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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social

Acolhimento Psicológico na Delegacia da Mulher - violência Doméstica e doença de “amar demais”

Mariana Macedo Nunes  1
Lícia Nery Fonseca  1
Mariama Sousa Amâncio  1
Rafael Santos Carrijo  1
Tânia Mendonça Marques  1, 2
(1. Instituto de Psicologia - Universidade Federal de Uberlândia (UFU).; 2. Professora Mestre )
INTRODUÇÃO:

Acobertada pela cumplicidade da sociedade e pela impunidade, a violência contra a mulher ainda é um fenômeno pouco visível. Esse problema social e de saúde pública, representa um fenômeno mundial que não respeita fronteiras de classe social, raça/etnia, religião, idade e grau de escolaridade. O livro “Mulheres que Amam Demais” de Norwood (2003) apresenta ao longo dos onze capítulos, casos de pacientes da terapeuta Robin Norwood que sofreram da patologia de amar demais, isto é, que sofreram por serem obcecadas pelos seus companheiros a ponto de terem suas emoções e seu comportamento prejudicados. A combinação dessa doença “amar demais” com a violência doméstica, provocam na mulher um constante mal-estar emocional e uma tensão muito grande. Assim, esse trabalho se torna relevante devido à necessidade de se compreender como esse fenômeno da violência doméstica da mulher se relaciona com a patologia denominada por Norwood de “amar demais” e o que isso pode provocar na mulher. Dessa maneira, o presente estudo tem por objetivos verificar as questões relacionadas ao fenômeno da violência, como também compreender e verificar a coexistência do processo da violência contra a mulher associado à doença denominada por Norwood (2003) de “amar demais”.

METODOLOGIA:

Foram realizados 5 acolhimentos psicológicos na Delegacia da Mulher de Uberlândia-MG, onde freqüentemente se recebe mulheres vítimas de violência e agressão familiar (marido ou companheiro). O acolhimento psicológico foi realizado com as mulheres vítimas de violência doméstica que compareceram à Delegacia para registrarem queixa/ocorrência contra o agressor. Esses acolhimentos foram baseados em um questionário elaborado pela professora Dra.Tânia Mendonça Marques (FAPSI- UFU). O questionário contém questões demográficas e outras questões formuladas de acordo com pressupostos dos objetivos do estudo.

RESULTADOS:

Os resultados desses acolhimentos revelaram a forte relação entre o fenômeno da violência e o que é apresentado por Norwood em sua obra “Mulheres que Amam Demais”. As características principais encontradas nas queixas foram: a) a grande maioria das mulheres não denuncia seus companheiros na primeira agressão, sendo que a queixa geralmente é depois da terceira ou quarta agressões (80%); b) as mulheres relataram ter experimentado durante o relacionamento a necessidade de agradar o companheiro (60%); c) mesmo sofrendo com a violência a maioria das mulheres se sentem culpadas pelo fracasso dos seus relacionamentos (60%); d) grande número de mulheres relatou que seus parceiros (companheiros) faziam uso abusivo de álcool (60%); e) mulheres relataram que suas mães passaram pelos mesmos problemas, sendo que quando crianças às vezes tinham que fugir com a mãe das ameaças dos pais (40%).

CONCLUSÕES:

Os resultados evidenciam que ainda hoje, mesmo com um grande acesso à informação e com  todos os espaços ocupados pela mulher, a maioria tem dificuldades de denunciar a violência que sofreram por seus companheiros, seja por vergonha ou descrença com relação à situação de impunidade. Além disso, os acolhimentos apresentaram uma relação muito próxima com os assuntos apresentados por Norwood em “Mulheres que Amam Demais” (2003), mostrando que em muitos casos os comportamentos dessas mulheres em seus relacionamentos necessitam de um atendimento mais sistematizado, para que não venham a sofrer futuras agressões com outros companheiros; isto é, é preciso tratar a doença de “amar demais” nessas mulheres para que pelo menos, a possibilidade de vir a sofrer disso no futuro diminua.

 
Palavras-chave: violência; mulher; amar.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006