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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 1. Administração Educacional

TERRITORIALIDADE DA GESTÃO EDUCACIONAL: PERCEPÇÕES E VIVÊNCIAS NAS RELAÇÕES DE PODER NA EDUCAÇÃO PÚBLICA DE CRUZ ALTA/RS

Elena Maria Billig Mello 1
Daniela Durigon 1
(1. Curso de Pedagogia-UNICRUZ. Mestre em Educação. Orientadora da Pesquisa.)
INTRODUÇÃO:

A proposição de políticas públicas para a constituição de uma gestão participativa é um desafio a todos.  Ao preocuparmo-nos com a gestão das escolas, temos que considerar a própria concepção de gestão e refletir sobre como é colocada em prática e as relações possíveis estabelecidas entre saber/poder. Nesse sentido, a relevância desta pesquisa está em oferecer espaços-tempos de reflexão sobre as percepções dos atores e autores do processo educativo público, com fundamentação teórico-prática atualizada, embasada em autores que discutem sobre gestão em uma perspectiva crítica, como Paro, Freire, Dourado, Veiga, Lima,  Foucault, Bujes. Objetivamos investigar percepções e vivências da gestão educacional nas escolas públicas de Cruz Alta/RS na perspectiva do poder emanado, a fim de delinearmos novos devires de poder/saber; além de analisar as políticas públicas voltadas à gestão escolar; refletir sobre os dispositivos praticados quanto às relações de poder entre professores da educação básica e equipes administrativo-pedagógicas da escola pública e os saberes daí advindos; verificar a participação da comunidade escolar e local na gestão escolar e seu envolvimento na constituição do contexto educativo.

METODOLOGIA:

Metodologicamente esta pesquisa caracteriza-se por ser uma investigação-ação, com abordagem qualitativa. A amostra da pesquisa foi constituída por 10 escolas públicas municipais e estaduais, escolhidas aleatoriamente através de sorteio, e, no mínimo, por 25% dos docentes de cada escola. Realizamos entrevistas semi-estruturada com a Secretária Municipal de Educação de Cruz Alta (SME), com a Coordenadora Regional de Educação da 9ª CRE, com os diretores e supervisores pedagógicos das escolas públicas selecionadas; e aplicamos um questionário, contendo questões abertas e fechadas, aos professores da educação básica das referidas escolas. As entrevistas com os diretores, os supervisores, a Secretária Municipal  de Educação, a Coordenadora Regional de Educação foram realizadas pela pesquisadora e a bolsista de iniciação científica em visitas às escolas e aos demais órgãos administrativos. Os questionários foram distribuídos aos professores e recolhidos posteriormente; com isso, nem todos retornaram, percebendo-se o “descaso” e/ou a falta de compromisso e vivência com a pesquisa em escolas públicas. Como indicadores investigativos, que permearam a elaboração dos instrumentos da pesquisa e a análise dos resultados, tivemos: práxis das/nas unidades gestoras; trabalho da direção e supervisão; projeto político-pedagógico; percepções de poder; concepção de gestão, relações de poder e saberes educativos.

RESULTADOS:

O discurso dos entrevistados é “democrático”, mas as ações são decididas pela equipe diretiva. O conselho escolar está implantado em todas as escolas pesquisadas, com atuação incipiente, pouca relevância, seus membros somente referendam o que já foi decidido anteriormente pela direção, voltando suas ações às áreas administrativa e financeira, isentando-se nas discussões pedagógicas, apresentando menor relevância do que o CPM. Há incoerência nas respostas relativas à gestão escolar, pois, ao mesmo tempo em que os professores colocam que as decisões são tomadas coletivamente (considerado aspecto positivo), revelam, como ponto negativo, a centralidade da gestão no diretor. Os professores preocupam-se com a falta de recursos financeiros e materiais nas escolas, interferindo no trabalho pedagógico. Para que ocorra a gestão democrática é necessário a eleição de diretores e a construção coletiva do projeto político-pedagógico, desconsiderando importante uma maior participação dos pais, alunos e funcionários nos processos decisórios escolares. A autonomia escolar é compreendida diferentemente pelos investigados, considerando que não existe devido às escolas estarem atreladas a determinações do sistema. A SME considera-a bastante complexa, sendo a gestão democrática uma instância para vivenciá-la; a CRE destacou-a ligada ao aspecto administrativo-financeiro, enfocando que os diretores ao serem eleitos consideram que podem (des)mandar, até por desconhecerem o saber que advém do poder.

CONCLUSÕES:

Levantamos alguns pontos básicos (in)conclusivos, que deverão, posteriormente, ser aprofundados: a gestão escolar está centralizada no diretor; o professor ainda é culpabilizado pelas situações negativas que acontecem na escola e, na educação em geral, tem que se adaptar às novas situações e determinações normativas; o distanciamento das concepções “poder e saber”, como se acontecessem em instâncias diferenciadas, o que vem de encontro com as idéias de Bujes (2003) ao colocar que o poder só é possível se vier sustentado por um campo de saberes; concepções superficiais de gestão, cultura escolar, autonomia e democracia; a ênfase na necessidade da coletividade ser verdadeiramente vivenciada nas escolas; a eleição de diretores percebida como essencial na gestão democrática, mas que gera muita angústia, intrigas e distanciamentos, principalmente, entre os professores; a participação da comunidade, através de instâncias colegiadas, é muito principiante, sem ou com pouco envolvimento tanto nas decisões quanto nas ações propostas. Em geral, observamos um distanciamento entre o que se diz e o que se faz em relação à gestão escolar, pois o discurso da maioria dos sujeitos investigados foi muito cuidadoso, procurando atender ao que é estabelecido, ao que está instituído; enquanto que, na prática, sabemos que o instituinte é o mais importante, e isso é pouco percebido, revelando que tipo de cultura organizacional acontece nas instituições educativas públicas.

Instituição de fomento: BIC/FAPERGS (Bolsa de Iniciação Científica/Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado do Rio Grande do Sul).
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: gestão escolar ; poder; educação pública.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006