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D. Ciências da Saúde - 8. Fisioterapia e Terapia Ocupacional - 1. Fisioterapia e Terapia Ocupacional
IMPLICAÇÕES DA RADIOTERAPIA NO MOVIMENTO DE OMBRO EM MULHERES MASTECTOMIZADAS.
Juliana Copetti Mattos da Conceição 1
Mirella Dias 2
Soraia Cristina Tonon 1
(1. Faculdade Estácio de Sá de Santa Catarina / Estácio; 2. Centro de Pesquisas Oncológicas / CEPON)
INTRODUÇÃO:
O câncer de mama é atualmente o tipo de câncer que mais comumente afeta o sexo feminino e, a cada ano, configura-se e consolida-se como um problema de saúde pública de dimensões internacionais. A combinação de tratamentos geralmente está presente, sendo que a remoção cirúrgica de toda ou parte, uma ou ambas as mamas associada à radioterapia pós-cirúrgica normalmente faz parte do tratamento. Este trabalho teve como objetivos avaliar e analisar os efeitos do tratamento radioterapêutico na amplitude de movimento (ADM) do membro superior homolateral à cirurgia, registrar as possíveis complicações decorrentes do tratamento e comparar a variação de ADM relacionando ao tipo de cirurgia realizada. Alguns problemas decorrentes da utilização da radioterapia pós-cirúrgica em mulheres com câncer de mama são principalmente a fibrose de partes moles com contraturas, dermatite, dor na parede torácica, rigidez de ombro e edema de braço. Os problemas relatados têm um grande impacto na qualidade de vida das mulheres submetidas ao tratamento do câncer de mama. Desta forma, torna-se importante que a pesquisa, a informação e o ensino busquem um enfoque de integralidade e qualidade no tratamento destas mulheres.
METODOLOGIA:
A amostra foi constituída de 5 mulheres com câncer de mama unilateral, tratadas cirurgicamente e posteriormente tratadas com radioterapia no período de novembro de 2003 a maio de 2004 em dois hospitais da cidade de Florianópolis (Hospital de Caridade e Hospital São Sebastião). As mulheres que participaram do estudo tinham no máximo 6 meses de pós-operatório. Foram excluídas da amostra pacientes que apresentavam disfunções prévias no complexo articular do ombro. Após a aprovação do Comitê de Ética em Pesquisas a amostra foi selecionada aleatoriamente, de maneira que o grupo estudado enquadrava-se dentro dos critérios de inclusão. Realizou-se a localização e contato através de telefone com as referidas pacientes e agendamento de horário para a avaliação fisioterapêutica. Após esclarecidas todas as dúvidas referentes à pesquisa e obtenção do consentimento para realização da mesma, as pacientes foram avaliadas no início e fim de seu tratamento radioterapêutico. A seguir foi feita a aplicação da primeira avaliação fisioterapêutica, realizada antes do início do tratamento radioterapêutico. Na goniometria, procedimento incluso na avaliação, fez-se a medição angular, através de um goniômetro, dos movimentos de flexão, extensão, abdução, adução, abdução e adução horizontal, rotação interna e externa dos ombros de cada paciente avaliada. As pacientes foram acompanhadas durante o período entre as avaliações através de contatos telefônicos com as pesquisadoras. Ao final do tratamento realizou-se uma nova avaliação da paciente, através do mesmo procedimento citado anteriormente (contato telefônico, agendamento e coleta de dados propriamente dita).
