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C. Ciências Biológicas - 11. Morfologia - 5. Histologia

Aspectos morfológicos do tubo digestivo da lagartixa Hemidactylus mabouia (Moreau de Jonnès, 1818) (Reptilia, Squamata, Sauria, Gekkonidae)

Sirlene Souza Rodrigues 1
Rhayany Barbosa Bastos 1
Clóvis Andrade Neves 1
(1. Departamento de Biologia Geral, Universidade Federal de Viçosa, Viçosa – MG.)
INTRODUÇÃO:

Hemidactylus mabouia, vulgarmente conhecida como lagartixa, é uma espécie exótica de fácil obtenção que pode ser utilizada como modelo para estudo de répteis. Existem muitos trabalhos referentes à sua distribuição geográfica e populacional e sobre aspectos ecológicos e comportamentais, porém poucos retratam a aspectos morfológicos desta espécie, não tendo sido encontrados na literatura referência à morfologia do seu trato digestivo. Dentre os aspectos morfológicos do trato digestivo, é particularmente importante a realização de estudos envolvendo o sistema nervoso entérico e as células enteroendócrinas, uma vez que o controle dos eventos secretores e motores envolvidos na digestão e absorção dos nutrientes dependem da ação e interação dos sistemas nervoso e endócrino. Os plexos nervosos submucoso e mioentérico, que em conjunto compõem o sistema nervoso entérico, são constituídos por gânglios nervosos interconectados por uma rede de fibras nervosas. As células enteroendócrinas, por sua vez, são encontradas no epitélio de revestimento do tubo digestivo e podem ser classificadas em argentafins (capazes de reduzir diretamente soluções de prata) e argirófilas (capazes de absorver sais de prata, que então podem ser reduzidos por adição de uma substância química com capacidade redutora).O presente trabalho teve por objetivo descrever a morfologia do tubo digestivo de H. mabouia, com ênfase nos aspectos neuroendócrinos.

METODOLOGIA:

O material biológico consistiu de dez exemplares adultos de Hemidactylus mabouia, com comprimento corporal de 50-70mm, que foram sacrificados conforme método rotineiro do laboratório, mediante o uso de anestésico. Os fragmentos do tubo digestivo foram coletados e fixados em solução de Bouin e em solução de formol tamponado a 10%, ambos por 24 horas, à temperatura ambiente. Após a fixação, os fragmentos foram processados conforme procedimento histológico de rotina para inclusão em parafina ou em resina. Com o auxílio de micrótomo rotativo manual, foram obtidos cortes de 5mm de espessura do material incluído em parafina e cortes de 3mm do material incluído em resina. Os primeiros foram corados com Hematoxilina-Eosina (H-E) e os segundos com azul de toluidina, visando a descrição histológica panorâmica dos órgãos do tubo digestivo e a identificação dos gânglios nervosos. Também foram empregados métodos histoquímicos para glicoconjugados ácidos e neutros (técnicas de Alcian Blue (AB) pH 2,5 e 0,5; e Ácido Periódico de Schiff - PAS), para proteínas (xylidine Ponceau (XP)) e para células enteroendócrinas argirófilas (técnica de Grimelius) e argentafins (técnica de Masson Fontana modificado). A descrição histológica dos segmentos do tubo digestivo e a obtenção de fotomicrografias foram realizadas com auxílio de microscópio óptico BX-60 (Olympus).

RESULTADOS:
O esôfago, com cerca de 10 mm, possui região cranial dilatada. O epitélio é ciliado com células caliciformes produtoras de muco. Nas porções média e caudal, o epitélio é simples prismático com células mucosas com pequenos grânulos. Na lâmina própria há glândulas acinosas com células produtoras de muco neutro e células que secretam proteínas. A muscular da mucosa é delgada com uma camada de músculo liso na porção cranial; e duas nos demais segmentos do tubo digestivo. A túnica muscular é constituída de músculo liso e torna-se mais espessa próxima ao estômago, onde é mais desenvolvida. O estômago, em forma de “J”, mede 18 mm em seu maior eixo, possui o mesmo tipo de epitélio do esôfago caudal, embora não responda ao AB. Glândulas na lâmina própria possuem células PAS e XP positivas, em diferentes posições. O intestino delgado mede cerca de 54 mm de comprimento, não contém glândulas e o epitélio é composto basicamente por uma camada de enterócitos e células caliciformes com muco ácido e neutro, mais numerosas na região caudal. O intestino grosso mede 20 mm. Possui a porção inicial mais dilatada e a porção final termina numa válvula antes da cloaca. O epitélio é similar ao do intestino delgado, com mais células caliciformes. O conjuntivo contém muitos linfáticos, linfócitos e mastócitos. Células endócrinas argentafins ocorrem na região pilórica e no início do intestino delgado. Gânglios nervosos pequenos ocorrem na submucosa e na muscular, sendo mais abundantes no estômago.
CONCLUSÕES:
O tubo digestivo da lagartixa é similar ao de outros répteis, sendo portanto um excelente modelo para estudos morfológicos desta classe. O epitélio de revestimento do esôfago cranial é ciliado e possui células caliciformes. Nesta região não ocorrem glândulas na lâmina própria. A morfologia das regiões média e caudal do esôfago se assemelha ao estômago. O epitélio de revestimento tem o mesmo aspecto, embora o tipo de secreção seja diferente, pois no estômago as células mucossecretoras não reagem ao AB, como no esôfago. As glândulas do esôfago são acinosas, enquanto as do estômago tendem a ser tubulosas, contudo os tipos celulares parecem ser os mesmos, com células PAS e XP positivas e AB negativas. Os intestinos não possuem glândulas nem vilosidades, sendo recobertos por pregas, que são mais altas e finas no intestino delgado. As células caliciformes são mais numerosas no intestino grosso e são PAS e AB positivas. Células enteroendócrinas argentafins foram observadas exclusivamente na região pilórica e no início do intestino delgado. Inesperadamente estas células não responderam à técnica de Grimelius para células argirófilas. Os gânglios dos plexos mioentérico e submucoso se distribuem ao longo do tubo digestivo, entretanto são pequenos e pouco freqüentes e se concentram mais na túnica muscular do estômago.
 
Palavras-chave: células enteroendócrinas ; gânglios entéricos; histoquímica.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006