a partir da análise das entrevistas com os professores foi um importante momento de questionamento e de reflexão das concepções assumidas por muitos professores. Pode-se afirmar que este foi um espaço de discussão inicial para a construção de um quadro conceitual para o método de projetos baseado na perspectiva transdisciplinar. 

Instituição de fomento: Escola Agrotécnica Federal de Colatina e UFRRJ
 
Palavras-chave: Metodologia de Projetos; Interdisciplinaridade; Transdisciplinaridade.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006