A maior parte das espécies de plantas superiores é capaz de biossintetizar e acumular substâncias orgânicas com atividade biológica em quantidades suficientes para serem extraídas de forma econômica. Tais substâncias podem ser utilizadas diretamente ou transformadas, por meio de processos químicos ou biológicos, em derivados úteis para o homem. Os compostos naturais das plantas como óleos, resinas, aromas, gomas, ceras, fármacos, etc. são utilizados nas indústrias farmacêuticas, cosméticas, de alimentos e agroquímicas (BALANDRIN et al, 1985; BATES, 1988; BALANDRIN & KLOCKE, 1988).

Muitas pesquisas têm sido realizadas a fim de desvendar informações importantes a cerca dos usos de plantas ou alimentos com fins terapêuticos utilizados por populações tradicionais.

Este trabalho visou efetuar um levantamento etnobotânico no entorno do Parque Nacional da Serra do Itajaí, na comunidade do Encano, município de Indaial, em um ecossistema conhecido como Mata Atlântica. O conhecimento sobre o uso de plantas com fins terapêuticos é importante para subsidiar trabalhos de Educação Ambiental nesta localidade, além de estudar possibilidades, de fonte de renda aos pequenos agricultores, verificando, o potencial curativo popular, formas de utilização entre outros aspectos. Existe, a necessidade de verificar este tipo de conhecimento nesta e em outras comunidades de forma urgente, pois este conhecimento não se encontra sistematizado e tende a ser perdido com o tempo e urbanização crescente.

Os dados foram coletados no entorno do Parque Nacional da Serra do Itajaí, antes Parque Natural Municipal das Nascentes do Garcia ou Parque das Nascentes, situado numa região da Floresta Ombrófila Densa Atlântica do Sul do Brasil, fazendo parte do complexo da Serra do Itajaí, no município de Indaial, na localidade chamado Encano, município de Indaial, Santa Catarina. A amostra utilizada foi de 19 moradores de um universo de 28 famílias.

Um questionário foi elaborado para a coleta de dados, estes foram respondidos pelos moradores de ambos os sexos, tendo o questionário 14 questões, abertas e fechadas, referentes a informações gerais (origem étnica, faixa etária, sexo, naturalidade, religião, escolaridade, profissão) e informações sobre as plantas medicinais utilizadas pela comunidade, tais como: se utilizam ou não as plantas, identificação do nome comum da (s) planta (s), porque utilizam, hábitat, preparos, dosagem, vias de administração e métodos de aplicação externa (cataplasma, p.ex.), interna (infusão, ingestão), duração do tratamento, doença(s) tratada(s), neste caso, é importante obter a descrição detalhada dos sintomas, possibilidades de desenvolvimento sustentável.

Nos resultados obtidos, verificou-se que a principal origem étnica foi alemã (89,47%) seguida de indiana e mexicana (10,52%). Quanto à idade, com 63-80 anos (42,10%), seguido por 45-59 anos (31,57%) e 23-38 anos (26,31%). A maioria, (68,42%), é natural de Indaial, seguido por: Blumenau (15,78%), Presidente Getúlio (10,72%), Rio do Sul e Florianópolis ambos com (5,26%). 

A religião predominante foi católica (68,42%), evangélica (21,05%); e budista e judaica (10,52%).

A escolaridade predominante é o fundamental incompleto (84,21%), ensino médio completo, superior cursando e superior completo obtiveram (5,26%). Quanto às profissões exercidas 73,78% são do setor primário e 21,04% do setor terciário.

A maioria da população (82,21%) utilizam plantas medicinais e, não as utilizam (15,78%). Grande parte começou a utilizar as plantas medicinais com a família (87,5%); sobre influência da igreja (6,25%) e por interesse pessoal (6,25%).         

A obtenção das plantas ocorre principalmente nos quintais (72,72%); amigos, supermercado e mato, todos com (9,09%). A população usa as plantas por via interna (84,20%) e externamente (15,80%). A decocção foi a forma mais comum, com 15 citações, a massagem 2 citações; o banho e ingestão com 1 citação cada. Ao serem questionados onde recebem orientação para o uso, a maioria 93,75% por auto-medicação e por orientação médica 6,25%. Verificou-se que 100% dos moradores não utilizam as plantas como fonte de renda.

Esperava-se que a maioria da população se declarasse de origem alemã, porque historicamente o município de Gaspar foi colonizado por imigrantes alemães. Esse dado também foi verificado nos estudos feitos por Bósio & Zeni, (2004).

O motivo pelo baixo grau de escolaridade deve-se provavelmente ao fato de que na comunidade existe uma escola, tendo apenas as séries iniciais do ensino fundamental e, as outras escolas localizam-se distantes do local.

Já era esperado que a decocção (chá), verificada também no trabalho de (Medeiros, Fonseca & Andreata, 2004), fossem as formas de tratamento mais usadas porque na Mata Atlântica as vegetações são mais folhosas. Verificou-se que as pessoas buscam orientação para o uso das plantas no conhecimento próprio; auto-medicação., testando em si próprio e isto pode ser perigoso.

Alguns moradores opinaram que, “as plantas não devem ser vendidas, pois estão na natureza e, são de todos”. Verificou-se que, as pessoas interessadas em utilizá-las como fonte de renda pensam em fazê-lo somente para adquirir conhecimentos ou para o bem da comunidade. Abordou-se esta questão porque a comunidade situa-se no entorno do Parque da Serra do Itajaí, sendo que a comercialização das plantas geraria uma fonte de desenvolvimento sustentável no lugar, auxiliando a preservação da mata e proporcionando a estes pequenos agricultores uma forma de permanecer no local de forma integrada a trabalhos de valorização da biodiversidade e preservação.

Instituição de fomento: Trabalho de Iniciação Cientifica - PIBIC/FURB

Trabalho de Iniciação Científica