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C. Ciências Biológicas - 8. Genética - 2. Genética de Microorganismos

NOVA METODOLOGIA PARA OBTENÇÃO DE MATERIAL GENÉTICO PARA ESTUDOS DE DIVERSIDADE DE Pyricularia grisea (COOK) SAAC

Leonardo Bittencourt Scoz 1
Maycon Eduardo Nicoletti 1
Lucas Miura 1
Fernando Adami Tcacenco 1
(1. Laboratório de Biotecnologia Vegetal, Estação Experimental de Itajaí / EPAGRI)
INTRODUÇÃO:

O fungo Pyricularia grisea é o agente etiológico da brusone, doença de maior importância econômica na cultura do arroz.  Esse fungo possui alta variabilidade genética e por essa razão são encontradas inúmeras raças fisiológicas desse patógeno em todo o Brasil. De maneira convencional, o estudo da diversidade de P. grisea é realizado através da avaliação da virulência de isolados, inoculados em vários genótipos de arroz, com diferentes genes de resistência à brusone. Atualmente, muitos trabalhos vêm sendo realizados através da análise de DNA, por meio de marcadores moleculares. Para tanto, o cultivo do fungo é feito através de vários repiques em diferentes meios de cultivo tais como AA, BDA, CF e BDE, levando em torno de 30 dias para que sejam possíveis as análises genéticas. Além de laboriosa, essa metodologia pode comprometer os resultados; conforme Bedendo et al (1979), apenas um repique é capaz de originar formas diferentes de virulência do fungo. Assim sendo, são requeridas novas metodologias, que tragam rapidez e segurança na informação gerada. Para tal, a cepa estudada deve ser livre de variação em laboratório, e o DNA deve ser extraído diretamente do isolado usado como inóculo no método convencional, para ser possível a comparação entre este método e a análise molecular. O objetivo deste trabalho é criar uma metodologia rápida e confiável na análise molecular de Pyricularia grisea, diminuindo os riscos de variação do patógeno e seu tempo de cultivo in vitro.

METODOLOGIA:

O isolado monospórico de P. grisea foi cultivado em meio AA (ágar-ágar) e BDA (batata, dextrose e ágar). Deste, foram feitas cinco repetições em meio CF (centeio fino e ágar), cada qual contendo três pedaços de papel filtro com 1cm2. Estas foram incubadas por 7 dias a 28oC e fotoperíodo de 12 horas. Foram comparadas duas metodologias de coleta de material: (i) fragmentos de papel filtro com sobreposição de micélio, e (ii) amostras feitas com o auxílio de um furador. As amostras foram armazenadas em tubos de 2 mL. A extração de DNA foi realizada nas 15 amostras geradas em cada metodologia de coleta, sendo feitas três rodadas de extração distintas. As amostras foram maceradas com N líquido, e logo após foram adicionados 750μL do tampão de extração (250 mM NaCl, 100mM Tris- HCL, 100mM EDTA pH 8,0) e 750μL de SDS 10%. Após incubação de 30 min a 65oC adicionaram-se 300 μL de acetato de potássio e incubou-se a -20oC por 10min. Centrifugou-se a 15.560g por 15 min e o sobrenadante foi transferido para novo tubo, acrescido de 750μL de isopropanol e incubado a -20oC por 10min. Realizou-se, então uma centrifugação a 15.560g por 15 min. O pellet foi lavado com etanol 70%, seco em câmara de fluxo e diluído em 40μL de tampão TE. Um controle negativo para reagentes de extração, assim como pedaços de papel filtro e meio de cultura, foi utilizado. A visualização do DNA foi feita através de corrida eletroforética em gel de agarose 0,8% por 90 min e corada com brometo de etídio.

RESULTADOS:

Foi possível extrair DNA de todos os isolados de P. grisea testados. Todos os métodos adotados foram eficientes, sendo a extração de DNA de micélio crescido sobre papel filtro o que forneceu maior quantidade de DNA. Os três tubos controle, contendo meio de cultura, papel filtro estéril e reagentes, envolvidos no processo de extração, não apresentaram vestígios de DNA; a ausência de DNA nos controles torna-se um resultado importante, comprovando que todo o DNA obtido provém unicamente do fungo. Os isolados utilizados neste trabalho apresentaram bom crescimento micelial em meio CF, o que torna possível a coleta do material para análise molecular com apenas 10 dias de cultivo, ao contrário dos 30 ou mais dias normalmente requeridos pelo método tradicional, que utiliza o meio líquido BDE para obtenção de massa micelial. Mesmo tendo gerado uma quantidade menor de material, quando comparado com o cultivo em meio líquido, o método proposto forneceu material suficiente para extração de DNA para posterior utilização em metodologias moleculares. Além disso, por reduzir o número de repiques, possivelmente a metodologia aqui proposta diminui a probabilidade de variação in vitro dos isolados, trazendo, portanto, maior credibilidade nos resultados gerados e facilitando os estudos de diversidade genética de P. grisea.

CONCLUSÕES:

Através deste estudo, ficou demonstrada a possibilidade de extração de DNA diretamente de isolados de Pyricularia grisea crescidos em meio de centeio fino, sem a necessidade de repicagens para o meio líquido BDE, como tradicionalmente feito. Das duas metodologias de coleta testadas, o método do micélio crescido sobre papel filtro forneceu maior quantidade de DNA. Portanto, essa nova metodologia torna-se eficiente, por proporcionar rapidez na obtenção de DNA para análise genética de P. grisea, eliminando várias etapas da cultura do fungo.

Instituição de fomento: L. B. Scoz e M. E. Nicoletti são bolsistas do CNPq (Processo 507096/2004-5)
 
Palavras-chave: Extração de DNA; Brusone; Variabilidade genética.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006