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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

AÇÕES EDUCATIVAS PARA O USO DE MEDICAMENTOS

Nevoni Goretti Damo 1
Magda do Canto Zurba 2
Stela Maria Meneghel 1
(1. Programa de Pós-Graduação em Educação/FURB; 2. Departamento de Psicologia/UFSC)
INTRODUÇÃO:

Os medicamentos constituem parte importante dos recursos terapêuticos disponíveis, como forma de reencontro do homem com seu bem-estar físico e mental, por isso, constituem-se em um dos fatores importantes e de impacto na resolutividade dos serviços de saúde no Brasil. O acesso a este recurso não ocorre de forma justa e racional, principalmente, por serem caracterizados como mercadoria, ou seja, um bem econômico destinado à venda, já que a lei 599/1973 caracteriza as farmácias e drogarias como estabelecimentos comerciais. No Brasil, as equipes do PSF enfrentam grandes desafios relacionados ao uso de medicamentos. Neste contexto, a educação em saúde para o uso de medicamentos pode colaborar na percepção dos consumidores e profissionais, para a identificação das diversas dimensões que os medicamentos assumem em nossa sociedade capitalista e, também, na mobilização de autocrítica para determinados hábitos, reavaliando-os transformando conhecimentos novos em qualidade de vida. As ações educativas ao uso de medicamentos constituem-se em valiosa contribuição exercida por profissionais de saúde e têm papel importante no contexto econômico, social e político, que dizem respeito a mudanças no modelo assistencial vigente, hegemônico, prestado à sociedade. Diante do exposto, o objetivo deste trabalho é desenvolver conhecimentos que aprimorem as ações educativas em saúde em relação ao uso de medicamentos, discutir e contribuir com a equipe no sentido de implementar as ações educativas ao uso de medicamentos à sua prática cotidiana.

METODOLOGIA:

A pesquisa foi desenvolvida junto a uma equipe de profissionais do PSF de Blumenau/SC constituída por um médico generalista, uma enfermeira, duas auxiliares de enfermagem e seis agentes comunitários da saúde, durante as atividades de um programa de extensão da Fundação Universidade Regional de Blumenau, denominado Assistência Farmacêutica Domiciliar. O PSF atende a aproximadamente 1400 famílias, tendo em média, 3,9 pessoas por família e está afastada a aproximadamente 10 km do centro da cidade. A equipe trabalha com grupos na comunidade sendo este o “maior espaço” para atividades educativas. A pesquisa de abordagem qualitativa teve como método a observação participante e como instrumentos a entrevista, e o diário de campo. As observações estenderam-se de maneira contínua, algumas vezes no período matutino e outras no vespertino durante o ano de 2005. Nas visitas domiciliares, junto às Agentes Comunitárias da Saúde, as observações foram registradas em diário de campo e deram subsídios para a interpretação e análise das ações educativas desenvolvidas no cotidiano dessas profissionais, sobre o uso de medicamentos. As observações feitas durante o atendimento no Posto de Saúde, deram lugar para anotações, também no diário de campo, dos demais profissionais da equipe do PSF estudado. Dentre as ações educativas observadas destacou-se os seguintes aspectos: a) Forma de interação/diálogo com a população atendida; b) Tipos de conhecimentos vinculados nos momentos da prática; c) Percepção dos profissionais sobre sua prática.

RESULTADOS:

Na análise dos dados foram levantadas e discutidas as evidências encontradas, no que se refere às categorias indicadas. a) As práticas educativas relacionadas ao uso de medicamentos executadas pelos profissionais foram utilizadas nos diversos espaços e nas mais diversas formas, porém nem sempre capazes de mudanças significativas do modelo assistencial curativo, hegemônico, centrado na figura do médico. b) Diversos fatores interferem no processo de compreensão das informações prestadas aos usuários, dentre eles pode-se destacar a forma de comunicação, a confiança e as condições de implementar as orientações à cerca dos seus problemas de saúde podem interferir diretamente no sucesso do tratamento medicamentoso e também no retorno de pacientes ao serviço. Não há receitas prontas o mais importante é a percepção do contexto de cada usuário. c) Percebeu-se, nas fala dos profissionais, que a Educação em Saúde no uso de medicamentos possui função relevante, no entanto, é diversificado o entendimento de como, enquanto prática social, a educação pode colaborar para o uso dos medicamentos. Os profissionais de saúde podem ser vistos como facilitadores do processo de educação no uso dos medicamentos, para tanto é necessário desenvolver ações de transformação da realidade social a partir do diálogo entre saber científico e o saber popular.

CONCLUSÕES:

Os dados coletados e analisados nas categorias sinalizam que, as ações educativas desenvolvidas por profissionais de saúde desse PSF em relação ao uso de medicamentos, são utilizadas em distintos espaços e são concebidas como um instrumento no desenvolvimento das atividades do cotidiano desses profissionais, porém são práticas educativas voltadas para a utilização do medicamento mediante uma necessidade identificada por profissional da saúde voltadas ao autocuidado, sem sugerir uma abordagem mais abrangente dos fatores determinantes do uso de medicamentos, que contemplam aspectos do comportamento social e do mercado, o que muitas vezes podem incorre-se em riscos, por contrariar-se interesses, o que certamente nem todos estão dispostos – Educação e Saúde. De acordo com as abordagens do estudo, a Educação em Saúde, deve possibilitar ao indivíduo identificar aspectos relacionados ao autoconhecimento e autotransformação permitindo o desenvolvimento de conhecimentos sobre medicamentos, que torne possível construir uma postura crítica em relação às necessidades do consumo. Considerando que a intervenção educativa deve respeitar as necessidades, especificidades e individualidades não há um modelo único e universal de proposta educativa ao uso de medicamentos, entretanto a conscientização e participação efetiva dos atores envolvidos no processo é um requisito ímpar para a garantia de práticas educativas que visem à promoção e prevenção da saúde na comunidade.

 
Palavras-chave: Educação ; Saúde; Medicamentos.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006