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F. Ciências Sociais Aplicadas - 2. Economia - 11. Economia

A “LATINIZAÇÃO” DA ARGENTINA

Camilla dos Santos Nogueira 1
Parlei Busatto Prando 1
Rodrigo Delpupo Monfardini 1
(1. Departamento de Economia/UFES)
INTRODUÇÃO:

Observando a repentina recuperação e as elevadas taxas de crescimento econômico da Argentina apresentadas recentemente nos principais veículos da mídia, tenta-se analisar a fundo se o crescimento é seguido por uma melhora nas condições de vida da população. Comparando o período iniciado na década de 90 do século passado até atualmente, busca-se constatar se a evolução do PIB observado no pós-crise vem proporcionando melhorias na renda do trabalhador, diminuição do desemprego e subemprego e modificação nos níveis de pobreza de modo a recuperar as perdas socias sofridas com a crise. A pesquisa visa corroborar que “crescimento não determina desenvolvimento”, no sentido de distribuição de renda e de modificações significativas na estrutura da sociedade, fato incrustado nos processos políticos da América Latina.

METODOLOGIA:

A pesquisa apresenta uma análise do processo econômico argentino desde a década de 90 até os dias atuais, passando pela crise econômica desencadeada em 2001. Como fonte de pesquisa foram utilizados artigos obtidos eletronicamente (Internet), dados estatísticos de órgãos governamentais da Argentina, livros e indicações de professores e conhecimentos já adquiridos através da participação de dois dos autores na pesquisa realizada no OID (Observatório Internacional da Dívida Externa). No trabalho busca-se fazer uma comparação entre alguns indicadores econômicos antes e depois da crise, centrando a análise na variação do PIB, no rendimento médio real do trabalhador, na taxa de desemprego e subemprego, na quantidade de indigentes e de pessoas abaixo da linha da pobreza. Destarte, o trabalho está dividido em quatro partes: um prévio estudo do processo político do período já delimitado seguido por uma observação da evolução dos dados econômicos no pré-crise, crise e pós-crise. Finalmente, com os resultados obtidos na coleta de dados, constroem-se conclusões e busca-se entender a realidade sócio-econômica atual da Argentina.

RESULTADOS:
Os dados obtidos mostraram que a Argentina passou por um crescimento vertiginoso, que em 2004 e em 2005 foi de 9%, e o nível de produção de riqueza apresenta-se 12% maior que o observado em 1999, superando portanto os níveis anteriores aos da crise. O rendimento médio real cresceu aproximadamente 3% no ano de 2004 e no ano de 2005, portanto não acompanhando proporcionalmente o crescimento do PIB no mesmo período. Dado a não recuperação do rendimento médio real, o contingente de pobreza atingiu 27% em maio de 1999, período de estabilidade econômica no país,  e o número de indigentes correspondia a 7,6% da população. Em 2002 os níveis de pobreza manifestaram uma porcentagem de 57,5 e o de indigentes de 27,5%. Esses níveis são reflexos da crise que ocorria no período. Até 2004 constatou-se que os índices não haviam sobrepujado as conseqüências da crise, pois os níveis de pobreza e de indigência mantiveram-se elevados, ainda em relação a 1999. No que tange os níveis de emprego, averiguou-se que apesar do decréscimo na taxa de desemprego nos últimos anos o subemprego apresentou-se 18,8% em maio de 2003, aproximadamente 50% maior que em maio de 1990.
CONCLUSÕES:
Com base nos dados analisados observou-se que a despeito do crescimento do PIB argentino, do nível de emprego e da renda média real do trabalhador, a riqueza mantém-se mal distribuída, atingindo atualmente o maior nível de concentração de renda da história do país. A distância entre os mais ricos e os mais pobres vem aumentando, e concomitantemente outros indicadores de pobreza como número de indigentes, de pessoas abaixo da linha da pobreza e de precarização do trabalho na forma de sub-emprego não recuperaram os números anteriores a 2001, período da crise. O crescimento econômico nesses anos fundamentou-se na recuperação da capacidade produtiva que se tornou ociosa após a crise e no reaquecimento do setor exportador, que favorece um grupo restrito e não visa benefícios diretos à população em relação a uma política que prioriza a produção de bens de consumo voltada para o mercado interno. Portanto a Argentina após a crise vem passando por um processo de “latinização”, decorrente da precarização do trabalho e do rebaixamento do nível de vida da população, distanciando-se do antigo padrão europeu que vivia, aproximando-se ainda mais das condições de vida presentes na América Latina.
Instituição de fomento: PET - Programa de Educação Tutorial
 
Palavras-chave: Argentina; Crescimento econômico; Distribuição de renda.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006