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G. Ciências Humanas - 4. Geografia - 1. Geografia Humana
REESTRUTURAÇÃO PRODUTIVA E ESPECIALIZAÇÃO DA HORTICULTURA NO MUNICÍPIO DE TERESÓPOLIS, RJ.
José Grabois 1
Lucia Helena da Silva Cezar  1
Cátia Pereira dos Santos  2
Silvia Salles Neves  1
Leonardo da Silva Lima  1
Tatiana Almeida Leal de Souza  1
(1. DCM Instituto de Geociências - Universidade do Estado do Rio de Janeiro / UERJ ; 2. Depto. de Geografia FFLCH Universidade de São Paulo / USP)
INTRODUÇÃO:
Este trabalho, cuja área de interesse é o vale do rio da Formiga, localizado no Vale de Bonsucesso, terceiro distrito do município de Teresópolis, é fruto de pesquisa mais ampla onde se propôs o resgate, desde meados do século XX até a atualidade, das diferentes etapas do desenvolvimento da economia agrária na Serra Fluminense. A horticultura de folhagens dominante no espaço considerado consiste num exemplo didático de especialização decorrente da modernização capitalista. Este processo revelou-se nas transformações ocorridas na estrutura produtiva nas décadas de 1970 e 1990 em parte considerável da Serra Fluminense, especialmente nos municípios de Teresópolis e Nova Friburgo. Neste quadro ressalta a preocupação de como o campesinato criou formas de adaptação aos diferentes contextos que se delinearam no local. A relevância teórica deste estudo de caso reside não só na confirmação da influência decisiva da comercialização - vide especialização - sobre a cadeia produtiva, mas também na comprovação da permanência do campesinato e sua subordinação a outros produtores e ao capital em suas múltiplas feições. Tem, ainda, importância social, constituindo subsídio para implementação de políticas públicas que possam promover a elevação dos ganhos dos trabalhadores rurais.
METODOLOGIA:
De acordo com a proposta da pesquisa e com base na corrente de pensamento que privilegia a permanência do trabalho camponês, abordamos a evolução econômica da área em estudo e seus reflexos nas sucessivas reordenações espaciais e nas transformações sofridas pelo campesinato. Com base no fato de que o estudo geográfico possibilita a percepção dos termos concretos das relações sociedade-espaço, nas quais está implícita a consideração de uma perspectiva histórica e levando em conta no desenvolvimento do estudo o trinômio terra-capital-trabalho, contemplamos os seguintes assuntos: evolução da economia, morfologia agrária, sistemas agrícolas, estrutura fundiária, relações de trabalho, comercialização e impactos ambientais. No sentido de alcançar o que foi proposto, efetuamos inicialmente o levantamento e a análise de material bibliográfico, cartográfico e de dados secundários. Além do trabalho em gabinete e buscando criar condições de maior aproximação possível da realidade, enfatizamos o trabalho de campo, realizado em diferentes etapas. Ele compreende a aplicação e interação permanente de duas técnicas: a realização de entrevistas e a observação direta da paisagem na qual se materializa o processo de produção do espaço.
RESULTADOS:
No bojo do processo de desenvolvimento capitalista a reestruturação produtiva afetou com intensidade variável a Serra Fluminense, manifestando-se em novas formas de comercialização, intensificação dos sistemas agrícolas, alterações nas relações de trabalho com expansão da parceria, pavimentação das rodovias e eletrificação rural. As décadas de 1970 e 1990 foram marcos destas transformações. O vale do rio da Formiga, cuja morfologia agrária revela a forte expansão das hortas pelas encostas do vale principal e dos inúmeros vales transversais, bem ilustra esse processo que se acentuou nos anos 1990. Os custos mais baixos da produção de folhagens em relação à caixaria e a redução do ganho dos produtores face às profundas modificações na comercialização culminaram com a especialização da horticultura nas folhagens. Na raiz da mudança estão os supermercados que abandonaram a CEASA e passaram a se abastecer com grandes atravessadores que são proprietários de armazéns e frotas de caminhões. Dominam a maioria dos produtores e deprimem os preços até o limite. Neste contexto a produção é viabilizada pelo meeiro porque além de trabalhar, paga metade do ‘empate’ e livra o pequeno empresário das desvantagens do assalariamento. Junto a isto, o crescimento do consumo e a intensificação do sistema agrícola, requerendo mão-de-obra mais numerosa, explicam a permanência, em condições quase sempre adversas, de um campesinato ligado a unidades de produção na maior parte de meeiros.
CONCLUSÕES:
Fica novamente comprovada a importância do fator posição, cuja consideração é imprescindível numa abordagem geográfica: o fato do Vale de Bonsucesso ser fortemente influenciado pela proximidade da metrópole do Rio de Janeiro significa que a horticultura é uma resposta, traduzida na modernização, às exigências, em quantidade e variedade, de um mercado consumidor cada vez maior e mais sofisticado. A pesquisa confirma a tese da permanência do campesinato ao verificar, nos últimos vinte anos, a multiplicação do número de unidades de produção camponesa, principalmente de meeiros. Esta permanência, porém, se realiza geralmente em condições de forte exploração já que os preços são cada vez mais deprimidos. Comprova-se, assim, a subordinação dos produtores ao capital comercial. Se a diminuição do número de elos da cadeia de comercialização significou rebaixamento de custos, este benefício não alcança o produtor, que tem o preço de suas mercadorias reduzido. Estes fatos, aos quais se soma a especialização em folhagens realizada por conta desta desvalorização, levam à constatação do papel de comando exercido pelo capital comercial sobre a produção, estando o processo eivado de distorções inerentes ao desenvolvimento capitalista.
Instituição de fomento: CNPq - FAPERJ
 
Palavras-chave: Campesinato ; Comercialização ; Especialização.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006