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D. Ciências da Saúde - 8. Fisioterapia e Terapia Ocupacional - 1. Fisioterapia e Terapia Ocupacional

IMPLICAÇÃO DA DOR NO COTIDIANO E NOS ESTADOS DE HUMOR DE ATLETAS LESIONADOS

Viviane Pacheco Gonçalves 1
Sabrina de Oliveira Sanches 1
Evânea Joana Scopel 2
Alexandro Andrade 1
Alessandra Bertinatto P. Fonseca 1
Daniela S. Szenészi 2
(1. Universidade do Estado de Santa Catarina - UDESC; 2. Universidade Federal de Santa Catarina - UFSC)
INTRODUÇÃO:

A ocorrência de lesão pode atingir o atleta em qualquer circunstância e modalidade esportiva. Quando esta ocorre o atleta pode experimentar algum tipo de dor, sendo que a extensão desta será determinada em parte pela gravidade da lesão, pela reação do atleta à dor, pela sua percepção da dor e pelas circunstâncias em que a lesão ocorreu (PRENTICE, 2002). Além disso, para os atletas, a lesão pode ter um significado que envolve não só sua sensação de dor, mas também o comprometimento com o time, com o técnico, patrocinadores e conseqüentemente com a insegurança quanto a salários e empregos (MARKUNAS, 2003). Devido a isso, atletas em período de recuperação de lesões podem ainda apresentar sentimentos de raiva e confusão, negação, culpa, isolamento social, dentre outros, sugerindo, dessa forma, que atletas lesionados podem apresentar alterações em seus estados de humor (PETITPAS e DANISH, 1995) que, por sua vez, podem dificultar a evolução do tratamento e recuperação. Considerando que a lesão e a dor decorrente desta podem interferir tanto em aspectos da vida diária, bem como nos estados de humor, este estudo objetivou verificar a implicação da dor no cotidiano e nos estados de humor de atletas lesionados.

METODOLOGIA:

Esta pesquisa caracteriza-se por um estudo de campo de caráter descritivo. A amostra foi do tipo intencional, sendo constituída por atletas de futebol de campo amadores e profissionais, que atuavam em diferentes clubes de futebol da Grande Florianópolis. Fizeram parte da amostra 14 atletas do gênero masculino com idade média de 18,7 anos (-15+23), todos apresentando lesões decorrentes da prática esportiva (tendinite e entorse de tornozelo, luxação de ombro, lesão de ligamento cruzado e lateral do joelho, distensão e contratura da coxa, pubalgia e pós-operatório de quadril e joelho) com diferentes níveis de gravidade e queixa de dor. Os atletas avaliados encontravam-se afastados do treinamento e participando de tratamento fisioterapêutico, em diferentes fases de recuperação.  A avaliação da influência do processo da dor no cotidiano dos atletas foi realizada por meio da utilização do item “Impacto da dor na vida do paciente”, presente no questionário intitulado Questionário de Dor McGill (versão Brasileira) traduzido e adaptado por Castro (1999). Para a avaliação dos estados de humor, utilizou-se o POMS (Profile of Mood State), traduzido por Peluso (2003). Os dados foram tratados por meio de estatística descritiva (media, freqüência e desvio padrão) e inferencial.

RESULTADOS:

No que diz respeito à influência da dor no cotidiano dos atletas lesionados, 57% consideraram que a dor interfere totalmente no trabalho. Além disso, os atletas perceberam um pouco a influência da dor na qualidade do sono (35,7%) e moderadamente na locomoção (42,9%).  Quanto à tolerância a dor, 42,9% dos atletas afirmaram ser um pouco difícil e 35,7% dos atletas diziam ser difícil tolerar a dor. Com relação aos estados de humor, observou-se que os atletas avaliados apresentaram maior vigor e tensão, o que não necessariamente indica alterações de humor. Não foram encontrados resultados estatisticamente significativos quando foram relacionados os estados de humor com “perda de dias e prejuízo no trabalho”, “auto-cobrança para voltar a jogar” e “tolerância à dor”. Contudo, a análise qualitativa dos dados permitiu identificar relações entre as variáveis analisadas. Assim, os atletas lesionados que perderam dias de trabalho apresentaram maiores índices de depressão, raiva, tensão e confusão mental respectivamente, quando comparados aos que não perderam dias de trabalho, da mesma forma, os jogadores que sentiram seu trabalho prejudicado pela dor, decorrente da lesão, também apresentaram índices elevados de tensão, raiva, depressão e confusão mental, respectivamente e, por fim, os atletas com maior auto-cobrança para voltar a jogar apresentaram maiores índices de depressão, raiva e vigor quando comparados aos atletas que se auto avaliaram com menos cobrança para voltar a jogar.

CONCLUSÕES:

Verificou-se, na presente pesquisa, que o aspecto do cotidiano dos atletas lesionados mais afetado pela dor foi o trabalho. Embora a estatística inferencial não tenha demonstrado diferenças significativas, a análise qualitativa dos dados permitiu observar que os atletas que apresentaram perda de dias e prejuízo no trabalho e maior auto-cobrança para voltar a jogar demonstraram alterações de humor.

 
Palavras-chave: Dor; Lesão; Estados de Humor.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006