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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 5. Teoria e Análise Lingüística

Análise Experimental da vogal epentética do Português Brasileiro

Sarah de Araújo Carvalho  1
Erika Parlato-Oliveira  1
Thaís Cristófaro Alves da Silva  2
(1. Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Minas Gerais- UFMG; 2. Faculdade de Letras da Universidade Federal de Minas Gerais- FALE/UFMG)
INTRODUÇÃO:

A epêntese é um fenômeno caracterizado pela emissão de uma vogal entre duas consoantes não líquidas, não representadas na escrita, como por exemplo, na palavra “pneu”. A inserção desta vogal transforma estruturas silábicas do tipo CC em estrutura do tipo CVC. Cada língua possui uma vogal epentética. No português brasileiro, a vogal emitida entre as duas consoantes não líquidas é a vogal /i/. As vogais epentéticas vêm despertando interesse dos estudiosos, porém ainda existem poucos estudos sobre a vogal epentética no português brasileiro. Buscando conhecer um pouco mais sobre as características acústicas da vogal epentética do Português Brasileiro elaboramos um pequeno experimento acústico exploratório para comparar os dados da vogal /i/ epentética, alçada e regular. Portanto, o objetivo do presente trabalho é verificar se há diferença nas características acústicas de F1, F2, F3 e da duração entre a vogal /i/ epentética, alçada e regular do Português Brasileiro.

METODOLOGIA:

A amostra de fala de quatro informantes universitários, dois do sexo feminino e dois do sexo masculino com idades variando entre 21 e 24 anos, foram analisadas acusticamente. Todos os informantes eram naturais da cidade de Belo Horizonte, tinham pais mineiros e não apresentaram nenhum desvio da fala ou qualquer problema de audição. Cada informante nomeou ao todo nove figuras, sendo que três figuras continham a vogal /i/ epentética, três a vogal /i/ alçada e três a vogal /i/ regular. As palavras nomeadas foram: pneu, psicólogo, objeto, bexiga, menino, penico, pijama, pirâmide e pipoca. As gravações foram realizadas na cabine acústica do Laboratório de Fonética da Faculdade de Letras da UFMG. Para a gravação foi utilizada fita DAT modelo TCDD8 da Sony e microfone condensador de electro. Os dados foram transferidos para um computador e posteriormente gravados em CD-R. As medições acústicas foram feitas utilizando o programa de análise acústica Praat 4.3.21©. Para as medições da qualidade vocálica, foram selecionados 20 ms, da porção central da vogal /i/. O programa então indicava a média correspondente a esses 20 ms. Depois de medidos, os dados foram submetidos à análise estatística. As ferramentas estatísticas utilizadas foram Análise de Variância (ANOVA) e estatísticas descritivas. O nível de significância utilizado foi 0,05.

RESULTADOS:

Quanto ao F1, os valores nos três contextos estudados, foram bem próximos, 382,47 Hz para a vogal /i/ epentética, 352,52 Hz para a vogal /i/ alçada e 344,83 Hz para a vogal /i/ regular. A diferença entre valores de F1 da vogal /i/ epentética, alçada e regular não foram significativas, já que apresentaram p>0,05. Quanto ao F2,os valores nos três contextos foram bem próximos, 1976,88 Hz para a vogal /i/ epentética, 1977,63 Hz para a vogal /i/ alçada e 1943,12 Hz para a vogal /i/ regular. A diferença entre os valores de F2 nos três contextos estudados também não foram significativas já que p>0,05. Quanto ao F3, os valores também foram similares nos três contextos, 2908,35 Hz para a vogal /i/ epentética, 2871,86 Hz para a vogal /i/ alçada e 2875,18 Hz para a vogal /i/ regular. A diferença estatística de F3 da vogal /i/ epentética, alçada e regular não foram significantes já que p>0,05. Quanto a duração,os valores da vogal /i/ alçada e regular foram  bem próximos, 0,095 segundos e 0,088 segundos, respectivamente. Já a vogal /i/ epentética apresentou duração menor se comparada com as outras (0,052  segundos). Encontramos valores estatisticamente significantes, p<0,05, na duração da vogal epentética em relação à alçada e regular. Não foi estatisticamente significante a diferença entre a duração da vogal /i/ regular e alçada.

CONCLUSÕES:

Podemos concluir, baseados neste trabalho, que não há diferenças entre F1, F2 e F3 da vogal /i/ epentética, regular e alçada e que a duração da vogal /i/ epentética é menor do que a duração da vogal /i/ alçada e regular.

 
Palavras-chave: Epêntese; Análise acústica; Vogal alta anterior.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006