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H. Artes, Letras e Lingüística - 4. Lingüística - 4. Sociolingüística

A NECESSIDADE DE UM ESTUDO GEOLINGÜÍSTICO NA REGIÃO DO GRANDE ABC PAULISTA

Adriana Cristina Cristianini 1, 2
(1. Universidade de São Paulo – USP; 2. Universidade Bandeirante de São Paulo - UNIBAN)
INTRODUÇÃO:

A linguagem utilizada por uma comunidade é, certamente, uma marca primordial de sua identidade, de sua cultura. Além disso, a linguagem assume o papel de principal “produto” da cultura e é, ao mesmo tempo, o principal “instrumento” de sua transmissão. Fica claro, pois, que não se trata meramente de uma discussão acadêmica sobre as variações lingüísticas, tratar da língua é também tratar de um tema político, visto que é impossível desvincular a língua do ser humano que, por sua vez, é um ser político.

 

Apesar de um grupo de pessoas que utilizam a mesma língua constituírem uma comunidade lingüística, isto não significa que essa língua seja homogênea e uniforme. Cada uma das formas de utilização da língua compõe uma variedade que é determinada basicamente pelas circunstâncias de “quem?” utiliza a língua, “quando?”, “como?”, “por quê?”, “com quem?”, “em que situação?”, “onde?” a língua é utilizada.

 

A diferenciação geográfica e social entre segmentos de uma mesma comunidade lingüística, portanto, resulta em um correspondente processo de diferenciação lingüística, que pode se manifestar nos níveis fonológico, léxico e gramatical.

 

A região do Grande ABC Paulista representa uma importância considerável no contexto sócio-político-econômico-cultural do Brasil. Tanto econômica quanto populacionalmente, a região nos fornece dados que nos mostram a irrefutabilidade do desenvolvimento de estudos sobre a região e sobre as características de sua população.

METODOLOGIA:

Para a realização deste trabalho, buscamos dados na região que nos direcionassem a um aprofundamento nos estudos lingüísticos. Primeiramente fizemos um estudo histórico, desde o surgimento dos primeiros povoados.

 

Depois disso, buscamos informações sobre as características físicas da região. A área territorial e a caracterização dessa área como urbana e rural foram pontos fortemente considerados para o planejamento dos estudos que se seguirão.

 

Passamos, então, a analisar os dados sócio-econômicos da cada cidade. Analisamos a densidade demográfica e recolhemos dados que nos permitissem visualizar estratos da população com relação ao sexo, idade, escolaridade, rendimento, alem local e tipo de domicílio dos residentes na região há mais de 10 anos.

 

A pesquisa teórica baseada em uma revisão bibliográfica certamente possibilitou um conhecimento mais aprofundado sobre as teorias e as ações realizadas diante de trabalhos em que alguma semelhança se faz com os objetivos deste.

 

Seguimos os preceitos da Geolingüística, método da Dialetologia, que consiste na aplicação de um questionário a um conjunto de sujeitos com determinadas características, numa rede de pontos, para que os resultados sejam apresentados em tabelas e, finalmente, em cartas.

 

Certamente, seriam possíveis várias abordagens e níveis de análise, entretanto, nos restringimos ao direcionamento de um estudo semântico-lexical nesse determinado âmbito geográfico.

RESULTADOS:

A história do surgimento e do desenvolvimento dos municípios do Grande ABC nos mostra que a migração e a imigração podem ter influenciado numa variação e mudança lingüísticas na fala dos habitantes da região.

Os meios de comunicação, sem dúvida alguma, têm um papel significativo nas mudanças de hábitos lingüísticos não só na região, mas também em todo o País. Além disso, temos de considerar que, nas últimas décadas, tem ocorrido um grande deslocamento de habitantes, provocando uma reconstituição demográfica e, conseqüentemente, uma mudança nos usos lingüísticos da comunidade.

Pela mudança da população na região do Grande ABC, há, atualmente, poucos usuários da língua consolidados à região, pois, além da grande mobilidade, eles também convivem com uma massa bastante móvel.

Por isso, é preciso registrar o mais rápido possivel a norma e a variação semântico-lexicais falada no Grande ABC Paulista para que possamos registrar a memória lingüística da comunidade dessa região e, também, contribuir, de alguma forma, para o conhecimento da língua portuguesa falada no Brasil em nossos dias.

Fica evidente, também, que várias foram as influências que podem ser evidenciadas na realidade lingüística atual da região. Uma análise dos usos lingüísticos proporcionou uma reflexão sobre a identidade da comunidade que vive nesse local. Contudo, precisamos considerar que a essência da informação de um atlas reside no dado de natureza espacial e, por isso, nossa pesquisa prioriza o enfoque diatópico.

CONCLUSÕES:

Desde sua origem, percebemos que alguns itens nos direcionam a uma reflexão sobre quais fatores teriam influenciado na concretização da norma lingüística que se apresenta na atualidade.

 

Este estudo é suficiente para percebermos que a realidade das comunidades lingüísticas da região passou por grandes transformações e, indubitavelmente, uma transfiguração também se fez presente nas relações entre as pessoas. O que num passado não muito distante era um retrato de um isolamento considerável, hoje se apresenta como uma nítida quebra de fronteiras, de limites.

 

Faz-se, então, emergencial uma descrição da realidade lingüística da região do Grande ABC Paulista, no que tange à língua portuguesa, priorizando a variação diatópica.

 

Dessa forma, poderemos apresentar as possíveis diferenças observadas nos resultados e apresentados em cartas lingüísticas e de estudos interpretativos de fenômenos considerados relevantes e, então, contribuir para o entendimento da língua portuguesa no Brasil como instrumento social de comunicação diversificado, possuidor de várias normas de uso, mas dotado de uma unidade sistêmica.

 
Palavras-chave: Geolingüística; Dialetologia; Grande ABC Paulista.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006