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G. Ciências Humanas - 7. Educação - 18. Educação

A IDENTIDADE DE PROFESSORES HOMENS NA DOCÊNCIA COM CRIANÇAS: HOMENS FORA DE LUGAR?

Frederico Assis Cardoso. 1, 2
(1. Fundação Educacional Monsenhor Messias (FEMM) / Sete Lagoas, MG.; 2. Centro Universitário UNA / Belo Horizonte, MG.)
INTRODUÇÃO:
Investigação de mestrado (FaE/UFMG, 2004) que estudou o processo de construção e reconstrução da identidade de professores homens que trabalham na docência com crianças. Seu foco foram os professores homens no segmento do 1º ciclo de formação (crianças de seis, sete e oito anos de idade) da rede municipal de ensino de Belo Horizonte (MG). Utilizando conceitos próprios do campo teórico dos estudos culturais, tais como identidade, diferença, representação e práticas de significação, a dissertação procurou compreender e problematizar os significados do gênero na escola. Em específico, buscou responder a questões relativas aos professores homens: quem são eles? Como constroem (ou reconstroem) sua identidade masculina, atuando em uma profissão socialmente definida como feminina? Em que medida a masculinidade atribui sentidos ao seu trabalho? O argumento apresentado é o de que a identidade dos professores homens é construída em relações de poder, em processos permanentes de conflito de acomodação e resistência em relação à norma masculina.
METODOLOGIA:

A pesquisa utilizou-se da metodologia de pesquisa qualitativa, trabalhando com entrevistas, questionários, observações e registros de campo. Foram feitas nove entrevistas, além de observações em uma escola, entre os meses de março e agosto de 2004. Para analisar o processo de construção, desconstrução e reconstrução da identidade masculina de professores homens, a partir da observação do trabalho docente de um deles e dos depoimentos de nove professores entrevistados, utilizei os estudos culturais e os estudos de relações sociais de gênero. Partindo do pressuposto de que o gênero feminino tem sido construído historicamente na relação com um projeto masculino dominante, pareceu-me importante ressaltar o lugar social em torno do qual as relações entre homens e mulheres têm sido construídas. Isso significa refletir sobre o conjunto de valores assimétricos e hierárquicos a que homens e mulheres estão expostos, às concepções, expectativas, práticas e “papéis” socialmente definidos para um e outro. Ao examinar a feminilidade e a masculinidade sobre tal ótica, tive por objetivo dois princípios: primeiro, compreender que é preciso colocar em dúvida qualquer forma de organização social que hierarquize e torne desigual homens e mulheres. Segundo, ratificar que, na relação social entre eles e elas, nada pode ser dado de maneira natural, sem questionamento.

RESULTADOS:

O estudo evidenciou que as relações de gênero na escola não expressam apenas concepções culturais próprias de uma sociedade ou de uma época. Elas também atuam como forma de contestar ou legitimar certos tipos de papéis socialmente definidos para homens e para mulheres. Assim, os docentes ora se representaram em consonância com a norma social de uma masculinidade estabelecida, ora dela divergiram. É importante ressaltar que, tanto a adesão às normas sociais, como a resistência a elas, não foram processos absolutos que se esgotaram em si mesmos. Tampouco eram processos excludentes. A identidade dos professores é marcada tanto pela acomodação como pela resistência a essas normas. Se, por um lado, as experiências de acomodação não eram cristalinas, devotas e cegas, por outro, a resistência apresentada pelos professores não produzia bruscas rupturas em relação à norma social vigente. Nesse sentido, a fronteira entre a acomodação e a resistência como aspecto constitutivo da identidade dos professores homens era muito tênue. Os professores apresentavam uma identidade conflitante: eles se valiam da acomodação e da resistência ao mesmo tempo ou optavam por uma ou por outra segundo suas necessidades. Nesse sentido, as representações que os professores possuem de homens e de mulheres estão claramente acomodadas nos “papéis” sociais que caracterizam formas de ser masculinas e femininas.

CONCLUSÕES:

Embora construíssem sua identidade de professores homens em processos contínuos de resistência e acomodação às normas culturalmente construídas sobre homens e mulheres, os professores não identificaram o magistério como uma profissão feminina. Também ficou evidente que o trânsito na carreira docente é uma marca da identidade masculina: os professores “fugiam” da alfabetização. Em seu lugar, havia a preferência em assumir aulas de educação física, espaço notadamente ainda demarcado para vivência das masculinidades. Os professores também acessavam os cargos de direção e coordenação, disponíveis nas escolas, com mais “facilidade” que as mulheres. Ocorria, assim, a reprodução das relações sociais de gênero em que os homens continuavam gozando de mais privilégios na hierarquia de cargos com mais prestígio, em funções administrativas de atribuição de controle e poder. Outra característica da identidade dos professores homens dizia respeito ao fato de que eles eram oriundos de classes sociais mais baixas. Todos relataram que as dificuldades financeiras foram um fator importante para a definição de sua escolha profissional. Nesse sentido, a profissão docente representaria tanto uma fuga dos homens de classe popular como uma facilidade ocupacional em tempos de crise do emprego. Também foi possível observar que a representação de magistério e de homens e de mulheres na docência é construída em processos de acomodação e resistência em relação às normas estabelecidas.

Instituição de fomento: CNPq.
 
Palavras-chave: gênero; identidade; professores.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006