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H. Artes, Letras e Lingüística - 3. Literatura - 1. Literatura Brasileira
A LITERATURA NA AULA DE LÍNGUA PORTUGUESA
Carla Maria Sgnaulin 1
Mary Stela Surdi 1
Fabiana Cardoso Fidelis 1
Nara Boneti Foresti 1
Mary Neiva Surdi da Luz 1
Ana Lúcia Matiello 1
(1. Universidade Comunitária Regional de Chapecó/UNOCHAPECÓ)
INTRODUÇÃO:
Em função do desejo e afirmação de uma educação pragmática, a literatura muitas vezes tem seu espaço reduzido nas aulas de língua. Entendendo que a literatura não pode ser desvinculada de um projeto social e cultural da sociedade, seu lugar na escola deveria ter mais abrangência e na aula de língua deveria ter seu espaço garantido. Reflexões sobre a literatura nas aulas de língua servem para que a tarefa do "educador" e o objeto de seu trabalho, a própria Literatura, não se tornem estéreis. Para tanto, é preciso repensar o dito processo de crise, ou, como querem alguns teóricos, de falência do ensino da literatura, que aponta para fatores como a baixa qualidade, (ou inexistência) de leituras feitas por alunos ou para a ineficácia da prática do professor de língua como responsáveis pela não formação do sonhado leitor crítico. Tendo em vista tal quadro, este projeto objetivou diagnosticar e analisar como se dá o trabalho com a literatura na aula de língua portuguesa, no ensino médio, nas escolas estaduais de Chapecó-SC; investigou também como o fazer pedagógico vem se constituindo em um lugar (ou não) de construção de sujeitos leitores, escritores, falantes e ouvintes e se a concepção sócio-histórica (histórico-cultural), que tem servido de base para propostas de ensino e que norteia os documentos oficiais de ensino no estado de Santa Catarina, tem se efetivado nas práticas em sala de aula.
METODOLOGIA:
Para a coleta de dados foi utilizada como ferramenta metodológica a aplicação de questionários a alunos e professores. Os questionários, compostos por perguntas abertas e perguntas fechadas, foram entregues por escrito aos informantes, que os também responderam por escrito. Antes da aplicação definitiva, foram aplicados questionários pilotos para testagem. Para a aplicação dos questionários, foi realizado um contato inicial, de grande importância para motivar e preparar os informantes, a fim de que suas respostas fossem realmente sinceras e adequadas. A aplicação definitiva se deu nos meses de maio a setembro de 2005, com a aplicação de mais de 1.400 questionários, numa amostragem de 20% dos alunos matriculados no ensino médio. Os dados obtidos nos questionários foram classificados, codificados, tabulados e analisados. Depois de tabulados, os dados foram analisados quantitativa e qualitativamente, articulados ao referencial teórico e confrontados aos objetivos do estudo, a fim de se ver o seu significado para a pesquisa.
RESULTADOS:
Os dados coletados nesta pesquisa permitem responder às perguntas formuladas em relação ao ensino de literatura no ensino médio da rede pública estadual. Entre estas respostas, constatou-se que o conceito predominante de literatura está ligado a valores tradicionalmente repassados pela escola, muitas vezes, distorcidos pelos usos equivocados que se faz do texto literário em sala de aula. Assim, literatura é concebida como o estudo de obras ou de autores e de períodos literários, principalmente. Os dois elementos dominantes, citados por professores, na definição de literatura são “prazer” e “tempo”. O “prazer de ler” a fim de desenvolver a prática de leitura relaciona-se à leitura que não deve ser obrigada, mas incentivada. O reflexo dessa concepção se mostra nos conteúdos que são trabalhados na aula de literatura, na maioria delas se faz a historiografia da literatura ou o estudo biográfico de alguns autores. Contudo, tanto na definição de literatura quanto na remissão às experiências positivas, os professores destacam o trabalho com o autor e os períodos literários, associando a literatura ao tempo, ao passado e ao antigo. Os alunos investigados afirmam que literatura é “ler obras” e que estudam períodos literários e autores e, ao serem questionados quanto à leitura de algumas obras, tanto as contemporâneas como as tradicionalmente estudadas na escola, demonstram não as terem feito.
CONCLUSÕES:
Mesmo após a formação de novos professores de literatura e língua, não há leitura nem discussão de textos literários nas escolas de Chapecó. Os professores defendem teoricamente a idéia de desenvolver a prática de leitura nos alunos, mas trabalham com a vida dos autores e obras. A aula de língua portuguesa tem um estatuto de ensinar a ler e escrever bem, independente do texto literário, e os professores passam a enfatizar a linguagem como um instrumento para o trabalho. É importante apenas redigir bilhetes, cartas, receitas de bolo, textos informativos e relatos. Até são contadas histórias, mas para informar, sem o caráter “literário” que poderia ser desenvolvido com o aluno. A pesquisa, tanto nos aspectos de revisão teórica quanto na análise dos dados, conduziu a um repensar, por todos os membros do grupo de pesquisa, em relação ao papel da literatura no ensino de línguas. Também está sendo repensado o papel da literatura na formação do professor de língua, ou seja, no curso de Letras da UNOCHAPECÓ, e atividades de extensão com professores e graduandos estão sendo promovidas a fim de discutir e problematizar a aula de Língua Portuguesa e a aula de Literatura na aula de língua.
Instituição de fomento: UNOCHAPECÓ
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Literatura; ensino médio; metodologia.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006