IMPRIMIR VOLTAR
C. Ciências Biológicas - 5. Ecologia - 3. Ecologia Terrestre
ECOLOGIA DE Liolaemus occipitalis (SQUAMATA: TROPIDURIDAE) NAS DUNAS DA PRAIA DA JOAQUINA, ILHA DE SANTA CATARINA, SUL DO BRASIL
Félix Baumgarten Rosumek 1, 2
Jacó Joaquim Mattos 1
Paulo Eduardo Pereira Faria 1
Hugo Borghezan Mozerle 1
Maurício Eduardo Graipel 1, 3
(1. Universidade Federal de Santa Catarina; 2. PET-Biologia / UFSC; 3. Departamento de Ecologia e Zoologia - CCB / UFSC)
INTRODUÇÃO:
O Gênero Liolaemus possui grande riqueza na América do Sul, mas apenas três espécies ocorrem no litoral atlântico, com reduzida distribuição. Liolaemus occipitalis (Boulenger, 1885) é um lagarto diurno, de pequeno porte, que ocorre nas dunas costeiras de parte de Santa Catarina e Rio Grande do Sul. Estes lagartos dependem da vegetação para termorregulação e proteção contra predadores, sendo observada a tendência de desaparecerem em áreas muito degradadas. A distribuição restrita e o endemismo em relação ao ecossistema de restinga, extremamente ameaçado pela ação antrópica, fizeram com que L. occipitalis fosse incluído na Lista Brasileira de Espécies Ameaçadas, na categoria "vulnerável". Torna-se importante conhecer a biologia e ecologia da espécie, para sua conservação e para analisar o estado de degradação de seu hábitat. Na Ilha de Santa Catarina, L. occipitalis ocorre nas dunas da Praia da Joaquina. Estas estão sob forte pressão ambiental, em razão de seu potencial turístico e imobiliário. Parte da área seja considerada Parque Municipal, mas a falta de fiscalização e de um plano de manejo faz com que haja uso descontrolado do local, com impactos pouco conhecidos no ambiente. O objetivo deste trabalho é estudar, ao longo de um ano, a população de L. occipitalis nas dunas da Praia da Joaquina, com o método de captura, marcação e recaptura. Inclui-se neste objetivo o estudo dos padrões demográficos, do período de atividade dos animais e de sua associação com a vegetação.
METODOLOGIA:
A Praia da Joaquina é ladeada por dunas semi-fixas, cobertas por uma típica vegetação de restinga, que estendem-se por toda a praia (cerca de 3 a 4 km) e continuam em faixa mais estreita, ao sul, indo em direção à Praia do Campeche. A área de estudo está localizada dentro do Parque Municipal das Dunas da Lagoa da Conceição. O trabalho de campo foi feito em duas áreas de 250x30m, paralelas e separadas 15m entre si. De dezembro de 2005 a março de 2006 foram feitos sete períodos de coleta, cada um com dois dias. Em cada período, ambas as áreas foram percorridas por dois pesquisadores (trabalhando independentemente na metade de cada área) em quatro horários: 8:00, 10:30, 13:00 e 15:30. O tempo médio necessário para percorrer cada área foi de uma a duas horas, variando de acordo com o número de capturas obtido. Dessa forma, a padronização do método foi feita pela distância percorrida. Para a coleta dos dados, foram utilizadas as capturas (através de coleta manual) e os avistamentos. Tomou-se nota do horário do encontro e tipo de substrato. Os animais capturados foram sexados, medidos (CRC - comprimento rostro-cloacal), marcados através do corte de falanges distais e soltos. As tocas encontradas durante a busca visual foram marcadas e analisadas quanto ao tipo de substrato e vegetação associada.
RESULTADOS:
Capturou-se, no total, 45 fêmeas e 43 machos, num total de 141 capturas e 54 avistamentos. A capturabilidade mínima foi de 21,0±34,1%. A razão sexual não diferiu significativamente (Qui-quadrado, p=0,8312). O CRC médio das fêmeas foi de 4,696±0,995cm e dos machos 4,717±1,382cm. Não houve diferença significativa no tamanho dos indivíduos, comparando os dois sexos (Mann-Whitney, p=0,3392). Quanto ao horário das capturas (n=131) e avistamentos (n=50), 25,4% ocorreram no primeiro intervalo do dia, 19,9% no segundo, 30,4% no terceiro e 24,3% no quarto. Neste caso, não foram levados em conta os animais encontrados dentro das tocas. A diferença encontrada não foi significativa (Kolmogorov-Smirnov, p>0,05). Das tocas encontradas (n=42), 45,2% estavam associadas a Conyza sp., 28,6% a Tibouchina urvilleana, 16,7% a Spartina sp., 4,8% a Achyrocline sp. e 2,4% a Dodonaea viscosa. Em relação às capturas e avistamentos, sem contar aqueles em que o animal foi encontrado próximo a tocas (n=130), 30,8% estavam em ambiente de areia com Spartina sp., 29,3% associados a Conyza sp., 10,0% a T. urvilleana, 23,0% a outros tipos de vegetação e 6,9% em areia nua, sem vegetação próxima. 10,0% dos encontros ocorreram em locais onde a areia do substrato apresentava alta umidade, sendo 6,9% próximos à vegetação de borda de lagos temporários. Os outros encontros ocorreram em areia seca. Apenas uma toca foi encontrada em areia úmida, o restante em areia seca.
CONCLUSÕES:
Um acentuado dimorfismo sexual de tamanho é observado em adultos de outras populações de L. occipitalis. Neste trabalho não houve diferença significativa, tendo-se incluído todas as faixas etárias no cálculo da média populacional. Isso pode indicar que o dimorfismo acentua-se na maturidade sexual e os filhotes apresentam pouca diferença de tamanho. Pouca variação na atividade foi encontrada ao longo do dia. Geralmente, espécies de lagartos de pequeno porte evitam as horas mais quentes do dia. No caso de L. occipitalis, sua associação com plantas pode permitir que usem a vegetação para se protegerem do calor excessivo, permitindo-lhes permanecer ativos durante um extenso período do dia. As moitas de Conyza sp. são amplamente utilizadas pelos animais, incluindo a escavação de tocas. Tais arbustos apresentam um intrincado conjunto de ramos, próximos ao substrato, criando um ambiente favorável para um animal pequeno se proteger. Seu sistema radicular, bem como o de T. urvilleana, é bem ramificado, permitindo a escavação de tocas estáveis em meio ao solo arenoso. Porém, T. urvilleana não forma moitas compactas, o que pode explicar por que os animais não são encontrados tão frequentemente próximos às tocas, como em Conyza sp. A baixa capturabilidade e grande proporção de novas capturas, em relação às recapturas, indica uma grande população residente. Um período maior de pesquisa é necessário para distinguir com precisão os aspectos populacionais de L. occipitalis na área de estudo.
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Liolaemus occipitalis; Ecologia; Restinga.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006