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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

CONHECER PARA LIBERTAR: CULTURA POPULAR, EDUCAÇÃO E ROMANTISMO POLÍTICO

José Willington Germano 1
Cláudia Roseane Pereira de Araújo Capistrano 2
Pablo Cruz Spinelli 3
Thalita Costa da Silva 4
(1. Professor Drº. do Departamento de Ciências Sociais/ UFRN; 2. Graduada do Departamento de Serviço Social/ UFRN; 3. Graduando do Departamento de Educação/ UFRN; 4. Graduanda do Departamento de Ciências Sociais/ UFRN)
INTRODUÇÃO:

O trabalho é um recorte do projeto de Pesquisa “Em Busca das Raízes Culturais do Povo Brasileiro: As Afinidades Românticas da Educação Popular”. Analisa quatro dos principais movimentos de educação e cultura popular no Brasil do início da década de 1960: o Centro Popular de Cultura da UNE; o Movimento de Educação de Base; o Movimento de Cultura Popular; a Campanha de Pé no Chão Também se Aprende a Ler/RN. Deteremos-nos em dois destes movimentos – o CPC/UNE e MCP/PE. Os anos que antecederam o golpe civil-militar de 1964 se caracterizaram por um amplo processo de mobilizações reformistas sociais e políticas no Brasil. Surgem e se desenvolvem no país, principalmente no nordeste brasileiro, esses movimentos cujos propósitos se baseavam na idéia de “conhecer para libertar”, procurando inverter o quadro de injustiça social e transformar a situação existente, mediante a mobilização das reformas de base. Compreendia-se que a dominação não era apenas econômica e política, à medida que ela se traduzia também como uma dominação cultural. Nesse sentido, conhecer implicava em buscar o que foi perdido, ou seja, as raízes culturais do povo brasileiro. Esse quadro vai repercutir, evidentemente, no campo educacional. Dessa maneira, torna-se de especial relevância estudar os movimentos de educação e cultura popular desse período, em virtude de pressupormos que se constituíram como símbolo romântico da libertação nacional tão almejada naquele espaço temporal pelas forças políticas reformistas.

METODOLOGIA:
Do ponto de vista teórico-metodológico privilegiamos abordagens relacionais à medida que a pesquisa trata de atores sociais, dos movimentos de educação e cultura popular, que atuam no espaço público, cujas visões e interesses são definidos e redefinidos constantemente no jogo relacional. O aporte teórico está ancorado nas contribuições de Thompson (1998) e de Canclini (2000) no tocante à análise da cultura popular, bem como de Bobbio (2004) e seus colaboradores no que diz respeito ao romantismo político. Recorre-se também à contribuição de autores que trataram de educação e de cultura popular nos anos 60, a exemplo de Bandeira (2001), Barcelos (1994), Fávero (1983), Galvão (1994), Germano (1989; 2002; 2004), Góes (2000). Do ponto de vista empírico fizemos uso de fontes documentais escritas a exemplo de textos produzidos por esses movimentos e por intelectuais a eles vinculados, tais como: artigos de jornais, livros, discursos, depoimentos, entrevistas, manifestos e semelhantes. O sentido geral da metodologia adotada é fazer uma análise comparativa entre os movimentos de educação e cultura popular mencionados.
RESULTADOS:
O Movimento de Cultura Popular emergiu em maio de 1960 em Pernambuco, período no qual Miguel Arraes foi prefeito da cidade do Recife de 1960 até 1962, neste mesmo ano o qual se elege governador do Estado de Pernambuco, mantendo-se até 1964 quando foi deposto pelo golpe civil-militar. O MCP, contou com o apoio e financiamento do poder público no contexto de notável ascensão democrática. No que consta, o Centro Popular de Cultura - CPC/UNE, foi integrado por estudantes em 1962 através da União Nacional dos Estudantes/UNE e idealizado por um grupo de intelectuais, artistas e militantes de esquerda. Constatamos que no MCP/PE havia uma diretriz para atingir os objetivos do projeto de transformação fomentando a conscientização social do povo mediante a articulação entre o aporte teórico e as atividades práticas. Observamos tanto no MCP/ PE como CPC/ UNE certo teor daquilo que Hobsbawn (1997) chamará de  “tradições inventadas”, na qual as culturas genuínas são re-elaboradas pelos intelectuais do movimento. No tocante ao Centro Popular de Cultura da União Nacional dos Estudantes, constata-se que ele buscava no que era denominado arte popular revolucionária a essência do povo brasileiro. Para o CPC, a cultura popular teria um papel fundamental na conscientização e no comprometimento político do povo brasileiro no sentido das realizações das reformas sociais e de libertação nacional.
CONCLUSÕES:
Para o MCP o movimento popular produziria um movimento de cultura popular voltado para atender aos interesses estruturais do povo brasileiro mediante a escolarização e valorização da cultura do povo. Logo, a concepção de cultura popular produzida neste movimento assemelhava-se àquela do CPC, visto que esta valorizava uma cultura para o povo. Esse parentesco concernia na idéia de que só o povo poderia resolver seus problemas, mas as referências ideológicas deveriam ser adequadas às suas realidades (guiada por uma vanguarda intelectual). Observe-se ainda, que a educação popular era tida como parte integrante da cultura popular. Tratava-se de resistir à dominação de classe, ao domínio estrangeiro, ao imperialismo e à transplantação cultural. No entanto, ocupavam-se em produzir uma cultura para o povo que contribuísse para a transformação social, com a diferença que no segundo havia uma imposição mais elitisada do que se entendia de cultura popular. Este é o sentido de cultura popular, com base na qual a educação popular deveria se nortear. Havia em seu cerne a valorização do processo de conscientização social através daquela cultura para que houvesse recusa social do presente e busca de um futuro diferente. A cultura popular, além de ser voltada para a politização das massas, tinha uma conotação da busca pelo espírito do povo e da intimidade coletiva no que concernia à libertação da nação brasileira. Isto torna evidente os liames entre aqueles movimentos e o romantismo político.
Instituição de fomento: CNPq
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Movimentos de Educação Popular; Cultura Popular; Romantismo Político.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006