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C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 4. Genética Molecular

ESTIMATIVA DA VARIABILIDADE GENÉTICA DE UMA POPULAÇÃO LOCAL DE Astyanax sp. B DO RIO ALTO IGUAÇÚ

Kárita Cláudia Freitas Lidani 1
Janaina Rosolem Lima 1
Jane Eyre Gabriel 1
Rodrigo Augusto Torres 2
Humberto Maciel França Madeira 1
Paulo César Falanghe Carneiro 3
(1. Laboratório de Biologia Molecular Aplicada à Agropecuária/PUCPR, S.J. Pinhais; 2. Laboratório de Análises Moleculares, Departamento de Zoologia/UFPR, Curitiba; 3. Estação de Piscicultura Patronato Santo Antônio/PUCPR, S.J. Pinhais)
INTRODUÇÃO:

A prática de soltura de alevinos nos rios sem prévios estudos do ambiente e da espécie nem sempre é uma situação viável. Essa prática implica em três importantes conseqüências: a introdução de doenças e parasitas, a inevitável queda de variabilidade genética, tendo em vista que alevinos de cativeiro quase sempre provem de poucos casais, além da possibilidade de contaminação genética, por meio da inserção de variações historicamente isoladas ao longo do tempo. Nesse contexto, uma importante contribuição da genética molecular em estudos envolvendo conservação refere-se à determinação da diversidade presente intra- e inter-populações. O conhecimento dos efeitos da variabilidade genética em uma população de peixes é de fundamental importância para o entendimento de como essa diversidade está distribuída entre as espécies e sendo assim, garantir um manejo adequado de espécimes naturais e de cativeiro. Tendo em vista que Astyanax sp. B é um importante componente da base da cadeia alimentar aquática, fazendo parte da dieta de várias outras espécies de peixes, sendo muitos deles consumidos pelo ser humano, o objetivo deste experimento foi estimar a variabilidade genética de uma população local da referida espécie oriunda de determinada localidade do alto rio Iguaçu, por meio de marcadores moleculares RAPDs.

METODOLOGIA:

Sete exemplares Astyanax sp. B capturados do rio Iguaçu (latitude 25025’40’’, longitude 49016’23’’) com a utilização de tarrafas de 1,5 cm, foram armazenados em etanol 95% e estocados a -80ºC. Amostras de DNA genômico foram extraídas a partir de 50 mg de tecido muscular digeridos em tampão contendo10mM Tris-HCl pH 8,0; 125mM NaCl; 10mM EDTA pH 8,0; 0,5% SDS; uréia 4M e 10 mg/mL de proteinase K. Após extração com fenol, procedeu-se a precipitação do DNA em 0,1 volume de NaCl 1M e 0,6 volume de isopropanol. O precipitado de DNA foi ressuspendido em tampão TE (10 mM Tris-HCl pH 8,0; 1 mM EDTA pH 8,0) e 50 µg/mL de RNAse. Os primers empregados nas PCRs foram OPAM13 (5’CACGGCACAA3’), OPX4 (5’CCGCTACCGA3’), OPX18 (5’GACTAGGTGG3’), OPW5 (5’GGCGGATAAG3’) e ERIC2 (5’AAGTAAGTGACTGGGGTGAGCG3’). Dez nanogramas de DNA genômico foram amplificados na presença de tampão de PCR 1X, 0,25 mM de dNTPs, 2,5-3,0 mM cloreto de magnésio, 0,25-1,6 µM de primers e 1 u de Taq DNA polimerase, em um volume final de 25 µL. O programa de amplificação compreendeu desnaturação a 92ºC/40 segundos, anelamento a 40ºC/90 segundos e extensão a 72ºC/120 segundos, totalizando 40 ciclos. Os produtos de PCR foram submetidos à eletroforese em géis de agarose corados em brometo de etídio, seguido por captura da imagem em sistema digital KodaK Edas 290. Os graus de similaridade foram estimados pelo índice de Jaccard (J) e a análise de agrupamento pelos métodos SAHN e UPGMA do programa NTSYS-pc, versão 2.02.

RESULTADOS:

Os cinco primers testados foram selecionados com base no número e na nitidez das bandas produzidas, onde o número de fragmentos gerados por primer variou de 13 (AM13 e OPX4) a 18 (ERIC2) e o tamanho dos fragmentos variou de 100 a 3000 pb. Tais primers produziram um perfil eletroforético altamente complexo com fragmentos variáveis presentes em todos ou apenas em alguns indivíduos dessa determinada população. Nas análises de RAPD, as reações de amplificação dos fragmentos de DNA geraram 50 (60%) bandas polimórficas e 33 (40%) monomórficas em um total de 83 caracteres. Os padrões de bandas de DNA foram empregados para cálculo dos valores de similaridade genética, os quais mostraram similaridade mínima de 67% e máxima de 83%. Os resultados geraram um fenograma que mostra a separação dos acessos em dois grupos principais: no primeiro grupo, subdividido em dois subgrupos com coeficiente de similaridade variando de 71% a 83%, incluem-se 6 indivíduos (subgrupo A: L1, L3, L4, L2 e subgrupo B: L5, L7). O segundo grupo é constituído por um indivíduo isolado (L6), apresentando distanciamento genético em relação aos demais.

CONCLUSÕES:

Os indivíduos estudados apresentaram 60% de polimorfismo genético, observando-se uma maior proximidade entre os indivíduos L3 e L4 (83%), enquanto o indivíduo L6 apresentou-se distante geneticamente em relação aos demais. O conhecimento da distribuição genética nessa população oferece suporte para a reprodução dirigida para fins de repovoamento, baseado em dados de compartilhamento de caracteres entre os espécimes. Os resultados deste estudo demonstram que a técnica de RAPD pode ser útil para caracterizar geneticamente espécies nativas de lambari Astyanax sp. B, considerando a alta reprodutibilidade da amplificação e o nível do polimorfismo obtido. Sendo assim, tais marcadores apresentaram-se eficientes para detectar polimorfismo nesta espécie, podendo ser utilizados como uma poderosa ferramenta na obtenção de informações relevantes para programas de repovoamento e melhoramento genético.

Instituição de fomento: CNPq, SETI/UGF, PUCPR
 
Palavras-chave: variabilidade genética; RAPD; Astyanax sp. B.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006