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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 4. Sociologia do Trabalho
QUALIFICAÇÃO PROFISSIONAL E REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA: O CASO DO BANESTES
César Albenenes de Mendonça Cruz 1
(1. PPGE/MESTRADO EM EDUCAÇÃO/UFES)
INTRODUÇÃO:

A presente pesquisa teve por objetivo conhecer o processo de reestruturação do sistema financeiro Banestes (Banco do Estado do Espírito Santo S. A.) e seus impactos na qualificação profissional dos seus funcionários. A pesquisa foi feita comparando a história do Banestes até o ano de 1989, com o processo de transformações ocorridos no banco na década de 90 do século XX. Esta pesquisa foi relevante para mostrar aspectos da transformação do Banestes ao longo de sua história, e as conseqüentes modificações nos perfis profissionais de seus trabalhadores bancários. Além de conhecer esta realidade, nosso intuito foi revelar aos trabalhadores bancários e ao Sindicato dos Bancários do Espírito Santo em especial, como é importante saber como a realidade contraditória do processo de reestruturação se constitui; e quais as alternativas que ainda temos para resistir aos aspectos negativos dela, sobre os direitos e conquistas dos trabalhadores.

METODOLOGIA:

Utilizamos os seguintes procedimentos para a realização desta pesquisa:

  1. Pesquisa Bibliográfica dos temas ligados à reestruturação produtiva, ao sistema financeiro, e sobre as qualificações e competências dos trabalhadores bancários;
  2. Coleta de dados no Banestes através de documentos oficiais para levantamento da história do banco;
  3. Entrevistas semi-estruturadas e abertas com bancários do setor de RH, Coordenadores de Departamento, Coordenadores de Setores e Analistas de RH, com gerentes de agência, técnicos bancários e dirigentes do Sindicato dos Bancários do E.S.; além de inúmeras conversas informais para levantamento de dados sobre a história do banco.
RESULTADOS:

Os resultados a que chegamos foram os seguintes:

  1. O processo de Reestruturação do Banestes que ocorreu nos anos 90, obedece às tendências gerais do processo de reestruturação do sistema capitalista como um todo, e também da reestruturação do sistema financeiro em particular;
  2. Durante este processo tem crescido a exigência de aumento nas qualificações profissionais dos trabalhadores bancários, como maior nível educacional, que se reflete no aumento dos anos de escolaridade; aumento do número de outros cursos realizados pelo próprio banco, e outros feitos por conta dos próprios bancários;
  3. Observa-se um destaque no papel das mulheres em relação aos homens bancários, que acabam tendo maior grau de escolaridade e formação profissional; mas que não ocupam na mesma proporção cargos de chefia dentro desta instituição;
  4. Revelamos também, o total desconhecimento deste processo por parte do Sindicato dos Bancários do E.S., que por não conhecer a fundo o processo de reestruturação do Banestes, acaba limitando suas ações nas conseqüências e não nas causas;
  5. Constatamos que o Banestes, ao aumentar a exigência de qualificação profissional de seus funcionários, e inclusive incentivá-los neste sentido, acabou por se adaptar à lógica do mercado bancário, conseguindo se manter como um dos cinco bancos públicos estaduais, que não foram privatizados no Brasil durante a década de 90.
CONCLUSÕES:

O Banestes sendo um banco público, para poder se adaptar ao mercado e não ser privatizado nos anos 90 do século XX, teve que passar por mudanças profundas. Entre as mudanças mais significativas podemos citar pelo menos três.

Em primeiro lugar, o banco passou por uma reestruturação interna para cortar custos e se adequar às exigências do mercado bancário, como adotar novas tecnologias informacionais, adotar novas formas e ferramentas de gestão de recursos humanos e criar novos produtos competitivos; para fazer frente aos competidores privados.

Em segundo lugar, o banco teve que adotar uma política de treinamento e aumento da qualificação de seus trabalhadores, para não só para capacitá-los para este novo momento, como também para se envolverem ideologicamente com esta nova política do Banestes.

Em terceiro lugar, este processo levou os bancários a vestirem a "camisa" do banco e a se afastarem do seu principal órgão de defesa de seus interesses, que é o Sindicato dos Bancários do E.S.

Podemos concluir dizendo, que o processo de reestruturação do Banestes foi um sucesso do ponto de vista da instituição e de seus novos objetivos, que foi auferir lucros crescentes, envolver seus trabalhadores nesta política, e se manter no mercado enquanto um banco público. Do ponto de vista dos trabalhadores bancários e de seu sindicato, esta política levou a um afastamento mútuo, e a um enfraquecimento de suas lutas coletivas na manutenção dos direitos trabalhistas.

 
Palavras-chave: Reestruturação Produtiva; Sistema Financeiro; Qualificação Profissional.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006