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A. Ciências Exatas e da Terra - 7. Oceanografia - 3. Oceanografia Geológica
ENRIQUECIMENTO ORGÂNICO E HIDRODINÂMICA LAGUNAR DO SETOR NORTE DO SISTEMA ESTUARINO-LAGUNAR DO ITAPOCÚ INFERIDOS A PARTIR DAS ASSOCIAÇÕES DE FORAMINÍFEROS BENTÔNICOS
Lucélia Beddin Fritzen 1
Carla Bonetti 2
Elpídio Beltrame 3
(1. Bolsista de Mestrado do Programa de Pós-Graduação em Geografia - CFH-UFSC; 2. Laboratório de Oceanografia Costeira - LOC/GCN-UFSC; 3. Laboratório de Camarões Marinhos – LCM/AQI-UFSC)
INTRODUÇÃO:

O presente estudo avalia a ocorrência e distribuição de foraminíferos em função da hidrodinâmica local e do enriquecimento orgânico do setor norte do Sistema Estuarino-Lagunar do Itapocú, relacionando as possíveis associações de espécies de foraminíferos com os teores de matéria orgânica, profundidade e salinidade no setor, avaliando sua susceptibilidade a eutrofização. Foraminíferos são organismos bioindicadores de qualidade ambiental e através de suas associações é possível diferenciar sub-ambientes e compreender seus processos. Assim, a relação entre foraminíferos e fatores abióticos é uma importante ferramenta para estudo e identificação de situações de contaminação antropogênica em ambientes costeiros e marinhos. O Sistema Estuarino-Lagunar do Itapocú está localizado no litoral norte do Estado de Santa Catarina, região sul do Brasil. O trecho norte deste sistema apresenta características fisiográficas e sedimentológicas típicas de ambientes lagunares confinados e está sujeito ao aporte de constituintes orgânicos provenientes dos ambientes marginais adjacentes (manguezais, vegetação de restingas, mata atlântica e urbanização) e também à descarga de efluentes de fazendas de cultivo de camarões marinhos, a exemplo da Fazenda Experimental Yakult (UFSC). Devido a sua importância ecológica e multiplicidade de usos econômicos é necessário reunir informações que subsidiem o conhecimento dos fatores que podem alterar os processos que condicionam a sua dinâmica.

METODOLOGIA:
Realizou-se uma campanha de amostragem nos dias 13 e 14 de julho de 2005, quando foram coletadas 49 amostras de sedimento ao longo de uma malha regular densa. In situ, foram medidos valores de salinidade e temperatura da coluna d’água, utilizando-se um equipamento STD. A profundidade das estações foi determinada através de um eco-batímetro. As amostras de sedimentos foram coletadas com um amostrador tipo Van Veen e descritas quanto as suas propriedades físicas (cor e textura) e profundidade da camada de óxido-redução. Alíquotas de sedimento foram armazenadas sob refrigeração para posterior análise em laboratório dos teores de matéria orgânica total (mediante técnica de oxidação com Peróxido de Hidrogênio (H2O2) 10%) e dos constituintes biológicos (foraminíferos). Para a determinação da freqüência de espécimes de foraminíferos vivos na amostra total foi utilizada uma solução de rosa de bengala 40%. O sedimento destinado aos estudos biológicos foi peneirado a úmido em malha de 0.062mm, seco e flotado, seguindo-se a triagem dos organismos sob lupa. O tratamento estatístico aplicados aos dados baseou-se nas técnicas de Análise dos Componentes Principais (PCA) e Análise de Agrupamento, utilizando o programa MVSP. A relação de dependência entre as variáveis abióticas e bióticas foi avaliada através do coeficiente de correlação paramétrico de Pearson (r).
RESULTADOS:
A partir dos resultados preliminares observou-se que o teor de matéria orgânica oscilou entre 1,39 e 31,70%, com valor médio de 20,97%. Praticamente todas as estações com profundidades acima de 1 m encontram-se enriquecidas organicamente (valores acima de 25% de matéria orgânica total). A profundidade apresentou valor médio de 1,46±0,64m e a salinidade variou de 11,77 a 23,37%0. Os parâmetros bióticos revelaram a dominância de testas calcárias hialinas na área de estudo, encontrando-se freqüência relativa média de 65,71±37,12%, enquanto que a frequência de lituolídeos (aglutinantes dominantes) apresentou um valor médio de 35,85±23,53%. O teor de matéria orgânica apresentou correlação positiva com a profundidade e com a freqüência de testas calcárias hialinas (r = 0,83 e 0,94), respectivamente. Encontrou-se uma correlação negativa entre a freqüência de E. gunteri e a frequência de Lituolídeos (r = -0,82). A Análise de Agrupamento e PCA revelaram a presença de dois compartimentos distintos na área de estudo, dispostos longitudinalmente ao eixo de circulação principal. Estes se diferenciam principalmente quanto a profundidade, salinidade e razão Elphidium gunteri/Ammonia spp.
CONCLUSÕES:

A partir da análise integrada dos dados, pôde-se concluir que as associações de foraminíferos, sua ocorrência e distribuição, respondem eficientemente ao gradiente de profundidade, salinidade e teor de matéria orgânica existente na área de estudo. Tal resposta permitiu distinguir dois sub-ambientes dispostos longitudinalmente ao canal de circulação principal no setor norte do Sistema Lagunar. No extremo norte do sistema, o canal de circulação é mais raso e a espécie E. gunteri ganha importância sobre o gênero Ammonia. Em direção ao sul do sistema, o canal torna-se mais profundo e as águas mais salinas. Os menores valores da razão E.gunteri/Ammonia neste setor sugere águas com melhor condição de oxigenação e, portanto, menos afetadas pelo enriquecimento orgânico. Acredita-se assim que,embora todo o eixo longitudinal deste corpo lagunar seja propício ao acumulo de orgânicos no sedimento de fundo, a fisiografia do canal seja um fator importante na determinação da taxa de renovação das águas marinhas e, consequentemente, no estabelecimento de condições favoráveis a biota.

 
Palavras-chave: Enriquecimento orgânico; eutrofização; foraminíferos bentônicos.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006