O solo é um sistema dinâmico onde diversos organismos coexistem. Essa inter-relação entre os seres que o habitam é um dos principais aspectos que possibilitam a regulação e o equilíbrio de diversos ecossistemas. A percepção dessa dimensão torna-se de grande relevância para o desenvolvimento de uma maior sensibilidade e comprometimento com a conservação dos solos, recurso esse, muitas vezes percebido como estático, estéril e sem importância para a manutenção da vida no planeta. Nas escolas essa falta de sensibilidade e percepção da importância do solo é reproduzida, principalmente pelo fato da maioria dos professores não possuírem uma formação específica sobre o tema. Além disso, os livros didáticos abordam tais conteúdos de maneira desconectada e pouco significativa, dando pouca contribuição para a construção de uma maior sensibilização em relação aos solos. Neste contexto, o Programa de Educação em Solos e Meio Ambiente (PES), do Departamento de Solos da UFV, se propõe a desenvolver, como uma de suas linhas de atuação, oficinas de capacitação de professores para promover a “educação em solos”. A experiência aqui apresentada consiste na elaboração e desenvolvimento de uma oficina intitulada “A vida no solo”. O objetivo foi a percepção e a compreensão das interações existente entre o solo e os organismos que o habitam, buscando construir conhecimento e contribuir para o crescimento da sensibilização em relação a importância dos solos.

Os princípios teóricos e metodológicos que orientam a proposta pedagógica desenvolvida pelo PES estão ancorados no construtivismo e nas idéias de Paulo Freire. A metodologia consistiu na elaboração de materiais didáticos e no desenvolvimento de atividades pedagógicas que facilitam a construção do conhecimento. Dessa forma, a oficina foi concebida com base nos seguintes aspectos: (a) desmistificação/facilitação do conteúdo; (b) trabalhos em grupo com presença de um facilitador e (c) valorização do conhecimento a partir do resgate das diferentes experiências. Nessa perspectiva, o que se busca é dar maior contribuição para uma aprendizagem mais significativa e prazerosa do conteúdo.

O desenvolvimento da oficina “A vida no solo” buscou abordar aspectos relevantes para a compreensão de interações e processos entendidos como necessários para o desenvolvimento de uma nova concepção de solo, baseado nos princípios agroecológicos. Nesse contexto, as atividades de coleta, análise e observação de amostras de solo (horizonte A) foram acompanhadas da discussão de um roteiro, que serviu de linha condutora das discussões, possibilitando a construção do conhecimento a partir do estímulo a um raciocínio lógico e seqüencial. Tal iniciativa estimulou os professores a investigar, munidos de instrumentos (pás e lupas), os diferentes organismos existentes no solo e a formular e levantar uma série de hipóteses para os questionamentos feitos pelos facilitadores. Observou-se também que a atividade de leitura e discussão de um texto complementar, “A Vida no Solo”, foi importante para a contextualização do tema e maior participação dos professores.

A oficina contribuiu para que o solo fosse percebido de forma mais integrada e, portanto processual. A compreensão de que os organismos presentes no solo são essenciais para que este desempenhe o seu papel no ciclo da vida é de grande importância para o desenvolvimento de uma maior sensibilidade e comprometimento com a conservação desse recurso. Os materiais produzidos pelo PES e utilizados nesta oficina serviram de subsídio para que os professores trabalhassem o tema com seus alunos. Por fim, a oficina apresenta caráter multiplicador, pois desperta nos professores o interesse em se trabalhar de maneira mais criativa, o que torna a aprendizagem significativa para os alunos.