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C. Ciências Biológicas - 14. Zoologia - 2. Comportamento Animal

ANÁLISE DO COMPORTAMENTO PREDATÓRIO DE AVES NO ZOOLÓGICO DE POMERODE-SC COM NINHOS ARTIFICIAIS E OVOS DE CODORNA JAPONESA (Coturnix coturnix)

Juliane Andressa Chicatto 1, 2
Zelinda Maria Braga Hirano 3, 4
(1. Universidade Regional de Blumenau/FURB, Curso de Ciências Biológicas; 2. Bolsista do Programa de Educação Tutorial/PET; 3. Universidade Regional de Blumenau/FURB, Departamento de Ciências Naturais/DCN; 4. Tutora do Programa de Educação Tutorial/PET)
INTRODUÇÃO:

Devido ao aumento do impacto humano, que afeta inúmeros organismos do nosso planeta, é crescente a necessidade de conservar a biodiversidade global. Nos dias de hoje, as maiores ameaças à biodiversidade resultam de atividades humanas que levam à destruição, fragmentação, degradação de hábitats, mudanças climáticas globais, exploração predatória de espécies, introdução de espécies exóticas e ao aumento da propagação de doenças. A avifauna neste contexto está sendo constantemente ameaçada. Entretanto a predação de ninhos vem sendo sugerida como uma das principais causas de declínio de populações de aves, afetando a estrutura e o funcionamento das comunidades. A predação tem sido sugerida como um forte agente de seleção em espécies de aves em período de nidificação, porém, há uma grande dificuldade na realização de estudos de predação com identificação do predador. Um fator que dificulta a identificação das espécies predadoras de ninhos, é o fato da predação ocorrer de forma a não deixar vestígios. Frente aos fatos, surge a necessidade de estudos em cativeiro que viabilizem a descrição das formas de predação na geração de subsídios para os estudos de campo. Sendo assim o presente trabalho teve como objetivos verificar em aves mantidas em cativeiro os padrões de manipulação de ovos, descrever o aspecto dos ovos após predação bem como analisar o comportamento da ave perante o ovo.

METODOLOGIA:

Os experimentos foram conduzidos no Zoológico de Pomerode-SC, localizado no Médio Vale do Rio Itajaí-Açú. Avaliaram-se as formas de predação de ovos por espécies de aves descritas como predadores em potencial: Gralha (Cyanocorax caeruleus), Tucano-toco (Ramphastos toco), Jacupemba (Penelope superciliaris), Jacu-açú (Penelope obscura), Mutum (Crax fasciolata). Para tanto, padronizou-se a utilização de ovos de codorna japonesa (Coturnix coturnix) e a realização de dez experimentos para cada cativeiro. Antes dos procedimentos experimentais, os cativeiros foram analisados para definição do local de colocação dos ninhos e identificação dos indivíduos (faixa de idade, sexo) existentes em cada cativeiro com auxílio do médico veterinário do Zoológico. Colocou-se um ninho e um toco-oco por recinto, o qual foi distribuído de forma aleatória entre altura e chão, pois a taxa de predação de ovos varia entre os estratos de vegetação. Em cada recinto foi colocado um ovo no ninho artificial comprado pronto ou no toco-oco, feito de bambu, com uma abertura lateral, diâmetro de 12cm, e um gancho na parte superior para a fixação do arame. Os dados foram registrados em tabelas, considerando o comportamento dos animais no momento da predação nas categorias: manipular, carregar (bater, conduzir ao bico e movimentar com as patas), engolir e bicar. As características dos ovos predados definiram-se como: intacto, com marcas, parcialmente destruído, totalmente destruído ou desaparecido.

RESULTADOS:

Na análise individual das cinco aves estudadas, observou-se que houve um comportamento evidente para cada uma delas. A gralha (Cyanocorax caeruleus) ingeriu o ovo 35,9% e bicou 30,8% dos eventos. O tucano-toco (Ramphastos toco) obteve maior taxa de predação ao carregar o ovo (41,5%), posteriormente ingerindo com 19,5%. Dentre as quatro categorias e as três subcategorias comportamentais, o jacu-açú (Penelope obscura) manifestou apenas três, sendo que carregar (50%) e bicar (41,7%) apresentaram maior freqüência em relação ao ato de engolir com 8,3%. O jacu-açú (Penelope obscura) e a jacupemba (Penelope superciliaris), ambos do mesmo recinto, apresentaram comportamento semelhante, não havendo dominância entre as espécies no momento da predação. De todas as aves estudadas, o mutum (Crax fasciolata) foi o único que não visitou o ninho em todos os experimentos. Com relação aos ovos, 33,3% foram parcialmente destruídos, ou seja, apresentavam a casca em fragmentos grandes. Totalmente destruído atingiu um índice de 31,7%, estes considerados com a casca em fragmentos pequenos. Os ovos inteiramente ingeridos (16,7%) denominaram-se desaparecidos, 10% permaneceram intactos e 8,3% apresentaram marcas como: arranhados ou perfurados.

CONCLUSÕES:

Ao compararmos cada categoria comportamental individualmente, percebeu-se que, bicar foi o ato mais explorado pelo jacu-açú (Penelope obscura) e a jacupemba (Penelope superciliaris). A categoria manipulação dos ovos foi muito característica nos tucanos (Ramphastos toco). Nas duas modalidades subseqüentes, carregar e ingerir, ficaram caracterizados pela gralha (Cyanocorax caeruleus). Não houve predação no recinto dos mutuns (Crax fasciolata). Quanto aos ovos concluímos que, parcialmente e totalmente destruídos foram os aspectos mais encontrados de predação e os ovos que foram inteiramente ingeridos assemelharam-se aos índices encontrados de ovos intactos. Apenas uma pequena parcela dos ovos apresentava-se com marca.

Instituição de fomento: Programa de Educação Tutorial - PET
 
Palavras-chave: Predação; Aves; Zoológico.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006