Este estudo baseou-se em uma testagem da metodologia de Comunicação para Mobilização Social (HENRIQUES, 2002), em instituições do terceiro setor. O objetivo é demonstrar, através da análise dos processos de comunicação para mobilização que, para potencialização das ações em prol das causas defendidas por uma instituição como a Casa da Juventude – entidade sócio-familiar que atua na prevenção à exploração sexual infanto-juvenil em Itaobim, MG – é necessário o envolvimento e a mobilização satisfatória dos atores, que é facilitada por um fluxo de comunicação estabelecido de forma dialógica e participativa. O Programa Pólos de Cidadania é um Programa de Extensão da Faculdade de Direito da UFMG de natureza interdisciplinar e interinstitucional. Atua em comunidades com histórico de exclusão social na região metropolitana de Belo Horizonte – MG e no enfrentamento da exploração sexual infanto-juvenil no Médio Vale Jequitinhonha, por meio do Projeto 18 de Maio (em parceria com o Programa Pólo Jequitinhonha). A pesquisa junto à Casa da Juventude foi viabilizada pelo parceria entre o 18 de Maio e a entidade. Através desse contato identificou-se que algumas das ações empreendidas pela Casa não exploram totalmente seu potencial por falta de fluxos comunicativos efetivos. Tais fluxos auxiliam na constituição de redes sociais sólidas, principal ferramenta para a autonomia dos atores no enfrentamento da exploração sexual.

Entende-se a mobilização como “processo de convocação de vontades para uma mudança de realidade (...). Envolve o compartilhamento de discursos, visões e informações e, por isso, exige ações de comunicação em seu sentido mais amplo”. (TORO e WERNECK, 2004). Assim, instituições como a Casa da Juventude são entendidas como movimentos mobilizadores, em que a comunicação ganha relevância por coordenar ações e fortalecer os vínculos entre os públicos envolvidos. Neste estudo utilizamos a metodologia de pesquisa-ação (THIOLLENT, 2003) – uma das bases metodológicas do Programa Pólos – que consiste na observação para a promoção de ações que interfiram na realidade local, juntamente com os atores envolvidos. Assim, algumas etapas do Projeto foram realizadas em Belo Horizonte, mas o período de produção mais intensa ocorreu durante os dias em que os pesquisadores permaneceram na Casa, o que possibilitou a construção de um planejamento participativo. O trabalho foi divido em: a)Pré-diagnóstico, realizado através de análise documental e entrevistas; b)Diagnóstico, elaborado com base na aplicação de questionários e diálogo com membros da entidade; c)Planejamento, em que se procurou criar canais de comunicação que estreitassem os vínculos de participação; e d)Avaliação, pelo monitoramento das ações por meio de um blog, instrumento que abriu um canal de interatividade com os membros da Casa. A última etapa também foi realizada durante a apresentação do Planejamento à diretoria da instituição.

Visto que o objetivo da pesquisa era avaliar o processo do planejamento de comunicação feito para uma organização do terceiro setor e não a sua implementação, consideramos que os resultados foram obtidos durante o próprio processo e também nos trinta dias que se seguiram. A visita a Casa da Juventude foi realizada entre 15 e 19 de fevereiro de 2006 e, durante este período, alguns indicadores nos permitiram avaliar o processo, tais como: a)a manutenção de um blog – inclusive após o fim da realização do planejamento – que teve como função o monitoramento das ações e a avaliação dos resultados em curto prazo; b)a mobilização dos membros da instituição em relação à importância da existência de um trabalho de comunicação e a conseqüente participação deles no desenvolvimento do planejamento; c) nos trinta dias subseqüentes houveram manifestações positivas advindas dos coordenadores da instituição e o desejo de ampliação da atividade. Os indicadores utilizados na avaliação dos resultados da pesquisa, quais sejam, o nível de participação durante a atividade, o número de acessos de membros da instituição ao blog, o depoimento da diretoria nesse veículo e as manifestações durante a apresentação do planejamento, nos permitiram perceber que as ações de comunicação, quando realizadas de forma participativa e dialógica, assim como descrita pela metodologia, conquistam um espaço importante dentro do processo de mobilização social, na medida em que ganham legitimidade.

De acordo com os resultados obtidos pudemos perceber os apontamentos, a aceitação e a validação do processo de planejamento da comunicação entre a Casa da Juventude e seus públicos. Outro importante instrumento de avaliação foi o blog publicado temporariamente durante e após a viagem a Itaobim. Os depoimentos de técnicos e nossos próprios registros e percepções tornaram dinâmicas, interativas e legitimas as possibilidades de comunicação. As bases deste trabalho estão ligadas diretamente à testagem da metodologia de Comunicação para Mobilização Social, que busca o estabelecimento de ações planejadas, no sentido de garantir um melhor fluxo de informações; a mobilização das pessoas em torno da causa e a conscientização de que soluções podem ser alcançadas através do envolvimento coletivo. Com a utilização da metodologia de pesquisa-ação, que pressupõe uma participação dos sujeitos envolvidos para uma transformação local, propomos um processo comunicativo construído de forma dialógica e participativa. Assim os atores envolvidos, além da motivação na implementação das ações, geram novos vínculos de participação e atuação. Assim, a contribuição da comunicação não obedece a uma lógica instrumental e, por isso, deve ser capaz de gerar possibilidades de integração entre os públicos. A comunicação planejada passa a ser um dos principais elos tanto para auxiliar as ações de atuação da Casa da Juventude, como no processo de transformação da realidade.

Instituição de fomento: Programa Pólos de Cidadania da UFMG, Programa Pólo de Integração da UFMG no Vale do Jequitinhonha e Pró-Reitoria de Extensão da UFMG