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E. Ciências Agrárias - 4. Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca - 5. Recursos Pesqueiros e Engenharia de Pesca

Caracterização dos currais de pesca do município de São Caetano de Odivelas/Pará.

Marcos Ferreira Brabo 1
Fernando Almeida Rodrigues 1
João Vicente Mendes Santana 1
(1. Centro Federal de Educação Tecnológica do Pará/CEFET-PA)
INTRODUÇÃO:

Os rios Amazonas e Tocantins deságuam no Oceano Atlântico na costa norte do Brasil, entre os Estados do Pará e Amapá. Esta área é chamada de Estuário do Amazonas e estende-se na linha de costa destes estados formando um ambiente aquático complexo com alta produtividade biológica, que suporta uma biomassa substancial de espécies de peixes e crustáceos exploradas por frotas artesanais e industriais estabelecidas em ambos estados. Esta região é considerada uma das regiões mais produtivas do país. O município de São Caetano de Odivelas está localizado na Mesoregião Nordeste do Pará, Microregião do Salgado, em pleno estuário amazônico. Dista 70 km em linha reta da cidade de Belém, capital do Estado. Tem na atividade pesqueira sua principal fonte de ocupação e renda, sendo a rede de emalhar, o curral de pesca e o espinhel os principais métodos de captura. Os currais são artes fixas de pesca que fazem parte da paisagem da praia, às vezes tendo até registro em sua carta náutica, consiste numa grande armadilha com várias peças formando compartimentos específicos, com contexturas de varas, toras de madeira, cipós vegetais e esteiras. O presente estudo objetivou caracterizar os currais de pesca do município de acordo com sua localização, formato, dimensão e material utilizado.

METODOLOGIA:

O trabalho foi realizado no município de São Caetano de Odivelas no período de 01/05/05 a 01/10/05. Os levantamentos foram feitos junto a proprietários de currais e pescadores pertencentes à Colônia Z-4, através de entrevistas e aplicação de questionários, além de observações feitas em campo e revisão bibliográfica. Para a caracterização das armadilhas, considerou-se quanto à localização; quando são instalados na margem do rio, “currais de beira”, quando são localizados em locais estratégicos afastados que secam com a baixa-mar, “currais de fora”. Existem ainda as linhas de currais, geralmente dois ou três no mesmo local, ou seja, o segundo inicia no depósito do primeiro e assim sucessivamente, nesse caso o primeiro é considerado “curral da beira”, o intermediário, “curral de meia-carreira” e o último, “curral de fora da linha de currais”. Quanto ao formato; quando formados de duas espias (peça que se projeta em linha reta com intuito de impedir a passagem do peixe) e um depósito (dependência de forma circular em que o peixe fica preso), são chamados “enfias”, quando formados de uma única espia, uma sala (compartimento que fica antes do depósito) e um depósito no centro, são chamados “coração” e quando formados de uma espia, uma sala e um depósito na lateral, são chamados “cachimbo”. Os currais do município que apresentam mesmo formato geralmente possuem dimensões parecidas, aqueles que destoam e possuem menor porte são denominados “cacuris”.

RESULTADOS:

Antes da implantação da armadilha realiza-se uma série de observações essenciais, dentre as quais: tamanho e declividade da margem, tipo de substrato, flutuação da maré, influência da correnteza e do vento. Sendo esses fatores, aliado a disponibilidade de capital, os principais responsáveis pelas características peculiares do curral. Ao final do levantamento constatou-se que no município existem 166 currais de pesca e um total 105 curralistas. De acordo com a localização, são 136 currais de beira e 30 currais de fora, havendo 24 linhas de curral, tendo 24 currais de beira, 9 currais de meia-carreira e 24 de fora da linha. Em relação ao formato, são 126 do formato coração, 12 do formato cachimbo e 28 do formato enfia. De acordo com dimensão, são 19 cacuris e 147 currais. As madeiras mais utilizadas para construção das armadilhas no município são: a sapucaia (Lecythis pisonis), o inajá (Maximiliana maripa), a araracanga (Aspidosperma desmanthum), o bacurizeiro (Platonia insignis), o tento (Ormosia paraensis), o breu (Protium sp.), a cariperana (Licania micrantha), a geniparana (Gustavia augusta), a vassourinha (Scoparia dulcis), o bambu (Bambusa vulgaris), o tinteiro (Laguncaria racemosa), o mangueiro (Rhizophora mangle) e a siriubeira (Avicennia germinans). Os principais cipós vegetais são: o titica (Heteropsis jenmanu), o piririca (Doliocarpus spraguei), o vermelho (Fridericia speciosa), o branco (Doliocarpus major) e o alho (Lundia obliqua).

CONCLUSÕES:

Observou-se que o grande número de currais de beira em relação aos currais de fora se dá principalmente pela diferença nos custos de implantação e manutenção, a maior quantidade de currais no formato “coração” é em função do tamanho e declividade de margem que predomina no município. Quanto ao material a ser utilizado para construção do curral de pesca, a cultura local, a vida útil, a disponibilidade e o custo são os fatores que mais influenciam na escolha, uma constatação importante é que muitos curralistas em troca de um maior custo/benefício passaram a usar materiais como cordas de plástico ou nylon e redes de puçá camaroeiro substituindo o cipó vegetal de suas armadilhas.

Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Curral-de-pesca; Materiais utilizados; Recursos Pesqueiros.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006