G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social |
|
QUANDO A PESQUISA E A EXTENSÃO SE UNEM: CONSTRUINDO ESPAÇOS DE MOBILIZAÇÃO. |
|
Frances Borges Marques Zanandréa 1 |
Carolina Fonseca Dadalto 1 |
Kalina Laurindo Rodrigues 1 |
Míria Raquel Destefani 1 |
Tatiane Bossatto 1 |
Edinete Maria Rosa 2 |
|
(1. Curso de Psicologia da Universidade Federal do Espírito Santo / UFES; 2. Dept. de Psicologia Social e do Desenvolvimento-Universidade Federal do ES/ UFES) |
|
|
INTRODUÇÃO: |
A política de defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes se pauta na nova doutrina da proteção integral surgida em meados do século passado e consagrada nacionalmente com o Estatuto da Criança e do Adolescente - Ecriad. Essencialmente esta política se concretiza em duas modalidades: a política básica e a política social. A política básica é universal e se destina a todas as crianças e adolescentes sem restrições de condições. Já a política social, apesar de universal, é destinada a quem dela necessitar e concretiza-se em ações direcionadas a determinadas parcelas bem específicas da população: crianças e adolescentes que trabalham, que vivem em situação de rua, que são violentadas, dentre outras. Ambas as políticas tem sido foco de muitas pesquisas e análises. Dados encontrados no Espírito Santo mostraram que em programas e projetos sociais a efetivação esperada de tais políticas muitas vezes não ocorre. Além da precariedade de recursos e instalações físicas as entidades contam com a falta de qualificação dos seus trabalhadores. Isso tem gerado uma sensação de ineficiência no trabalho e um aumento na percepção das dificuldades no trato com essa clientela. Diante disto, realizamos uma pesquisa que consistiu em verificar se por meio de encontros e reflexões os grupos se mobilizariam na busca de soluções para os problemas enfrentados por eles no dia-a-dia e quais seriam as estratégias de ações que eles elegeriam como as mais eficazes para os problemas apresentados. |
|
METODOLOGIA: |
O estudo caracterizou-se como pesquisa-ação e consistiu na realização de três cursos de extensão com trabalhadores de programas que prestam assistência a crianças e adolescentes tais como: Conselhos Tutelares, PETIs (Programa de Erradicação do Trabalho Infantil), Programa Sentinela, Casas de Passagem e abrigos, Secretarias de ação social dos município da região metropolitana da Grande Vitória, Sul do ES e Norte do ES. O número de participantes de cada grupo variou de 19 a 45 pessoas somando o total de 99 pessoas nos três grupos (91% de mulheres e 9% de homens). Foram utilizadas dinâmicas, discussões em grupos e palestras como forma de introduzir os assuntos e gerar reflexão em torno das questões. A técnica utilizada para levantamento de propostas de ações frente aos problemas foi o sociodrama proposta por Moreno. Esta técnica propõe o desenvolvimento da espontaneidade e da vitalidade criadora através da dramatização de cenas relevantes para o grupo. A ação dramática impulsiona a análise de condutas estereotipadas e posturas enrijecidas que impedem o grupo de encontrar novas soluções e respostas às suas questões. Os encontros tiveram duração mínima de 8 horas e no máximo 16 horas. Os dados foram registrados pelos pesquisadores e organizados em relatórios específicos para cada grupo sendo identificados como grupo 1, grupo 2 e grupo 3 (G1, G2 e G3 respectivamente). A análise dos dados consistiu em uma sistematização dos dados coletados por conteúdos emergidos. |
|
RESULTADOS: |
Apesar das diferenças regionais específicas de cada grupo observou-se grande semelhança com relação às principais dificuldades quanto ao trabalho desenvolvido: Dúvidas quanto ao desenvolvimento da criança e adolescente (aspectos cognitivo, afetivo, moral e físico - especialmente no que se refere à sexualidade); pouco conhecimento acerca da legislação básica relativa a criança e ao adolescente; precariedade das estruturas físicas e materiais das entidades; e insuficiência de investimentos governamentais destinados a estas instituições. Quanto às soluções apresentadas temos: G1 - Articulação com o poder público para melhoria das instalações físicas; planejamento de ações específicas para arrecadação de verba para o projeto; estabelecimento de processo de formação continuada coordenada pelos próprios técnicos do projeto; maior comprometimento individual. G. 2 e G. 3 - Maior integração entre as instâncias de defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes e percepção da necessidade de novas formações. As estratégias apresentadas foram: G 1: Maior união entre os trabalhadores; maior comprometimento individual; formação de comissões para encaminhamento das propostas; realização de eventos para arrecadar fundos. G 2 - Maior integração entre as instâncias de defesa dos direitos das crianças e dos adolescentes; planejamento de novas capacitações. G. 3- Maior união entre os trabalhadores; planejamentos integrados dos profissionais para realizarem determinadas ações. |
|
CONCLUSÕES: |
A pesquisa-ação mostrou-se adequada para a investigação proposta pela pesquisa pois possibilitou, não somente uma simples coleta e análise de dados, mas uma real intersecção entre pesquisados e pesquisadores criando um clima favorável para que se consiga um retrato mais fidedigno da realidade. A discussão e problematização, das diversas questões referentes ao trabalho com crianças e adolescentes fomentaram mudanças nas práticas e instigaram a busca de melhores condições para o cuidado destas. As mudanças foram apontadas pela emergência de propostas de enfrentamento dos problemas. Percebemos, no entanto, que as soluções e estratégias giraram em torno dos esforços individuais dos seus membros. Somente um grupo viabilizou uma ação mais política (G. 1). Outra percepção de dois dos três grupos (G.2 e G.3) foi a da necessidade de melhorar a articulação entre os diversos grupos e instâncias que lidam com a questão da criança e do adolescente. Isso mostrou-se um resultado importante pois ultrapassa as fronteiras da própria instituição e cria a idéia de trabalhos em rede. Finalmente, percebeu-se que a forma como foi conduzida a coleta de dados favoreceu a busca de consenso, de participação e envolvimento de todos os integrantes dos grupos o que já foi um passo para o processo de organização que requer qualquer iniciativa de mudança. |
|
Instituição de fomento: PETROBRAS
|
|
|
|
Palavras-chave: ECRIAD; Política Social; Direito da Criança e do Adolescente. |
|
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006 |