IMPRIMIR VOLTAR
G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
QUANTO MAIS PRÓXIMOS MAIS DISTANTES. A SEGREGAÇÃO URBANA NA GRANDE FLORIANÓPOLIS NO MUNICÍPIO DE SÃO JOSÉ: O CASO VILA DANE E BOSQUE DAS MANSÕES
Vanesca Cabral Corrêa 1
(1. Universidade do Estado de Santa Catarina)
INTRODUÇÃO:

Este trabalho visa analisar um caso de segregação urbana decorrente da forma de produção do espaço e do uso do território num bairro no município de São José, localizado na região da Grande Florianópolis/SC. Na década de 70 a segregação era observada nas cidades grandes, mas atualmente nas cidades médias, que crescem com taxas superiores às cidades grandes, o processo segregatório adquire uma grande visibilidade.

A segregação urbana no Brasil era um processo que há 15 anos atrás ocorria apenas nas metrópoles, como o Rio de Janeiro e São Paulo, agravando cada vez mais a condição econômica e social das famílias de baixa renda.

Atualmente é um fenômeno que está ocorrendo em cidades médias, e para que não aconteçam os mesmos problemas das metrópoles, este assunto deve ser cada vez mais estudado e analisado, para que se possa planejar uma ação e minimizar os problemas que a segregação realiza no espaço.

Na localidade, estudamos a convivência de duas classes sociais distintas onde a contradição acontece no momento em que estas duas classes sociais estão localizadas num mesmo lugar competindo pelo mesmo espaço.

O Objetivo geral deste trabalho é entender o processo de segregação espacial e urbana num bairro no município de São José.

Também buscamos compreender a estrutura urbana do local, ou seja, como as casas estão organizadas, distribuídas; elaborar uma análise das diferenças de classes na localidade e os motivos que levaram a viverem na localidade.
METODOLOGIA:

Considerando o método “o caminho filosófico da pesquisa científica, a visão de mundo que embasa nossa leitura da realidade” optou-se neste trabalho utilizar o método dialético que “está ligado ao fenômeno da contradição, ou, em outros termos, do conflito”.

A dialética demonstra que a contradição está dentro da realidade e baseada em dois termos – tese e antítese -, sendo a síntese uma nova tese.

A partir do momento em que a noção de antítese nos leva a uma noção de unidades de contrários e que significa a “convivência na mesma totalidade de dois pólos que, ao mesmo tempo, se repelem e se atraem” (DEMO, 1987), ou seja, classes diferentes que convivem no mesmo espaço produzem formas diferentes de convívio.

Portanto, classes diferentes, com projetos de vida diferentes e com formas diferentes de uso do território ocupam e produzem um mesmo lugar, ou um lugar próximo.

É neste momento que o espaço urbano reproduz a dialética, entre o “capital e a sociedade, conduzindo a cidade à degradação do meio ambiente e das condições de vida” (CARLOS, 1994). Estas degradações podem ser observadas na paisagem, através do tipo de moradia (material utilizado) e a sua localização.

As ferramentas utilizadas para a realização deste trabalho foram pautadas nas seguintes etapas:

Revisão bibliográfica, análise do censo 2000 do IBGE, (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística) e trabalhos de campo.

RESULTADOS:

A urbanização atual intensifica a pobreza, pois sempre houve pobreza nas cidades, independente do modo de produção, mas devido ao modelo sócio-econômico e a sua estrutura física, que faz dos habitantes das periferias com menos estruturas pessoas ainda mais pobres economicamente. Fatores como a especulação imobiliária, os vazios urbanos, a carência de serviços, acabam intensificando a problemática urbana.

Em relação à área de estudo a Vila Dane foi construída em 1971, segundo a prefeitura ela está localizada no Bairro Roçado e é considerado um loteamento irregular, ou seja, tem registro na prefeitura, porém não possuem todos os requisitos, como canalização e tratamento de água e esgoto, para a sua regulamentação.

Neste caso, a população procurou esta área devido ao preço dos terrenos e também por estar próximo as mais importantes vias de tráfego da região, a BR-101 e a BR-282 (comumente chamada de Via Expressa), que ligam, respectivamente, a cidade de São José com o norte e sul do Estado e a Via Expressa sendo o único meio de ligação do continente com a parte insular da capital.

Já o Bosque das Mansões foi construído em 1979, oito anos depois da Vila Dane, ocupando então a área pertencente ao loteamento se constituindo num caso de auto-segregação.

Este tipo de especulação é fundamentado no fato de ser símbolo de ascensão social, tendo assim um valor de troca.

CONCLUSÕES:

Observa-se neste trabalho que a segregação espacial está confirmada, configurada no Bosque das Mansões, um loteamento exclusivo para as classes de alto poder aquisitivo.

Quando uma área se desenvolve rapidamente ela costuma atrair aqueles que vivem a margem da sociedade, ou seja, pessoas que são excluídas pelo próprio sistema capitalista, e que para Marx são as pessoas que estão inseridas no “exército industrial de reserva”, para perto das áreas luminosas como explica Santos (1997), na esperança de conseguir algo para si.

A apropriação dos lugares públicos como forma de valor de uma propriedade privada, separa-o da convivência de outras pessoas, com cercas e muros, criando uma artificialidade no cotidiano das pessoas que ali vivem ou apenas passam por ali.

Assim fica evidente, na paisagem, na diferenciação dos bairros, nos gestos, nos olhos, no silêncio, na expressão e nos traços do rosto das pessoas a contradição entre a produção coletiva do espaço e sua apropriação privada, fundada na contradição capital-trabalho. Uma (re)produção espacial que se dá em função dos interesses, necessidades e objetivos de uma parcela da sociedade que personifica o capital e não a sociedade como um todo (CARLOS, 1996: 82).

Sendo assim os desequilíbrios e as desigualdades não podem mais ser ignorado, o espaço urbano se reproduz, reproduzindo a segregação, fruto do privilégio conferido a uma parcela da sociedade brasileira.

 
Palavras-chave: Segregação espacial; Urbanização; cidades médias.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006