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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 7. Psicologia do Ensino e da Aprendizagem

INCLUSÃO ESCOLAR DE ALUNOS COM SÍNDROME DE DOWN NO SISTEMA REGULAR DE ENSINO SEGUNDO PERCEPÇÕES DE PROFESSORES

Fernanda Cascaes Teixeira 1
Olga Mitsue Kubo 2
(1. Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFSC; 2. Profª. Drª. Orientadora do Programa de Pós-graduação em Psicologia da UFSC)
INTRODUÇÃO:

Deficiência não é algo localizado em um indivíduo, mas criado e legitimado nas relações sociais, em especial, nas relações estabelecidas em organizações familiares, escolares e de trabalho. Professores, funcionários, pais e alunos participam e são co-responsáveis pelo processo de inclusão escolar de pessoas com necessidades especiais. A atuação dos professores em sala de aula é determinante tanto para o desenvolvimento dos alunos com necessidades especiais, quanto para a qualidade das interações que serão estabelecidas com os colegas de turma. Nesse sentido, as percepções de professores sobre as variáveis inerentes ao processo de inclusão escolar de alunos com Síndrome de Down precisam ser investigadas para a compreensão da forma como esse processo é realizado nas escolas e para possibilitar modificações necessárias para o seu aperfeiçoamento. O conhecimento e a divulgação das necessidades, facilidades e dificuldades encontradas pelos professores no trabalho com alunos com Síndrome de Down no sistema regular de ensino possibilitará a reestruturação das condições de trabalho e das características das organizações escolares, facilitando a implementação de uma educação inclusiva. Além disso, os professores terão oportunidade de rever suas ações em turmas compostas por alunos com e sem necessidades especiais a partir da reflexão e compreensão das repercussões sociais de seu trabalho. 

METODOLOGIA:

Foram participantes três professoras de uma organização escolar privada da rede regular de ensino de uma cidade litorânea, de médio porte, da região sul do País. A organização escolar selecionada era a que possuía, dentre as escolas da região, a maior quantidade de alunos com Síndrome de Down no Ensino Fundamental de acordo com documentos da Secretaria da Educação do estado. As professoras que tinham a maior quantidade de horas de trabalho com as turmas com alunos com Síndrome de Down foram participantes da pesquisa. Um roteiro de perguntas foi elaborado a partir da análise de variáveis presentes no fenômeno investigado. Os aspectos observados foram: significado do termo “inclusão escolar”; requisitos, facilidades e dificuldades em trabalhar com alunos com Síndrome de Down no sistema regular de ensino e conseqüências gratificantes e aversivas do processo de inclusão escolar de alunos com Síndrome de Down para eles, seus colegas de turma e seus professores. A coleta de dados foi feita por meio de entrevistas semi-estruturadas, individuais em uma sala disponibilizada pela organização escolar. As entrevistas foram gravadas, com a anuência das participantes, e transcritas integralmente. Foram analisadas similaridades e discrepâncias nos discursos das professoras, bem como a natureza de suas respostas.

RESULTADOS:

As professoras indicam que inclusão escolar é a inserção de crianças com determinadas características (deficiência física ou mental, dificuldades de aprendizagem) em sala de aula regular. Indicam também que entendem por inclusão escolar o direito de pessoas com necessidades especiais conviverem com pessoas “normais” ou em sociedade. Conhecimento sobre a Síndrome de Down, turmas com menos alunos e treinamento para o trabalho foram indicados como requisitos e dificuldades no trabalho com alunos com a síndrome. As professoras indicam como conseqüências gratificantes da inclusão escolar de alunos com Síndrome de Down para eles, a socialização, aprendizagem de regras sociais e fazer o que os outros fazem. Socialização, sensibilização em relação às dificuldades dos outros, valorização de si e aquisição de valores (respeito às diferenças e solidariedade) foram indicadas como conseqüências gratificantes para os colegas de turma e socialização, sensibilização em relação às dificuldades dos outros, ver o aluno superar suas expectativas, saber lidar com a Síndrome de Down e aquisição de valores foram indicados para os professores. Como conseqüências aversivas da inclusão escolar de alunos com a síndrome foram indicadas: aprendizagem pouco desenvolvida para os alunos com a síndrome; o professor ter que interromper a aula para atender aos alunos com a síndrome para os colegas de turma e professores e sentimentos de angústia e incapacidade para os professores.

CONCLUSÕES:

O exame das indicações feitas pelas professoras sobre o significado do termo “inclusão escolar” possibilita concluir que, para elas, inclusão muito provavelmente é a presença física de alunos com necessidades especiais em sala de aula regular. Para as professoras inclusão escolar é algo referente a uma pessoa que apresenta determinadas características e não a qualidade do sistema de relações estabelecidas entre professores e alunos. Condições de trabalho como turmas com menos alunos e treinamento para o trabalho com alunos com necessidades especiais não são atendidas de forma satisfatória pela organização escolar, uma vez que além de serem indicadas pelas professoras como requisitos para o trabalho com alunos com Síndrome de Down, são indicadas como dificuldades. A socialização é a principal conseqüência gratificante da inclusão escolar de alunos com a síndrome para eles, seus colegas de turma e professores na percepção das professoras. As professoras não relacionam o desenvolvimento social com o desenvolvimento cognitivo, como se eles fossem processos independentes. Ao perceber o atendimento aos alunos com Síndrome de Down como uma interrupção das atividades de aula, as professoras revelam não considerá-los clientes, como os outros alunos, do serviço prestado (ensinar). Além disso, as professoras não utilizam as necessidades dos alunos com a síndrome e o atendimento dispensado a eles como recursos educativos, que podem promover a aprendizagem de todos os alunos.  

 
Palavras-chave: inclusão escolar; Síndrome de Down; processos organizacionais.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006