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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social

CRIAÇÃO ARTÍSTICA: ASPECTOS DA FORMAÇÃO DO INDIVÍDUO COM BASE NOS CONCEITOS DE MIMESE E EXPRESSÃO - UM ESTUDO SOBRE A ARTE DA REPRESENTAÇÃO EM GRUPOS DE TEATRO DE SÃO JOÃO DEL-REI

Cynthia Maria Jorge Viana  1
Kety Valéria Simões Franciscatti  2
(1. Departamento das Psicologias / DPSIC/UFSJ - Bolsista; 2. Departamento das Psicologias / DPSIC/UFSJ - Orientadora)
INTRODUÇÃO:
Parte da pesquisa “Psicologia e Arte: reflexões acerca da subjetividade obstada”, desenvolvida no Departamento de Psicologia (DPSIC) e no Laboratório de Pesquisa e Intervenção Psicossocial (LAPIP) da Universidade Federal de São João del-Rei (UFSJ), este trabalho visa a investigação do processo de formação da subjetividade, destacando os elementos miméticos e expressivos presentes na arte, entendendo que esta, dada a sua própria estrutura, representa uma condição privilegiada de contato e reflexão a respeito dos danos à individuação. Neste sentido, estabelece-se a articulação e a contraposição entre diferentes formas de conhecimento: o conhecimento científico, em especial destaque à psicologia, e o artístico, por parte da representação teatral, estabelecendo, assim, um recorte na investigação acerca da participação de estudantes universitários nos grupos teatrais. Refletiu-se, também, sobre a importância dos microgrupos e de vínculos afetivos que podem resguardar algo do movimento formativo. Elucidar a história do teatro em São João del-Rei confrontando-a com a história de alguns grupos atuais, justifica-se pelo passado histórico da cidade no que se refere à importância da tradição teatral e pelo trabalho que os grupos de teatro investigados oferecem à comunidade, constituindo-se, assim, em um importante campo de investigação acerca das condições e possibilidades de formação cultural.
METODOLOGIA:
Seleção, leitura e sistematização do marco teórico, que se refere aos autores da Teoria Crítica da Sociedade (Adorno, Marcuse e Horkheimer), de autores que trazem contribuições históricas e conceituais à temática e ao objeto deste estudo (Aristóteles e Freud) e de outros autores embasados nas considerações da bibliografia estudada. Além disso, foi realizada a seleção do referencial teórico sobre a tradição teatral da cidade, a consulta a arquivos de grupos de estudos da Instituição (GETEB e GPAC) ligados à arte dramática e a arquivos pessoais de integrantes e ex-integrantes de grupos de teatro. Foi feito um levantamento dos grupos de teatro existentes na cidade atualmente, bem como a realização de entrevistas abertas com alguns representantes destes. Selecionou-se e observou-se dois grupos, a saber “Núcleo Cultural Brasil é Arte” e “Trupizupi Cia Teatral”, os quais contam com a participação de estudantes universitários. Fez-se um levantamento das peças encenadas pelos grupos, dos autores por eles escolhidos e das técnicas de representação utilizadas, para entender o porquê destas escolhas e o que elas suscitam. Foram realizadas entrevistas com os atores universitários e observações dos ensaios e das apresentações dos grupos, a fim de conhecer a dinâmica de criação artística, os aspectos do processo grupal e a implicação dos atores neste. Além da transcrição das entrevistas e de fotos recorreu-se ao diário de campo como instrumento para registro das observações.
RESULTADOS:
Com o acompanhamento destes grupos e seus espetáculos percebeu-se que estes se diferem quanto às técnicas de representação, formação do grupo e formação dos atores, conteúdo dos espetáculos e dinâmica grupal e de criação artística. Baseados em Stanislavski e com um elenco que não possui formação teatral acadêmica, o “Núcleo Cultural Brasil é Arte” é formado, em sua grande maioria, por adolescentes (exceto os universitários). Já a “Trupizupi Cia Teatral”, com um trabalho que traz elementos circenses (clown), é formado por atores mais experientes e com formação acadêmica teatral e/ou musical. As peças encenadas pelos grupos observados são de autoria dos próprios diretores que, tanto no “Núcleo Cultural Brasil é Arte” quanto na “Trupizupi Cia Teatral”, também atuam. A peça Mendigos do “Núcleo Cultural Brasil é Arte” foi elaborada para ser encenada em palcos enquanto o Auto da Paixão da “Trupizupi Cia Teatral” é uma peça para ser representada em espaços públicos. O conteúdo da peça do primeiro grupo faz referência aos aspectos da condição humana que, supostamente, está sempre mendigando algo e/ou alguma coisa. Já o segundo grupo, traz uma peça que trata da traição de Judas e da crucificação de Cristo. Os grupos se diferem também quanto ao tipo de direção: enquanto em um há uma abertura maior para que todos os participantes se expressem, no outro esta abertura é dada apenas a alguns. Ambos os grupos estão ligados a projetos sociais voltados para comunidade.
CONCLUSÕES:
Percebeu-se que grupos de teatro, mediações entre o indivíduo e a totalidade social, podem ser espaços em que as possibilidades de individuação estejam resguardadas, desde que o medo não esteja presente. Como espaço de expressão da arte dramática os grupos investigados estabelecem de algum modo condições para que estes momentos aconteçam. Quando ocorrem momentos de contato afetivo (mútuo), não ameaçadores e peculiares, estes podem proporcionar a identificação e a diferenciação, que são condições imprescindíveis para formação do indivíduo e, neste caso, fundamentar um entendimento sensível constituído entre o conhecimento artístico e o científico. Neste sentido, por meio da imitação sensível, o artista, é aquele que ao ser confrontado com as promessas não realizadas pela cultura e, na contenção do ódio, expressa algo que supostamente o diferencia dos demais, nomeando por meio de suas obras a violência do exterior que deforma o interior. A arte, através de elementos de sua estrutura que são indissociáveis e como antítese social da sociedade, só pode existir por conter elementos expressivos e miméticos daqueles cuja violência é percebida de modo particular e demasiadamente forte. Como mimese da realidade, a arte representa a aproximação e a fidelidade ao objeto, o que configura o seu caráter mimético. A mimese como processo que permite a formação vem se tornando, nos dias de hoje, uma caricatura, resultado do medo e da não-realização da natureza humana.
Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais/FAPEMIG
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Individuação; Teoria Crítica da Sociedade; Sofrimento.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006