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F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Economia - 2. Economia Doméstica

A AQUISIÇÃO DE EMPRÉSTIMOS SOB A PERSPECTIVA DO CONSUMIDOR

Angelita Alves de Carvalho 1
Flávia Gusmão Dias Moreira 1
Karla Maria Damiano Teixeira 1
(1. Departamento de Economia Doméstica, Universidade Federal de Viçosa, DED/UFV)
INTRODUÇÃO:

Atualmente, muito se tem falado sobre o termo sociedade de consumo que determina não apenas a produção de objetos, serviços e bens materiais e culturais, mas, também, o consumo destes. Consumir tornou-se parte indissociável do cotidiano humano, independente da classe social. Nas relações familiares, cada membro assume o caráter de consumidor ao utilizar os recursos disponíveis. Contudo, é necessário que haja o planejamento e a tomada de decisões para a administração efetiva dos recursos, visando atingir os objetivos do grupo. O não planejamento, ou o planejamento inefetivo dos recursos prejudica a administração do dinheiro, podendo levar à "déficits" financeiros, o que pode ocasionar o endividamento, gerando um aumento do número de cheques sem fundo e de inadimplências. Com o intuito de pagar dívidas, recuperar o equilíbrio financeiro, solucionar imprevistos e aproveitar oportunidades, as famílias brasileiras vêm recorrendo à empréstimos de instituições que oferecem diversas formas facilitadas de pagamento do credito, principalmente aqueles debitado em contracheque. Nesse contexto, teve-se como objetivo analisar os motivos que estão levando os funcionários públicos a recorrerem a este tipo de crédito, bem como se a adoção de um planejamento de despesas evitaria um futuro endividamento. A importância de pesquisas relacionadas a essa temática, se deve ao fato de que endividamentos familiares acarretam inúmeros problemas afetando diretamente a qualidade de vida.

METODOLOGIA:

O trabalho foi realizado na cidade de Viçosa localizada na Zona da Mata de Minas Gerais, especificamente em duas instituições de crédito da Universidade Federal de Viçosa (UFV): A Cooperativa de Economia e Crédito Mútuo dos Servidores da Universidade Federal de Viçosa Ltda (UFV CREDI) e o Instituto UFV de Seguridade Social (AGROS), ambos localizados nas dependências da UFV. Os participantes da pesquisa foram os associados de ambas as instituições que possuíam empréstimos ou o estavam solicitando. A população estudada foi composta por 3808 associados e trabalhou-se com uma amostragem de 2,5%, totalizando 121 entrevistados. Os dados foram coletados em duas etapas. Após uma ampla pesquisa bibliográfica sobre o tema, elaborou-se uma entrevista fundamentada em um roteiro semi-estruturado aplicada aos responsáveis pelas instituições, a fim de orientar a elaboração do roteiro estruturado de entrevista para os associados. Finalmente, os dados coletados foram submetidos à tabulação e análise descritiva.

RESULTADOS:

De acordo com a análise dos dados, 80% dos entrevistados eram homens, sendo os principais responsáveis pela renda familiar. Nos casos onde o entrevistado era mulher, esta era a chefe familiar. A idade média variou entre 48 a 56 anos e, com relação ao estado civil, 95% eram casados e possuíam, em média, 3 filhos. O número médio de habitantes por moradia foi de 4 pessoas e o nível de escolaridade foi o ensino fundamental completo. A média salarial variou de R$1800,00 à R$3000,00. Na maioria das vezes, os entrevistados não faziam o planejamento da renda, apenas acompanhavam, por extratos/saldos, a conta bancária. Os gastos foram maiores do que a renda para 65% deles e, em média, eles gastavam a maior parte da renda com as despesas de casa, ajuda a familiares e, raramente, com lazer (25%) e poupança (10%). Dos entrevistados, 30% possuíam cheque especial e, destes 90% faziam uso constante do mesmo. Dos principais motivos que os levaram a recorrer a empréstimos, 45% alegaram investimentos (reforma de casa, negócio próprio), 40% pagamento de dívidas (despesas e contas atrasadas) e 15% emergências (problemas de saúde). Quanto à satisfação, 90% disseram que o empréstimo resolveu seus problemas, tendo apontado o desconto em folha de pagamento como uma das principais vantagens.

CONCLUSÕES:

Percebeu-se que os entrevistados que fazem mais empréstimos são aqueles que normalmente têm mais tempo de serviço. Vale ressaltar que, uma vez que são funcionários públicos federais, seus salários estão estagnados há aproximadamente 9 anos. Pôde-se perceber que eles não têm a percepção da correta administração de seus recursos, não sabendo a quantia que gastam com determinada atividade. Isso se deve basicamente ao fato de eles não fazerem o planejamento de seus gastos, não tendo controle sobre as finanças, o que, conseqüentemente, leva à aquisição de empréstimos para poder somar às dívidas. As mulheres, como chefe de família, recorrem a empréstimos na maioria dos casos para alguma emergência, o que demonstra que estas possuem maior controle/planejamento de sua renda em relação aos homens. Contudo, os entrevistados disseram que os empréstimos os ajudaram, não encontrando muitas dificuldades em quitá-los, visto que vem descontado em folha de pagamento. Também há grande satisfação quanto às instituições financiadoras. Todos os entrevistados admitem que quando fazem o planejamento de seus gastos, têm maior rendimento de seu salário e recorrem menos a esse tipo de crédito. Perante a essa situação, sugere-se que as entidades envolvidas (UFV CREDI E AGROS) ofereçam cursos de educação do consumidor e orçamento doméstico aos seus associados, o que teria impacto direto sobre a qualidade de vida destes e conseqüente melhoria da relação entre empresa e cliente.

 
Palavras-chave: Admistração da Renda; Orçamento Doméstico; Aquisição de Empréstimo.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006