A abundância dos bens de consumo produzidos pelo sistema industrial em função da alta demanda é considerada, freqüentemente, um símbolo do sucesso das economias capitalistas. Contudo, esse fato começou a sofrer críticas devido à percepção de que nos atuais padrões de consumo encontra-se a base da crise ambiental (PORTILHO, 2005). A partir desse novo conceito, as organizações buscam demonstrar interesse na preservação do meio ambiente através de gestões ambientais e apoio a instituições ambientalistas, porém poucas delas estão cientes do impacto ambiental que provocam. Nesse sentido, os indicadores de sustentabilidade podem auxiliar essa verificação, pois mensuram aspectos influentes no impacto ambiental.

O Método da Pegada Ecológica pode funcionar como um indicador de sustentabilidade cuja base consiste em estimar a área produtiva necessária para atender às exigências do consumo e do desperdício dos recursos de uma população (WACKERNAGEL; REES, 1996). Algumas vezes a área total requerida excede a disponibilidade existente, o que pode causar vários impactos ambientais. Assim, o método, ao ser aplicado nas organizações, pode auxiliá-las a visualizar sua dependência dos recursos naturais e as conseqüências desse processo, e conscientizá-las para a busca de alternativas de produção sustentável.

O objetivo da pesquisa é verificar o grau do impacto ambiental da fabricação dos produtos de uma indústria de pequeno porte, através do cálculo da Pegada Ecológica (PE), no ano de 2005.

A pesquisa caracteriza-se como sendo exploratória e descritiva. A fase exploratória consistiu no levantamento bibliográfico para ampliar a compreensão dos autores e proporcionar subsídios para a realização do método de pesquisa. Na segunda etapa foi utilizada a pesquisa descritiva quantitativa através de um estudo de caso.

A unidade de análise foi a empresa Injet Mangueiras e Dispositivos Hospitalares Ltda., produtora de mangueiras de policloreto de vinila (PVC) para produtos hospitalares, localizada na cidade de Ribeirão Preto, estado de São Paulo. O espaço temporal compreendeu o ano de 2005, no qual se calculou a Pegada Ecológica total anual e também a PE anual por produto (tipo de mangueira). A unidade utilizada foi metro quadrado.

Os dados foram coletados em fontes primárias e secundárias através de levantamento bibliográfico e documental e por meio de entrevistas semi-estruturadas com o proprietário, a secretária e dois funcionários da produção. As questões visavam detectar o consumo dos principais recursos consumidos pelos processos produtivos. Os itens de consumo considerados no cálculo foram: o consumo de água, o consumo de energia elétrica, a distância percorrida pelo veículo de transporte da organização, os resíduos liberados, o consumo de plástico (matéria-prima) e o consumo de papel e papelão. A área da indústria correspondente ao espaço para o processo produtivo não foi incluída no cálculo, pois representa um valor ínfimo na PE e exige cálculos bastante complexos.

Desde sua criação em 1997, a Injet vem atuando no mercado de mangueiras hospitalares. Possuía, a princípio, dois funcionários que atuavam na área produtiva e hoje, com um crescimento de 5,4% ao ano, possui seis funcionários.

No ano de 2005 a Injet produziu onze principais produtos, todos exigindo PVC como matéria-prima variando apenas no comprimento e espessura. Desses onze produtos três deles se destacaram por demonstrar Pegada Ecológica consideravelmente superior às outras: 37,35m², 5,30m² e 4,41m², representando, respectivamente, 72,66%, 10,31% e 8,58% da área total dos onze produtos.

Esses três produtos resultaram nos maiores valores principalmente por serem mangueiras maiores, exigindo uma quantidade maior de PVC. Além disso, o tempo necessário para a produção é maior o que exige um maior consumo de energia elétrica, água, papel e papelão, combustível, além de liberar uma maior quantidade de resíduos.

A PE total da Injet no ano de 2005 foi de 1.703.340,95m² e a média mensal foi de 141.945,08m². Do total anual, 96,45% provêm do consumo de plástico e 2,25% do consumo de papel e papelão; os três recursos de maior representatividade. O consumo de papelão provém das embalagens (caixas de papelão) para as mangueiras.

A Injet não possui alto grau de automação em suas máquinas o que resulta em maiores falhas humanas, como por exemplo, perda de material. A perda na produção da Injet em 2005 foi de 9,7%.

Por fim, com base nos resultados obtidos, verifica-se que a área produtiva necessária para suprir os recursos utilizados e absorver os resíduos eliminados pelo processo produtivo dos produtos da Injet em 2005 é considerável (1.703.340,95m² no ano).

Observa-se que o consumo de plástico é o item que representa o maior percentual da Pegada Ecológica (96,45%). Apesar de a organização não poder reduzir significativamente o consumo de plástico por ser matéria-prima dos produtos e estar diretamente ligada à sobrevivência da empresa, sua perda é bastante alta e é um item que se for reduzido não influenciará negativamente na sua atividade fim.

O consumo de papel e papelão representa o segundo maior percentual da PE total (2,25%), devido também ao fato de estar ligado diretamente à produção.

Portanto, com base no método da Pegada Ecológica, o impacto ambiental da organização em estudo é considerável, principalmente por causa da sua matéria-prima, que além de ser um material difícil de ser absorvido pelo meio ambiente, não pode ser reciclado por ser material hospitalar, propício à contaminação. Porém, o valor da Pegada Ecológica da Injet pode auxiliar no despertar de seus membros a respeito do impacto e das influências que a organização possui sobre o meio ambiente e a sociedade, além de ser um incentivador à criação de uma gestão ambiental na organização e a pesquisas voltadas para o desenvolvimento sustentável nas organizações.

Instituição de fomento: Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico - CNPq

Trabalho de Iniciação Científica