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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 12. Ensino de Ciências

A UTILIZAÇÃO DE ATIVIDADES EXPERIMENTAIS E A RELAÇÃO TEORIA E PRÁTICA POR  PARTE DE UM GRUPO DE PROFESSORES DE FÍSICA DO ENSINO MÉDIO DO MUNÍCIPIO DE SANTARÉM (PA)

 

Cláudia Castro 1
Elinei Santos 2
(1. UFPA-Campus de Santarém. Membro do Projeto Contexto Amazônico /TE-02; 2. Dr. pela USP, docente da UFPA. Coordenador do Projeto Contexto Amazônico /TE-02)
INTRODUÇÃO:

De acordo com os Parâmetros Curriculares Nacionais para o Ensino Médio (PCNEM, 1999) o ensino de Física no nível Médio deve desenvolver nos indivíduos a capacidade de interpretar fatos, fenômenos e processos naturais levando-os a compreensão dos avanços tecnológicos do cotidiano e apresenta como uma das competências a ser desenvolvida a capacidade de investigação. O PCNEM (1999) também apresenta um cenário do ensino de física no qual se prioriza a teoria e a abstração deixando conceitos físicos, leis e fórmulas como sendo “vazios de significados”. Uma importante ferramenta que pode contribuir na formação dos indivíduos e na transformação da realidade apresentada é o uso de Atividades Experimentais (AE). Apesar da sua importância, esse recurso nem sempre é usado pelos professores, os quais justificam a falta do uso pelos mais diversos fatores e eles estão à falta de equipamentos e o nível de formação. Neste sentido torna-se importante verificar se o ensino experimental está ou não exercendo este papel em Santarém (PA), o que servirá de direcionamento para a busca de melhorias da qualidade do ensino de Física no município. Este trabalho teve como objetivos verificar se os professores de física do ensino médio em Santarém utilizam Atividades Experimentais (AE) nas aulas, caso não utilizem, identificar os fatores que impedem essa utilização, além de verificar se os professores apresentam dificuldade em associar teoria e prática.

METODOLOGIA:

Os dados foram coletados com a aplicação de um questionário a dez professores de Física no nível médio em escolas da rede de ensino público e privado do município de Santarém (PA). O questionário foi composto de duas partes: parte I, referente aos dados do professor e de suas atividades didático pedagógicas e a parte II, um teste de inferência relativo a dois experimentos (A e B). O experimento A abordou a Primeira Lei da Termodinâmica com o uso de um modelo rústico de uma máquina térmica feita com uma lata cilíndrica, com saídas laterais opostas, contendo água, a qual foi suspensa sobre uma fonte de calor. O experimento B abordou o Princípio de Bernoulli usando um aparato feito com uma cuba retangular, contendo água, com entrada e saída de água em laterais opostas e dois barquinhos de isopor presos por fios nas laterais de entrada e saída de água, onde se produziu a diminuição da pressão interna pelo aumento da velocidade do fluido. Na parte I, as questões eram referentes à formação dos professores, tempo de atuação, disponibilidade de espaço físico e equipamentos, utilização e freqüência de AE nas aulas e os fatores que impedem a realização de AE. Na parte II havia questões padrões relativas aos dois experimentos onde foram abordadas a identificação e explicação de conceitos e fenômenos físicos referentes aos experimentos.

RESULTADOS:

Do grupo pesquisado 60% são licenciados em Física e 40% licenciados em Matemática, do total 70% possui espaço físico e material para a realização de AE. Observou-se 60% dos professores utilizam AE; do restante que não utiliza, destaca-se que metade dispõe de infra-estrutura e possui formação em Física. Dentre os fatores que impedem a utilização de AE foram citados: a falta de tempo para preparar AE, dificuldade de planejamento, ausência de laboratório e a dificuldade de associar teoria e prática indicada por um professor. Quanto à freqüência de uso de AE, 50% utiliza a cada dois meses, 16% utiliza raramente ou apenas nas feiras de ciências e 34% dependendo da necessidade. Com o teste de inferência verificou-se que no experimento A, 70% do grupo identificou os conceitos, mas o fenômeno de transformação de energia foi identificado por apenas um professor. Quanto à explicação dos processos físicos, 30% dos relatos mostraram-se incompletos e em 20% dos casos houve apenas a preocupação em mencionar a causa do movimento presente, sem mencionar a lei física associada. No experimento B houve ausência total de identificação dos conceitos para um dos professores e identificação parcial para o restante. Ressalta-se que 30% citaram conceitos e princípios físicos fora do contexto do experimento. Quanto à explicação do experimento B, 30% fizeram apenas descrições, 30% explicaram de forma incompleta, 20% não explicaram, um apresentou explicações erradas e apenas um explicou corretamente.

CONCLUSÕES:

Este estudo sobre o uso de AE nas aulas de Física do ensino médio no Município de Santarém (PA) mostrou que a maioria dos professores utiliza tais atividades, mas há pouca freqüência dessa utilização. Quanto aos docentes que não utilizam AE nas aulas os fatores apontados por eles para a não utilização foram: a falta de tempo para preparação das atividades, dificuldade de planejamento, ausência de laboratório e dificuldade de associar teoria e prática. Com relação aos dados levantados com os dois experimentos para inferência tivemos que, no geral, os professores apresentaram dificuldade em identificar conceitos e fenômenos físicos bem como construir explicações para o que foi observado nos experimentos propostos, onde até mesmo os professores com formação específica na área apresentaram tal dificuldade, o que indica a falta de preparação para se trabalhar com o ensino experimental, ou seja, para associar a teoria com uma situação prática. Nossos resultados mostram a grande relevância de se realizar estudos na área de ensino de física no município de Santarém, bem como apontam para a necessidade de realização de cursos de formação continuada, oficinas, palestras sobre o uso de AE como instrumento metodológico, direcionado a professores que atuam na área de Física em Santarém-Pará.

Instituição de fomento: Experimento de Grande Escala da Biosfera-Atmosfera na Amazônia/LBA
 
Palavras-chave: Atividades Experimentais; Ensino de Física; Relação Teoria e Prática.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006