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F. Ciências Sociais Aplicadas - 3. Turismo e Hotelaria - 1. Turismo e Hotelaria

OS INDICADORES DE QUALIDADE DA EXPERIÊNCIA DO VISITANTE NO PARQUE NACIONAL DOS LENÇÓIS MARANHENSES COMO SUBSÍDIO PARA O MANEJO DO USO PÚBLICO EM UNIDADES DE CONSERVAÇÃO

José Antonio Silvestre Fernandes Neto 1
(1. Universidade Federal de Santa Catarina)
INTRODUÇÃO:

O aumento do uso público em unidades de conservação é considerado hoje uma das grandes pressões sofridas por estas áreas, sobretudo os parques nacionais. Estabelecer métodos adequados de manejar essa crescente demanda e os impactos daí originados, tornou-se então um dos principais desafios para os profissionais da área ambiental. Além dos impactos biofísicos, os sociais já despontam nas discussões sobre o tema, incluindo aquelas referentes ao uso de indicadores que consigam de fato avaliar os seus efeitos. A literatura já dispõe de uma relação de indicadores sociais, propostos por pesquisadores americanos, ora aplicados no Brasil. Contudo, há dúvidas sobre sua eficiência para as condições do uso público específicas da lei brasileira. A avaliação e seleção de indicadores focaliza mais o valor ecológico e a integridade dos ecossistemas naturais, pois quando se trata de experiências humanas, sobretudo as atividades recreativas, existe grande dificuldade em se estabelecer seus parâmetros de qualidade, o que resulta em avaliações discrepantes, englobando desde as mercadológicas, até outras mais adequadas, pautadas em aspectos como privacidade e segurança. O presente trabalho teve como objetivos compreender a natureza da experiência dos visitantes dos Lençóis Maranhenses, verificando a pertinência dos indicadores de qualidade para essas práticas como ferramentas de monitoramento ambiental do local, selecionando aqueles mais adequados para a realidade daquela unidade de conservação.

METODOLOGIA:

Para o alcançar os objetivos propostos por esta pesquisa, optou-se pelo estudo de caso com integração entre análise qualitativa e quantitativa, aplicando-se o método da triangulação. Para a coleta dos dados, utilizou-se a observação direta não participante, a indireta e entrevistas, que se deram em duas etapas, com conteúdo estruturado respectivamente em questões abertas e fechadas. Sobre as técnicas amostrais, houve a preocupação de se verificar a possibilidade de se trabalhar com uma população finita e infinita, mas, ao aplicar os valores definidos para as pesquisas sociais, baseados em fórmulas estatísticas para cada uma das situações, estes revelaram-se muito parecidos, definindo-se para a pesquisa o contingente de cerca de 400 indivíduos. A área escolhida foi o Circuito Lagoa Azul-Bonita e Lagoa da Esperança, pelo fato de serem os mais visitados. Realizou-se a coleta dos dados em seis períodos distintos bem definidos de acordo com a sazonalidade descrita no plano de manejo do parque. A primeira delas, com a finalidade de fazer o reconhecimento da área, o público-alvo, como também a realização do pré-teste com as entrevistas de chegada e saída, foi feita em um fim de semana de julho de 2004 e as demais em cinco momentos distintos entre setembro de 2004 e junho de 2005. Os dados foram tratados e dispostos em distribuição de freqüência, o que gerou números em formatos percentuais que foram organizados em gráficos com barras e legendas específicas para cada questão.

RESULTADOS:

Os resultados obtidos, embora não derivem de um estudo em todos os espaços passíveis de uso público do parque, são uma realidade no âmbito da área pesquisada, que é o local de maior afluxo de visitantes. Isso, aliado ao fato das demais áreas notáveis da unidade de conservação possuírem feições e fragilidades semelhantes às pesquisadas, permite a extrapolação dos dados conseguidos, possibilitando a caracterização da dinâmica do fenômeno da visitação no PNLM de maneira geral, possibilitando a inferência das ações de manejo necessárias para discipliná-lo. A natureza da experiência do visitante ali verificada revelou-se genuinamente contemplativa, o que torna a sua percepção muito mais aguçada para detectar tanto os impactos biofísicos quanto os sociais. Além disso, os indicadores de qualidade da experiência dos visitantes tiveram sua pertinência confirmada e, sobretudo, individualizada através sete indicadores específicos que poderão servir como ferramenta de contribuição para as ações futuras de manejo do uso público da área: (a) existência de programa interpretativo; (b) infra-estrutura de recepção do visitante; (c) presença de lixo nas dunas e lagoas; (d) número e freqüência de veículos; (e) distribuição e freqüência das pessoas nas lagoas e dunas dos Circuitos; (f) qualidade ambiental e (g) aumento do primitivismo da área e informações sobre as condições de acesso, o tempo e as épocas mais adequadas de visitação de acordo com as necessidades dos visitantes.

CONCLUSÕES:

Os indicadores encontrados e individualizados para o PNLM são efetivos, cabendo a ressalva, contudo, da importância do levantamento periódico do perfil dos visitantes e da verificação tanto de sua satisfação quanto dos próprios indicadores, principalmente pelo fato do parque ainda não contar com estatísticas oficiais e estar aberto a todo tipo de visitação estimulada, inclusivamente, pelas instâncias governamentais. Isto se explica pelo fato de que modificações nas características dos visitantes produzirão inexoravelmente mudanças nos indicadores sugeridos e avalizados, acarretando resultados incoerentes na sua verificação em campo. No caso específico do PNLM, acredita-se que os indicadores potenciais sugeridos, uma vez aplicados pelos gestores daquela unidade, certamente produzirão resultados benéficos no que concerne à qualidade da experiência do visitante e, por conseqüência, à salvaguarda do ambiente natural. A contribuição que estudos como este presta ao manejo do uso público em unidades de conservação faz parte de uma estratégia que busca oferecer suporte às funções inerentes desses espaços, definidas pela legislação como científicas, sociais, políticas, econômicas e, sobretudo ambientais. Portanto, para as áreas cuja dimensão da visitação se apresente mais ampla, é imperativo que possuam primeiro um plano de manejo, para que, então, possam nele contemplar um programa específico para o uso público, definido de acordo com as particularidades do local.

Instituição de fomento: Fundação de Amparo à Pesquisa e ao Desenvolvimento Tecnológico do Estado do Maranhão - FAPEMA
 
Palavras-chave: Unidades de Conservação; Manejo do Uso Público; Parque Nacional dos Lençóis Maranhenses.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006