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C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 2. Comportamento Animal

IMPACTO DO COMPORTAMENTO FORRAGEIRO DE ABELHAS IRAPUÁS Trigona spinipes Fabricius (Apidae, Meliponini) SOBRE A VIABILIDADE DE GRÃOS DE PÓLEN DE ONZE-HORAS Portullaca grandiflora HOOK, (Portulacaceae)

Leônidas João de Mello Jr 1
Marcelo de Toffol  1
Geraldo Moretto 2
Afonso Inácio Orth  1
Miguel Pedro Guerra  1
Maurício Lenzi  1
(1. DEPTO. FITOTECNIA, UNIVERSIDADE FEDERAL DE SANTA CATARINA/UFSC; 2. DEPTO. CIÊNCIAS NATURAIS, UNIVERSIDADE REGIONAL DE BLUMENAU/FURB)
INTRODUÇÃO:

O pólen constitui uma importante fonte protéica na alimentação das abelhas que ao transportá-lo, em sucessivas visitações, e a diferentes flores, contribui para a reprodução das plantas. Ao coletarem grãos de pólen das anteras da flor, as abelhas da família Apidae realizam uma seqüência de movimentos forrageiros bastante complexos, onde os grãos de pólen são compactados e misturados com secreções regurgitadas pela abelha e transferidos para a corbícula; esta é uma estrutura localizada na face externa da tíbia posterior, que armazena os grãos de pólen como uma massa bastante compacta. No entanto, alguns grãos de pólen não são armazenados na corbícula e a abelha, involuntariamente, transporta-os presos aos pêlos do corpo. Diante do conhecimento de que o polén é fundamental para o processo reprodutivo da planta, é necessário saber se depois de retirado da flor, o pólen proveniente dos diferentes tipos de transporte por parte das abelhas, está viável na visita às flores subseqüentes. O objetivo deste estudo foi o de comparar o impacto dos mecanismos de transporte de pólen por parte de Trigona spinipes Fabricius (Apidae, Meliponini) sobre a viabilidade dos grãos de pólen, em cultivo de onze-horas (Portulaca grandiflora, HOOK).

 

METODOLOGIA:
A coleta das abelhas ocorreu em área de cultivo semiprotegido de P. grandiflora, na cidade de Blumenau durante o mês de dezembro de 2005. Operárias de T. spinipes foram sugadas para dentro de um tubo adaptado, enquanto estavam em plena atividade de coleta de pólen. Coletou-se amostras de pólen em três tratamentos distintos: (1)corbícula: a corbícula da abelha foi imediatamente removida, sua massa de pólen extraída e armazenada em eppendorf com algodão hidrófilo. (2) Demais partes do corpo da abelha: grãos de pólen presos nas demais partes do corpo da abelha foram coletados com pincel macio e (3) Flor: amostras de pólen retiradas da flor também foram assim coletadas e armazenadas. A viabilidade dos grãos de pólen foi analisada por método de germinação in vitro, em meio gel - ágar (0,7%), ácido bórico (40 mg.L-1) e sacarose 20%0 - no Laboratório de Genética da Universidade Regional de Blumenau. A germinação foi observada com auxílio de microscópio estereoscópico após três horas. Os grãos de pólen germinados foram contados, considerando como tal, aqueles cujo comprimento do tubo polínico ultrapassou o diâmetro do próprio grão de pólen. Os valores foram atribuídos percentualmente, contando na placa os que germinaram e não germinaram. O experimento foi delineado completamente casualizado e os percentuais médios de germinação para cada tratamento foram analisados estatisticamente pela análise de variância (5%) e submetidos ao teste de Tukey para separação de médias.
RESULTADOS:
Foram observados aproximadamente 300 grãos de pólen por setor das placas, totalizando a observação de 1200 grãos de pólen por tratamento. Os grãos de pólen procedente das corbículas das abelhas germinaram a uma taxa de 1,2% ± 1,61. Os grãos de pólen provenientes do dorso da abelha germinaram a uma taxa de 9,9% ± 2,32 enquanto aqueles coletados diretamente da flor germinaram a uma taxa de 9,3% ± 1,72. Conforme os dados demonstrados, verifica-se uma significativa diferença entre a viabilidade do pólen coletado da corbícula de Trigona spinipes Fabricius (Apidae, Meliponini) e os grãos de pólen coletados nos demais tratamentos. A taxa de germinação dos grãos de pólen coletados aderidos aos pêlos do corpo da abelha e aqueles obtidos diretamente da flor não se mostrou estatisticamente diferente.
CONCLUSÕES:
Conforme os resultados apresentados, conclui-se que o pólen de Portullaca grandiflora HOOK, (Portulacaceae) compactado na corbícula de Trigona spinipes Fabricius (Apidae, Meliponini) torna-se inviável ao serviço de polinização. Tal inviabilização pode estar relacionada com atividade enzimática da secreção regurgitada pela abelha ou simplesmente pela ação mecânica do movimento sobre os grãos, necessitando de trabalhos mais específicos para confirmação. Entretanto, a importância da abelha Trigona spinipes Fabricius (Apidae, Meliponini) como polinizador pôde ser evidenciada pela significativa quantidade de pólen que esta transporta involuntariamente em seus pêlos. Esta informação ampara-se na ausência de diferenças estatísticas entre os valores de germinação de grãos de pólen obtidos diretamente da flor e aqueles aderidos aos pêlos da abelha.
 
Palavras-chave: Viabilidade de Pólen "in vitro"; Abelhas nativas; Corbícula.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006