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A. Ciências Exatas e da Terra - 4. Química - 4. Química de Produtos Naturais

PROSPECÇÃO DE AGENTES ANTIOXIDANTES DE VEGETAIS DE MATO GROSSO DO SUL

Vanderléa F. Liberato Bonani  1
Sônia Corina Hess 1
Marize Therezinha Lopes Pereira Peres  1
Cristielly Calista Farias 1
Lis Evelyn de Souza Fedél  1
Giselle Mocellin Peruzzo 1
(1. Departamento de Hidráulica e Transportes/ UFMS )
INTRODUÇÃO:

O Pantanal, o Cerrado e outras formações vegetais existentes em Mato Grosso do Sul representam um grande potencial de exploração para a obtenção de produtos vegetais úteis, como tem sido destacado na literatura (Almeida, Proença, Sano & Ribeiro, 1998; Avidos & Ferreira, 2000; Pott & Pott, 1994), sendo, portanto, uma possível fonte para obtenção de antioxidantes naturais. Radicais livres, na forma de oxigênio reativo e espécies de nitrogênio são uma parte integrante da fisiologia. Uma super produção destas espécies pode ocorrer devido ao estresse oxidativo ocasionado pelo  desequilíbrio do sistema de defesa antioxidante, causando danos celulares e levando ao desenvolvimento de doenças crônicas como câncer e as que envolvem o sistema cardio- e cérebro-vascular (Wong, Leong & Koh, 2006). Estudos científicos revelam que os produtos sintéticos BHA (2-terbutil-4-metoxifenol) e BHT (2,6-bis(1,1-dimetil-etil)-4-metil fenol), empregados como antioxidantes em produtos contendo óleos, apresentam propriedades tóxicas e carcinogênicas, o que tem aumentado a demanda por agentes antioxidantes que não apresentem efeitos tóxicos (Lederer, 1990; Assimopoulou, Boskou & Papageorgiou, 2004; Danilenko & Studzinski, 2004). O presente trabalho apresenta o potencial antioxidante frente ao radical livre 1,1-difenil-2-picril-hidrazil (DPPH) de várias espécies vegetais de Mato Grosso do Sul, visando a obtenção de  antioxidantes de fontes naturais que possam substituir os sintéticos.

METODOLOGIA:

O projeto foi desenvolvido no Laboratório de Pesticidas Naturais da Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS). Foram coletadas partes aéreas (folhas, frutos e cascas de tronco e ramos) ou subterrâneas (raízes) de vegetais de  Mato Grosso do Sul, os materiais foram enviados para a identificação da espécie vegetal e o registro em herbários. Os vegetais coletados foram triturados manualmente e transferidos para recipientes de vidro de boca larga onde foi adicionado etanol comercial suficiente para realizar a extração exaustiva, à temperatura ambiente, na ausência de luz. Os líquidos foram retirados e filtrados periodicamente e novas quantidades de etanol comercial foram acrescentadas até que os metabólitos secundários presentes nos tecidos fossem completamente extraídos. O solvente foi evaporado em evaporador rotativo. Uma alíquota (2 mL de uma solução a 5 mg/mL)  de cada material, foi aplicada em triplicata, em placas de alumínio impregnadas com silicagel 60 F254 (Merck), eluídas com os seguintes sistemas de solventes: acetato de etila/etanol/água 50/35/15 ou 30/30/40 e examinadas 30 minutos após a aplicação do revelador DPPH (2mg/mL em etanol). de forma semelhante ao procedimento descrito na literatura (Poullain, Girard-Valenciennes, Smadja, 2004). No presente trabalho, foram realizados testes preliminares para avaliação dos sistemas de solventes que oferecessem melhores resultados quanto à eluição.

RESULTADOS:

As atividades antioxidantes dos extratos etanólicos das partes aéreas de alguns exemplares de espécies das famílias Pteridaceae, Polypodiaceae, Thelypteriaceae, Blechnaceae, Cyatheaceae, Lycopodiaceae, Poaceae, Gleicheniaceae, Gramineae e Pteridaceae foram investigadas. Os compostos ativos apareceram como sinais amarelo-claros sobre o fundo púrpura. O grau de atividade foi determinado qualitativamente a partir da observação da intensidade dos sinais amarelos, na escala: (+) para fraco, (++) para moderado e (+++) para forte. A atividade também foi qualificada pela comparação com solução etanólica do antioxidante padrão BHA (2-terbutil-4-metoxifenol). (Argolo, Sant’ana,Pletsch & Coelho 2004; Poullain, Girard-Valenciennes & Smadja, 2004). Os extratos de Adiantum tetraphylum (Pteridaceae), Lycopodiella camporum (Polypodiaceae) e Thelypteris scabra (Thelypteriaceae) não apresentaram atividade frente ao radical livre DPPH. Os extratos de Blechnum brasiliense (Blechnaceae), Cyathea atrovirens (Cyatheaceae), Dicranopteris flexuosa (Gleicheniaceae), Sticherus penniger (Gleicheniaceae), Microgramma vaccinifolia (Lycopodiaceae), Rottboelia cochinchinensis (Poaceae) e Adiantopsis radiata (Pteridaceae) apresentaram forte atividade antioxidante frente ao DPPH (+++). Elyonurus muticus (Gramineae) apresentou atividade moderada (++) e Microgramma Lindbergii (Lycopodiaceae) apresentou fraca atividade antioxidante (+).  

 

CONCLUSÕES:

O teste com DPPH é um método muito conveniente para selecionar moléculas com atividade  antioxidante devido ao fato da reação poder ser observada visualmente em cromatografia de camada delgada comum. O radical DPPH é reduzido pelos antioxidantes pela doação do hidrogênio para formar a molécula reduzida em sua forma estável. Compostos com atividades antioxidantes tornam-se cada vez mais necessários na prevenção de doenças, uma vez que têm se ampliado as condições ambientais que ocasionam maior exposição das pessoas aos efeitos de agentes oxidantes, tais como: intensificação da incidência de radiação ultravioleta devido à destruição da camada de ozônio; poluição da atmosfera com óxidos de nitrogênio e ozônio troposférico, entre outros. O presente estudo revelou que materiais obtidos a partir de vegetais que florescem em Mato Grosso do Sul apresentam atividade antioxidante, tendo potencial para uso como fontes destas substâncias. Entre estes vegetais de possível interesse para obtenção de agentes antioxidantes foram identificados: Blechnum brasiliense (Blechnaceae), Cyathea atrovirens (Cyatheaceae), Dicranopteris flexuosa (Gleicheniaceae), Sticherus penniger (Gleicheniaceae), Microgramma vaccinifolia (Lycopodiaceae) e Rottboelia cochinchinensis (Poaceae) e Adiantopsis radiata (Pteridaceae) visto que todos estes apresentam forte atividade antioxidante frente ao radical livre DPPH.

Instituição de fomento: FUNDECT-MS
 
Palavras-chave: Vegetais de MS; Antioxidantes naturais; DPPH.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006