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G. Ciências Humanas - 9. Sociologia - 3. Sociologia do Desenvolvimento

GESTÃO SOCIAL, PODER LOCAL E AS VÁRIAS AGENDAS DE DESENVOLVIMENTO: MEDIAÇÃO E TENSÃO DE INTERESSES NO PARQUE INDUSTRIAL DE BARCARENA/PARÁ.

Eunápio Dutra do Carmo 1, 2
(1. CENTRO UNIVERSITÁRIO DO ESTADO DO PARÁ - CESUPA; 2. CONSELHO REGIONAL DE ADMINISTRAÇÃO - CRA)
INTRODUÇÃO:

O presente trabalho é uma análise crítica sobre gestão social tecida na relação tensa entre dois atores sociais com potencial articulação político-social, são eles: a empresa Pará Pigmentos S/A e a Comunidade de Curuperé. O território amazônico, por ambos atores ocupado, se configura como tradicionalmente impactado por grupos econômicos com repercussão nacional e internacional. De acordo com Becker (1990) e  Castro e Acevedo (1989), a Amazônia compõe a rede e a pluralidade de poder espacialmente localizado com dimensões globais. É neste contexto de poder local que são analisadas as ações de gestão social da Comunidade de Curuperé e como essas ações são pensadas, a partir do contraponto feito com base na posição dos grupos econômicos, entendendo-as como processo de desenvolvimento que mobilizam outras organizações, cuja atuação coletiva pode ser híbrida ou complexa (Hage apud Fischer, 2002), o que encoraja iniciativas de gestão de processos de desenvolvimento social, enquanto fenômeno social, a qual se constituem em campo de práticas e de conhecimento emergentes, por envolver construções inventivas de novas realidades sociais, ambientadas em campos de forças sócio-políticas em permanente disputa, cuja atuação das organizações perpassa pela possibilidade de novos desenhos organizacionais e modelos de gestão.

METODOLOGIA:

O locus de pesquisa é o município de Barcarena, espaço em que se dá o processo político dos (re) arranjos a respeito da ação no espaço/local, com o qual a pesquisa se ocupou como referencial empírico de análise. Para instrumentalizar a pesquisa, lançou-se mão da revisão da literatura, priorizando os temas: desenvolvimento local como agenda de múltiplas possibilidades e práticas (Silveira, 1997, 2000; Franco, 2001; Bocayuva, 2001; Cocco, 2001) e gestão social e as práticas das comunidades locais como indutoras de processos estratégicos de inclusão social (Dowbor, 1999, Schommer, 2000; Zapata, 2002). Considerando o seu caráter qualitativo, sobretudo por tentar compreender o dinamismo dos sujeitos envolvidos, os dados coletados foram de natureza primária e secundária, dentro deste enfoque metodológico e mediante os seguintes instrumentos: pesquisa documental, entrevista semi-estruturada e observação simples, acompanhando diretamente a realidade vivida naquele território. Assim, procedeu-se a análise dos dados que foi baseada na interpretação crítico-argumentativa, após a organização e depuração dos mesmos, inclusive com o recurso da análise do conteúdo para perceber a posição dos atores sociais e seus interesses diante da concepção de desenvolvimento e como os seus projetos estão refletidos na lógica terrritorial.   

RESULTADOS:

De ordem teórica, confirmou-se que a espacialidade é um tributo de produção social e em Barcarena, isso toma corpo na tensão de interesses distintos e politicamente estabelecidos. No plano empírico, observou-se que, guardadas as devidas proporções aos conceitos de gestão social e desenvolvimento local, há a predisposição para horizontalidade e descentralização, empoderamento, democratização e atuação ética como práticas de articulação estratégica, sobretudo para caracterizar aspectos da percepção da gestão social, cujo foco é imprescindível para o conceito de desenvolvimento local. Por outro lado, observou-se ainda que para dar densidade a esses aspectos, há um forte trabalho de formação de capital social e humano, buscado através da cooperação emancipadora  e na pedagogia social, visando aproveitar a acumulação de capital cultural estruturante de instituições e modos de vida social. Pode-se perceber também, a incorporação dos conceitos e práticas pela empresa, mediante novos planos institucionais de caráter comunitário, desencadeando novas práticas de inserção da empresa com as comunidades do entorno, o que, por sua vez, exige das mesmas novas mediações políticas e mudança de comportamento. Constata-se, portanto, não obstante ao acirramento da competição no território, é visível o portagonismo da Comunidade de Curuperé, a partir da potencialização dos saberes do território (capital social), criando condições de uma agenda de inclusão social.

CONCLUSÕES:

A Comunidade de Curupé tem sua geografia do local alterada por processos de desterritorialização e reterritorialização, provocados pela acumulação ampliada do capital em escala global promovida por empresas transnacionais, o que por si só reestrutura a circulação do capital e as configurações espaciais. Partindo dessa análise, com base nos dados levantados sobre as experiência da Comunidade nas ações de organização social, participação cidadã, formação política e mobilização social, reveladoras da prática de gestão social em curso, pode-se dizer que trata-se da compreensão do local ora como espaço de reprodução da dinâmica do capital, ora como “arena para políticas de resistência social”. O entrelaçamento dessas teias sociais constitui a trama política que expressa as relações de poder e suas dinâmicas que redistribuem poder sobre o território ocupado. Na nova territorialidade política, cenário em que está ambientado este trabalho, existe uma questão central, que serve de pano de fundo para a discussão aqui apresentada: em que medida a noção de desenvolvimento local e participação dos cidadãos são partes de uma transformação democratizante do espaço local?( (Ascelard, 2002). As respostas  podem estimular novas agendas de pesquisa e ações futuras, inclusive para germinar novas formas de resistência social, com ênfase no capital social e humano, capazes de mobilizar diversos atores, especialmente às populações locais, em torno de programas de desenvolvimento social.

 
Palavras-chave: GESTÃO SOCIAL; DESENVOLVIMENTO LOCAL; PODER LOCAL.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006