IMPRIMIR VOLTAR
E. Ciências Agrárias - 6. Zootecnia - 4. Produção Animal
ASPECTOS DO CONHECIMENTO DE APICULTORES SOBRE O MANEJO DE RAINHA E A SANIDADE DA ABELHA AFRICANIZADA EM DUAS REGIÕES CATARINENSES
Marília Therezinha S. Padilha 1
Natasha Rovena da Silva 2
Ione Iolanda dos Santos 1
José Carlos F. Padilha 1
(1. Departamento de Zootecnia - Universidade Federal de Santa Catarina-UFSC; 2. Companhia Integrada de Desenvolvimento Agrícola de Santa Catarina-CIDASC)
INTRODUÇÃO:
O desenvolvimento da apicultura brasileira teve início com a introdução de raças européias de abelhas (Apis mellifera). Porém, a inadaptabilidade ao clima brasileiro dos híbridos destas raças repercutiu numa baixa produtividade, que só aumentou a partir da introdução de uma raça africana (Apis mellifera scutellata). A abelha africanizada resultante, apesar de ter características externas similares à européia, apresenta características fenotípicas comportamentais diferenciadas, como comportamento higiênico, alo-limpeza e comportamento defensivo da abelha africana. Essas características têm minimizado problemas de sanidade em sua criação. No entanto, o desconhecimento sobre o melhor manejo ainda é expressivo no país, implicando em problemas como redução do índice populacional das colméias, maior incidência de problemas sanitários e queda da produção de mel, pólen e própolis. O presente trabalho procurou, a partir de um estudo de caso, em duas regiões catarinenses com expressão na atividade, Urubici e Joinville, obter um perfil do conhecimento do apicultor, sobre o manejo da abelha africanizada, enfatizando aspectos ligados à rainha e sua relação com a sanidade.
METODOLOGIA:
Santa Catarina tem aproximadamente, 30.000 apicultores e cerca de 5000 são associados na Federação das Associações de Apicultores de Santa Catarina. Procurou-se fazer uma amostragem e realizar entrevistas e visitas a dois grupos de 15 apicultores cada, selecionados através de sorteio nas associações envolvendo duas regiões: região serrana, abrangendo produtores de Urubici e Bom Retiro e a região litorânea, composta por apicultores de Joinville e municípios próximos. O processo de investigação dividiu-se em duas etapas: a primeira consistiu em uma entrevista com aplicação de um questionário e a segunda, na realização de visitas aos apiários, com o acompanhamento do apicultor. Avaliou-se o conhecimento do apicultor sobre o manejo de rainha: identificação de falhas ou ausência de postura; realização do manejo de substituição; marcação de rainhas e identificação de colméias zanganeiras e suas ocorrências. O manejo foi classificado em básico e especial. O primeiro consistiu em realizar a revisão/substituição de rainha no mínimo a cada dois anos; identificar/controlar sua entrada no apiário e relacionar/prevenir o aparecimento de colméias zanganeiras. O segundo foi aquele adquirido através de cursos em uma área apícola específica.
RESULTADOS:
Percebeu-se que 53,3% dos apicultores na região de Urubici e 40,8% na região de Joinville tem conhecimento menos aprimorado e realizam apenas o manejo básico. O outro contingente divide-se em 40% na serra e 39% no litoral que sabem o manejo porém não o realizam integralmente. Pôde-se observar que 6,7% dos apicultores na região de Urubici e 13,3% da região de Joinville são aqueles que executam de modo mais adequado o manejo de rainha. Estes últimos estão entre os que fizeram mais cursos apícolas aprofundados. Nenhum dos apicultores entrevistados faz marcação de rainhas. Há um número de apicultores (46%) que demonstraram perceber falhas ou ausência de postura de rainha e sabem o manejo para sanar. A grande maioria sabe a importância da troca de rainhas velhas por novas, especialmente de outros locais para diminuir a consangüinidade, realizando manejo de substituição através de produção própria e, às vezes, comprando. Na região serrana 53% dos apicultores declararam que a ocorrência de colméias zanganeiras é rara, enquanto na região litorânea 46,7% disseram ocorrer todos os anos. Mais de 85% dos apicultores sabem identificar colméias zanganeiras e 60% deles, em ambas as regiões sabem controlar. Como as revisões não são metódicas, a freqüência do fato não pode ser devidamente avaliado. Mais de 20% dos apicultores nas duas regiões chegam a locais onde as colméias encontram-se vazias e não sabem o que aconteceu.
CONCLUSÕES:
A maior parte dos apicultores entrevistados, nas duas regiões, não tem conhecimento de manejo aprimorado, necessitando de cursos apícolas aprofundados para aumentar seu conhecimento. A maioria demonstra perceber falhas ou ausência de postura de rainhas; faz a substituição de rainhas velhas por novas sem marcá-las e identifica colméias zanganeiras sabendo controlá-las. No entanto, a distância entre os apiários não permite a periodicidade das visitas e revisões de colméias, repercutindo no estado sanitário das abelhas. Segundo os apicultores, a menor freqüência de visitas e revisões deve-se principalmente à insegurança em fazer mais gastos sem certezas da produção e do preço dos produtos apícolas na safra. O comportamento diferenciado das abelhas africanizadas e a substituição ocasional de rainhas tem minimizado os problemas sanitários decorrentes das dificuldades que impossibilitam o apicultor de realizar o manejo adequado em seus apiários.
 
Palavras-chave: Apicultura; Sanidade; Abelha africanizada.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006