A educação básica no Brasil vive um dilema que, por muitas vezes, desorienta tanto os profissionais da educação, quanto sua clientela: preparar os alunos para disputa de mercado, ou “humanizá-los” para a sociedade? Buscar uma alternativa que contemple a ambos é sempre um desafio a ser vencido. Seguindo nesta linha de raciocínio, a Escola Estadual Jardim Iguatemi, localizada na periferia da zona leste da cidade de São Paulo, vem a mais de quatro anos desenvolvendo uma pedagogia interdisciplinar que utiliza projetos anuais como eixo temático, tanto em seu ensino fundamental quanto no ensino médio. A série de projetos teve início no ano de 2002 com “Os Escritores”, em 2003, “Os Pintores”, em 2004, “Os Países” e, em 2005, com o projeto “Os Cientistas”, a escola conseguiu mobilizar educadores, alunos, pais e comunidade numa clara ação em que a descoberta e o gosto pelo aprendizado são os principais objetivos.

No ano de 2005, o projeto “Os Cientistas” foi adotado por todas as disciplinas e envolveu toda a comunidade escolar da unidade. Cada classe/turma, coordenada por um professor, cujo papel era o de simples mediador, teve um cientista patrono. Os educandos, principais atores do projeto, pesquisaram a vida e obra do cientista, bem como suas implicações em nossa história ou no nosso cotidiano e realizaram várias atividades durante o ano letivo. No primeiro bimestre, foram realizadas duas atividades: a pintura de uma imagem, que representasse o cientista, numa parte do muro da escola e, uma apresentação da biografia e obra do patrono, para os demais alunos. No segundo bimestre, foi realizado o simpósio de educação científica, onde foram convidados especialistas em diversas áreas, como: engenharia genética, química, espeleologia, botânica, etc., para palestrar em prol do desenvolvimento científico para os educandos. No terceiro bimestre, cada turma se mobilizou em eleger um representante para participar dum fórum científico, ampará-lo com embasamento teórico e interagir com todos os alunos numa série de perguntas e respostas. Finalizando o projeto, no quarto bimestre cada turma pôde representar seu cientista patrono com um experimento que remetesse à sua principal descoberta. Neste último momento foram apresentados experimentos como galvanização, laboratório de fotografia, planetário, demonstração da teoria da relatividade, entre tantos.

Os trabalhos desenvolvidos ao longo dos quatro bimestres foram registradas por meio de trabalhos escritos, registros fotográficos e relatórios, reunidos em portfólios individuais que passaram a integrar o acervo da biblioteca escolar. Em dezembro, foi organizada uma feira de ciências onde a comunidade escolar teve papel de destaque. Os educandos se mostraram capazes de: realizar pesquisas de fato, confrontando dados e extraindo conclusões; trabalhar em grupo, respeitando opiniões e aptidões; traçar paralelos, creditando valor ao trabalho científico.

Pôde ser notada, por parte dos educandos, uma maior preocupação com o dia-a-dia escolar, pois viam seus semelhantes como agentes transformadores da realidade escolar. O projeto “Os Cientistas” provou que o trabalho interdisciplinar é a melhor maneira do aluno se apropriar do conhecimento. Além disso, o fez pensar como um cientista, pois, por vários momentos, estiveram diante de um problema e tiveram que criar situações para resolvê-lo. A conclusão desse projeto referenda o fato de que, mesmo em locais com pouco recurso financeiro é possível que a população aprenda a aprender; com isso tendo condições para atingir seus objetivos, sejam eles uma sociedade mais humanizada ou disputa de mercado.