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G. Ciências Humanas - 8. Psicologia - 11. Psicologia Social
PERSONALIDADE AUTORITÁRIA E FRIEZA AFETIVA: REFLEXOS DO ENFRAQUECIMENTO FAMILIAR
Aparecida Ferreira Alves 1
Kety Valéria Simões Franciscatti 1
(1. Departamento das Psicologias / DPSIC / UFSJ)
INTRODUÇÃO:
O presente trabalho é decorrente da pesquisa realizada no ano de 2005 intitulada: “Empobrecimento afetivo e instituições asilares: relatos e fragmentos”, que investigou o empobrecimento afetivo propagado pela atual forma de organização social, o sofrimento ocasionado pela frieza instituída, os aspectos que dificultam modificações nos modelos asilares, assim como a forma de tratamento dos internos que apresentam sinais de deterioração de suas identidades devido à permanência nesses locais. Considerou-se o processo de individuação e os vínculos afetivos no entrecruzamento de duas perspectivas: família e contato afetivo, que trata dos obstáculos da formação gerados pelo empobrecimento dos vínculos restritos à adaptação da racionalidade técnica; e, coação, medo e identidade, que trata como a segregação, por meio de instituições opressivas, aciona e intensifica as configurações psicológicas defensivas estabelecidas ao longo de uma formação deteriorada. Com esta base, também foram analisados elementos que indicam a frieza afetiva e certos aspectos da personalidade autoritária, expondo, desse modo, os danos objetivos e subjetivos que recaem sobre o processo de formação do indivíduo.
METODOLOGIA:
Foram coletadas informações sobre a vida dos internos de instituições asilares da cidade de São João del-Rei e região. A coleta de dados foi realizada por alunos do curso de Psicologia, através do Programa de Extensão Universitária, do Estágio Curricular e da disciplina “Psicologia nas Instituições de Saúde”, durante o ano de 2004. Nestas ocasiões, as informações decorrentes de observações institucionais e as conversas com idosos e funcionários das instituições, foram registradas em “diários de campo” redigidos por estagiários que visitavam as instituições periodicamente. Também nestes diários de campo foram feitas descrições detalhadas de dados objetivos e subjetivos sobre o modo de vida de cada interno dentro da instituição. Em seguida, foram analisados os comentários dos internos, bem como dos funcionários e, posteriormente, foram feitos estudos acerca do processo grupal e das possibilidades de individuação, focalizando o empobrecimento afetivo tendo como suporte teórico autores da Teoria Crítica da Sociedade (Adorno e Horkheimer) e a metapsicologia freudiana. Subsidiando a análise institucional, recorreu-se a Goffman. Estes estudos buscavam fundamentar a análise das falas dos idosos, relatos e fragmentos do sofrimento gerado nestas instituições.
RESULTADOS:
Para uma pessoa que nunca teve contato com uma instituição asilar, que a conhece por entrevistas e reportagens, muitas vezes o asilo pode ser considerado o local mais adequado e preparado para o acolhimento de um idoso, pois nesta instituição ele receberia um tratamento específico e se sentiria mais “à vontade” por estar entre pessoas que trabalhariam em seu benefício. Algumas pessoas alegam não terem coragem de internar um parente, por causa da tristeza que poderia ser encontrada dentro do asilo mas, justificando que é a “falta de opção” o elemento decisivo para a internação, “optam” por internar um ente idoso de sua família. As falas dos funcionários revelam que, com o passar do tempo, os idosos acabam abandonados por seus parentes. Ao se ouvir e registrar as falas dos internos, quando estes relatam que todas as horas são ruins e que se sentem à espera da morte, tal abandono é revelado. As barreiras impeditivas do contato dos internos com o exterior e do exterior para com eles, escondem o sofrimento e as mutilações do eu à que os idosos são submetidos. Todos perdem o direito de escolher o que irão vestir, o quê e em que horário irão comer, momentos de dormir e descansar, havendo perda de objetos pessoais e tendo toda a sua aposentadoria redimensionada pela instituição. Fragmentos e relatos como estes impõem um urgente questionamento dos modelos asilares existentes e a investigação acerca do distanciamento entre pais e filhos que ocorre nesta ordem social.
CONCLUSÕES:
A família, instituição mediadora, ao refletir a sociedade e absorver seus valores, ajusta a identidade de seus membros à ordem preponderante. A deterioração dos vínculos afetivos e o amadurecimento precoce exigido pelo mercado, levam o homem a ingressar diretamente nos macrogrupos, obstando ainda mais a experiência. Ao estar na sociedade, com sua formação danificada, sem ter passado pela experiência do contato com o outro, o indivíduo torna-se mais propenso a aceitar o que nela existe de pior. Com o seu ego enfraquecido ele introjeta e projeta toda a barbárie existente. Com o enfraquecimento dos vínculos familiares, a frieza afetiva constitui-se desde cedo: diante da forte necessidade de identificação e pertença aos grupos que pregam a ideologia da ordem vigente, o indivíduo gasta toda a sua energia, fundamental para o seu processo formativo, para, como formação reativa, amar e aceitar essa ordem. As personalidades autoritárias, assim como a frieza afetiva, são produtos do enrijecimento recebido pelo indivíduo durante toda sua vida e que é repassado de forma intensa. Aprisionado nas malhas de alguma instituição opressiva, os idosos são abandonados por seus familiares que, incapazes de questionar e de ousar, submetem-se a uma coação instaurada pela humanidade, rememorada toda vez que o questionamento se faz presente. Assim sendo, também o idoso sofre a exclusão que em dado momento absorveu, aceitou e ajudou a construir.
Trabalho de Iniciação Científica  
Palavras-chave: Teoria Crítica da Sociedade; Idoso; Vínculos Afetivos.
Anais da 58ª Reunião Anual da SBPC - Florianópolis, SC - Julho/2006