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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 15. Formação de Professores (Inicial e Contínua)

CURSO DE PEDAGOGIA: DOCÊNCIA, GESTÃO E PRODUÇÃO DE SABER

Jocemara Triches  1
Olinda Evangelista  1
Suzane da Rocha Vieira  1
(1. Universidade Federal de Santa Catarina/UFSC)
INTRODUÇÃO:
Na década de 1990 o Brasil iniciou um processo de reformas educacionais que acarretaram significativas mudanças para a área. As determinações oficiais que redesenharam o campo, entretanto, deixaram inconclusas as políticas referentes à  formação do magistério. Referimo-nos especificamente ao Curso de Pedagogia cujas Diretrizes Curriculares Nacionais – DCN  só foram homologadas pelo Ministro da Educação em quatro de abril de 2006. Um ano antes, em março de 2005, o Conselho Nacional de Educação – CNE tornou pública a minuta do projeto de DCNs para o Curso, a qual gerou manifestações das várias forças em presença. A conseqüência desse processo foi a publicação de uma sucessão de projetos de Resolução de DCNs que  expressavam as inúmeras posições que disputavam o conceito “Pedagogia”. Entre essas forças destacamos a Associação Nacional pela Formação dos Profissionais da Educação – ANFOPE, os intelectuais que assinaram o Manifesto dos Educadores, o Fórum de Diretores de Faculdades de Educação – FORUNDIR e os Especialistas reunidos em diferentes associações, como a ANPAE. Tendo esses elementos como base, o presente estudo analisa as correlações de força postas no campo educacional e o perfil de “pedagogo” que está em causa, buscando compreender de que forma tais posições foram incorporadas nas DCNs de 2006.
METODOLOGIA:
Para efetuar o acima referido, tomamos como fontes para análise as minutas de Resolução do CNE divulgadas durante o ano de 2005; as DCNs para o curso de Pedagogia de abril de 2006; os documentos do MEC sobre formação docente; os documentos da ANFOPE, do FORUNDIR, da Comissão de Especialistas composta pelo MEC (1999 a 2001), de entidades dos Especialistas e de estudantes; o Manifesto dos Educadores, de 2005; documentos de organizações internacionais sobre políticas educacionais para a América Latina e Caribe. Procedemos a uma análise comparativa dos referidos documentos, identificando os principais conceitos, entre eles: docência, escola, professor, pedagogo, gestão educacional, prática, produção de conhecimento. Tais conceitos evidenciam o terreno de litígio que cerca o Curso de Pedagogia.
RESULTADOS:
O estudo comparativo levou-nos à identificação das correlações de força que determinaram o conteúdo do documento final das DCNs e das concepções que ganharam expressão no projeto, além do conhecimento da nova estrutura do Curso. Três conceitos emergem como fundamentais para a compreensão do Curso: Docência, Gestão e Conhecimento. A Docência, segundo as DCNs, é a base da formação do Pedagogo e resulta da pressão exercida pela ANFOPE; Neste caso, destacamos que o conceito implica uma visão alargada, não se restringindo ao processo ensino-aprendizagem. A Gestão não se reduz à formação do antes denominado “especialista” de ensino, mas abarca todos os processos de gestão, o escolar, o familiar, o financeiro, o de conhecimento, o de alunos, entre outros. Este conceito supõe que não apenas o gestor strictu senso deve se ocupar da administração da escola, mas o próprio professor é tido como gestor. Tal inserção deve-se às pressões do FORUNDIR e de associações de especialistas. Os intelectuais do Manifesto dos Educadores também defendem a formação do gestor no Curso, mas entendido como “pedagogo”, isto é um técnico ou especialista em educação. De outro lado, os assinantes do Manifesto advogam um papel proeminente desse profissional na produção do conhecimento, da pesquisa. Entre os resultados alcançados é possível afirmar que o Curso de Pedagogia, como lugar de formação de uma dada intelectualidade na área, se restringe, ficando a formação do gestor em segundo lugar, após a docência.
CONCLUSÕES:
Em síntese, o mapeamento e estudo do contraditório campo dessa produção possibilitou-nos apreender, de um lado, as determinações históricas que estão na base da configuração do Curso de Pedagogia – docência, gestão e produção de conhecimento – e, de outro, as determinações que produzem um curso preponderantemente vocacionado à docência, configurado como Licenciatura em Pedagogia. Nosso estudo conclui que, em qualquer um de seus três projetos, o Licenciado em Pedagogia deverá ter como objetivo produzir o sucesso escolar e resultados com o mínimo de dispêndio possível, o que evidencia o viés fortemente pragmático a determinar o perfil deste profissional. No próprio âmbito da produção de conhecimento opera-se o reducionismo do conhecimento à busca de solução para os problemas derivados da prática pedagógica. Finalmente, a investigação evidenciou que as DCNs incorporam ativamente diretrizes emanadas de agências internacionais de fomento, como é o caso da UNESCO, OEA e OEI. Longe de demonstrar-se, com essa presença, a atualidade das DCNs, demonstra-se sua subordinação a interesses internacionais que propõem uma formação do educador restrita e desintelectualizada.
Instituição de fomento: PIBIC-CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Curso de Pedagogia; Formação docente; Política educacional.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006