RESULTADOS:
Após o período de avaliação das pacientes, os dados coletados foram armazenados em planilhas de banco de dados no Word e transformados em tabelas e gráficos no Excell para melhor visualização e compreensão dos resultados da pesquisa. Foi realizada análise estatística descritiva com associação de variáveis a fim de se estabelecer comparações entre os dados coletados na avaliação fisioterapêutica. Quanto a analise dos fatores de risco encontrou-se uma média de idade de 45,2 anos; todas as pacientes envolvidas no estudo eram brancas; das pacientes selecionadas 4 amamentaram cerca de 12,5 meses e uma não amamentou; 3 das 5 pacientes tiveram sua primeira gravidez antes dos 20 anos e duas entre 27 e 30 anos; 4 das pacientes tinham história de abortos (média de 3,25 abortos/paciente); somente uma das cinco pacientes avaliadas tinha uma avó paterna que foi a óbito por câncer de garganta. Quanto as atividades relacionadas com a qualidade de vida da paciente, 4 pacientes tinham vida sexual ativa, eram casadas e, somente uma não se enquadrava neste padrão. Além disso, quando inqueridas sobre suas atividades de vida diária todas relataram independência na execução destas. A queixa principal relatada em primeira estância foi a dor cervical e em segunda, a limitação da mobilidade do ombro. Quanto aos tratamentos adjuvantes, 4 realizaram quimioterapia e 3 hormonioterapia com tamoxifeno. A radioterapia foi realizada por todas as pacientes, sendo critério de inclusão na amostra. Cada paciente realizou 28 sessões. Analisando a amostra e relacionando ao tipo de cirurgia, 3 pacientes realizaram mastectomia radical modificada do tipo Pattey e duas realizaram cirurgia conservadora do tipo quadrantectomia. Todas as pacientes realizaram linfadenectomia axilar. Conforme dados coletados na goniometria, observou-se que as pacientes que realizaram mastectomia radical modificada, apresentaram em média 25% de diminuição de ADM de flexão em ombro. Já na quadrantectomia, a flexão de ombro teve uma diminuição em sua amplitude de 3,3%, sendo que o movimento de rotação interna foi o que teve maior déficit neste tipo de cirurgia. Duas pacientes tiveram na rotação interna seu maior déficit de amplitude, perfazendo uma média de 23,52% de diminuição da amplitude deste movimento. Observou-se através dos dados obtidos que os movimentos de flexão, abdução, adução e rotação interna tiveram as maiores perdas de ADM durante o processo radioterap6eutico, com perdas figurando em torno de 20 a 50 graus para flexão, entre 10 e 20 graus para abdução, para adução entre 20 e 40 graus e entre 10 e 30 graus para rotação interna. A seguir utilizou-se outro parâmetro de comparação, a saber o membro superior hígido comparado com o membro superior homolateral à cirurgia. Vemos uma diferença significativa em graus da ADM dos dois membros superiores das pacientes, que pode chegar em até 90 graus de flexão em uma das pacientes que realizou mastectomia radical modificada. Os movimentos mais afetados nesta análise continuam sendo a flexão, a abdução e a rotação interna. A cirtometria torácica também foi analisada neste estudo. Não houveram diferenças significativas relativas à este parâmetro na maioria das pacientes estudadas. Contudo é bastante importante ressaltar que uma das paciente teve como principal queixa ao final das sessões de radioterapia o desconforto respiratório. A perimetria supra e infra olecraniana bilateral com marcações de 5 em 5 cm (respectivamente 5, 10 e 15cm) foi um parâmetro de análise deste estudo, buscando possíveis alterações após a radioterapia. Não houve diferença maior que 2,5 cm em todas as pacientes estudadas.
CONCLUSÕES:
O aperfeiçoamento no manejo do câncer de mama é uma realidade que se impõe a cada dia devido as dimensões que o problema vem alcançando. A radioterapia é utilizada desde o inicio do século XX, objetivando o aumento da sobrevida da mulher mastectomizada. Contudo, apesar de seus benefícios traz consigo complicações freqüentes, como a diminuição da ADM de ombro e conseqüente dificuldade nas atividades de vida diária. A partir da obtenção de medidas angulares observou-se que houve uma perda de mobilidade principalmente nos movimentos de flexão (14,6%), abdução (9,9%) e rotação interna (27,7%). Este fato levou 100% das mulheres a uma limitação funcional, que implicou numa adaptação de movimentos para continuar realizando determinada função. O tipo de cirurgia realizado também mostrou ter uma grande relação com a perda em maior ou menor magnitude da ADM, sendo a cirurgia conservadora a que obteve menores índices de diminuição. No movimento de flexão as pacientes que realizaram mastectomia radical modificada perderam 25% na ADM e, as que realizaram quadrantectomia 3,3%. O maior déficit das pacientes que realizaram quadrantectomia foi na rotação interna, perfazendo uma média de 23,52% de diminuição da amplitude deste movimento. Vê-se a importância da otimização no tratamento através de programas que abordem as necessidades individuais da mulher e que busquem a minimização de problemas decorrentes do próprio tratamento. O déficit na ADM mostrou ter uma relação direta com as limitações funcionais e conseqüentemente, com o nível de qualidade de vida destas pacientes, sendo pois a intervenção fisioterapêutica específica e precoce fator importante na profilaxia de deformidades e instalação de complicações desnecessárias e manipuláveis.
 
Palavras-chave: Mastectomia; Radioterapia; Amplitude de Movimento.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006